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TÊNIS
Cícero de Castro conheceu Roddick, que tem "ginga de preto", fazendo massagem e hoje é seu preparador físico exclusivo
Brasileiro impulsiona "meu nego" ao topo
FERNANDO ITOKAZU
TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Novo queridinho do tênis americano, Andy Roddick inicia hoje,
com ajuda brasileira, a semana final de preparação para os quatro
últimos torneios do ano, uma arrancada que pode lhe dar a inédita liderança do ranking mundial.
Para isso, o tenista buscará fôlego em Cícero de Castro, 49, carioca radicado nos EUA há dez anos
e seu preparador físico exclusivo
desde maio do ano passado.
O brasileiro, ao lado de Brad
Gilbert, técnico de Roddick, segue
o tenista em todos os torneios.
"Ele é um garotão, tem 21 anos.
Tem altos e baixos. Tem horas
que é legal, tem horas que enche o
saco", disse Castro à Folha.
Ele conta que se diverte muito
com o pupilo. "Uma vez estávamos em Nova York e ele atravessou a rua dançando break, de costas, imitando o Michael Jackson."
Por causa de sua paixão por
música e dança, Castro deu a
Roddick um apelido inusitado.
"Você não acredita a ginga que ele
tem. Só preto tem aquela ginga.
Eu chamo ele de meu nego."
Casado com uma americana,
Castro conheceu Roddick em
Memphis. "Eu fazia massagens
em um clube que recebe o torneio
da ATP", contou ele. "O Andy
gostou e pediu para o Tarik [Benhabiles, seu técnico à época]
conseguir o meu telefone."
O convite para ser seu preparador físico, no entanto, aconteceu
dois meses depois, um dia antes
de Castro embarcar para o Brasil.
"Me chamaram para ir a Houston, mas, como já estava com passagem, falei que ligaria na volta."
Após ser entrevistado por Jerry,
pai do tenista, Castro fez um estágio com Bob Donatelli, fisioterapeuta de Roddick. Aprovado, começou a trabalhar na Copa do
Mundo de Düsseldorf, em maio.
Castro, que é formado em educação física e nunca tinha se envolvido de fato com o tênis, foi
efetivado por US$ 6.500 mensais.
"Tenho um contrato no papel, escrito à mão pelo pai do Andy."
Após assumir o cargo, indicou
uma nutricionista para alguns
testes. "Descobrimos que ele tinha alergia a laticínios e farinha."
A solução foi trocar toda a dieta.
Além disso, Castro estabeleceu
um programa de preparação física para Roddick, que, ao lado do
britânico Greg Rusedski, possui o
saque mais potente do circuito
(239,7 km/h). "Como ele tem uma
explosão muito forte, focalizamos
a musculação no ombro. Fazemos um trabalho preventivo."
Para cumprir a nova rotina,
Roddick encheu a casa dos pais,
na Flórida, com aparelhos de ginástica e uma mesa de massagem.
Quando está de folga, os treinos
de Roddick consistem em corridas de 3 km, três vezes por semana, musculação diária, trabalho
de movimentação em quadra,
alongamento e massagens.
"O preparo físico é fundamental
para um tenista. Hoje, diria que o
Andy está com 85% da capacidade. Ainda pode ser melhorado",
disse Castro. "Ele é muito disciplinado, dorme cedo, toma vitaminas e não reclama de nada."
O americano provou estar com
fôlego. Na temporada de quadras
rápidas na América do Norte, ele
foi quem mais jogou e venceu (28
partidas e 27 triunfos). No mesmo
período, Gustavo Kuerten atuou
somente nove vezes (perdeu cinco) e reclamou de cansaço.
Castro conta que Roddick gosta
muito de esportes. Em um torneio
durante a Copa, o preparador físico o chamou para ver Brasil x Inglaterra. "Ele sempre levanta tarde e naquele dia acordou cedo para torcer pelo Brasil. Ficou encantado com o Ronaldinho."
Mas Castro também já "sofreu"
com Roddick. Em apostas, já foi
obrigado a raspar o bigode, de
mais de 20 anos, e a cabeça. "No
US Open, prometi que depilaria a
virilha se ele ganhasse, mas ele
disse que não queria ver. Aí mudei de idéia e só raspei a cabeça."
Pára-quedista nas horas vagas,
Roddick convidou o brasileiro
para acompanhá-lo em um salto.
Castro refugou. "Tenho um filho
[Igor, 18] e quero vê-lo formado."
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