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FUTEBOL
Nível de testosterona, responsável pelo aumento da força muscular, cresce em atletas que atuam em seus estádios
Hormônio ajuda time da casa, diz estudo
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Além do apoio da torcida, a
"masculinidade" pode ser um fator adicional para explicar a tendência de as equipes que atuam
em casa vencerem seus jogos.
Sandy Wolfson e Nick Neave,
pesquisadores da Universidade
de Northumbria, na Inglaterra,
mostraram, em um estudo apresentado em março deste ano na
Conferência Anual da Sociedade
Britânica de Psicologia, que o nível de testosterona (hormônio
masculino) dos atletas sofre alterações antes de partidas dentro de
casa. Em jogos realizados fora, o
índice é bem inferior.
A testosterona, responsável pelo
desenvolvimento sexual do homem, também promove o crescimento e a dureza dos ossos, além
de aumentar a força muscular.
Os pesquisadores coletaram
amostras da saliva de jogadores
ingleses sub-19 antes de realizarem seus treinamentos e na véspera de partidas disputadas em
casa e fora e contra adversários
fortes ou rivais mais fracos.
Os índices mais elevados foram
encontrados antes de jogos importantes dentro de casa -16,67
nanogramas por decilitro. O nanograma é a bilionésima parte do
grama. Os níveis mais baixos apareceram nas amostras coletadas
na véspera de partidas contra rivais fracos e fora de casa -8,33, a
metade da outra medida.
"Nós acreditamos que esses índices têm grande impacto sobre o
rendimento da equipe em jogos
dentro de casa", disse Wolfson à
Folha. "Porém outros fatores, como pressão da torcida e a familiaridade com o campo, além da viagem e interrupção da rotina do time adversário, contribuem para
esse efeito", completou.
Para eles, com esses dados nas
mãos, o desafio para os treinadores é conseguir dar motivação a
seus elencos em jogos fora de casa
ou contra adversários mais fracos.
A teoria de Wolfson e Neave pode ser exemplificada no desempenho dos times que disputam os
cinco principais campeonatos nacionais de futebol na Europa
-Alemanha, Espanha, França,
Inglaterra e Itália.
A maior vantagem territorial
pertence às equipes alemãs, que
obtiveram 52,2% de vitórias jogando em seus estádios. Mesmo
nos países em que o fator campo
tem um peso menor há uma nítida vantagem para times que fazem partidas em seus domínios.
No Campeonato Inglês, no qual
as equipes registram o maior índice de derrotas em seu território
-30,5%-, o aproveitamento
em casa é de 42,6%.
Ao atuar em seu campo, os jogadores sentem como se estivessem
lutando por seu espaço. Esse sentimento tende a se intensificar
quando o time pega seus adversários mais tradicionais.
"Sabemos que a testosterona está ligada à dominação e à agressividade nos animais. Nós estamos
tentando mostrar a relação desse
resultado com a territorialidade.
A idéia é que, se você está jogando
em casa, está defendendo seu próprio território", afirmou Neave.
Segundo o estudo, noticiado pela revista britânica "New Scientist", o jogador que atua na posição de goleiro é o que apresenta
níveis mais altos de alteração da
testosterona em jogos em casa e
contra rivais poderosos.
"O goleiro representa o último
obstáculo ao adversário. Consequentemente, é quem sofre a
maior ameaça em seu território,
isto é, tomar o gol. Mas estudamos apenas alguns goleiros. Devemos encontrar mais dados sobre isso", afirmou Wolfson.
Na comparação com as outras
posições, mais uma vez, o goleiro
é um dos que mais sofrem.
"Encontramos variações pequenas entre atletas de diversas
posições. Os goleiros tendem a ter
os níveis mais baixos de testosterona nos treinamentos, mas os
mais altos nos jogos em casa. Os
atacantes possuem os índices
mais altos, em média, em todas as
situações", afirmou Wolfson.
Apesar da tendência orgânica
comprovada para um melhor desempenho dos jogadores em partidas realizadas dentro de casa, os
psicólogos advertem que o excesso de produção do hormônio
masculino também pode ter efeito maléfico nos atletas.
"Teoricamente, se o nível de testosterona chegar a um índice
muito elevado, o jogador estará
excessivamente ativado. Com isso, pode cometer seguidas faltas e
responder de maneira agressiva a
uma provocação do atleta adversário ou à uma decisão do árbitro", contou Wolfson.
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