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FUTEBOL
Aprender e desaprender
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
São Paulo e Cruzeiro fazem
o jogo mais atraente de hoje.
São candidatos ao título e os que
mais fizeram gols em 2003. O
Cruzeiro fez 50 e sofreu 13. O São
Paulo marcou 44 e levou 21 gols,
segundo o "Estado de Minas".
Os dois times têm desenhos táticos parecidos, mas a defesa do
Cruzeiro é melhor. A principal razão é a qualidade dos defensores.
A outra é que o time mineiro alterna com mais eficiência o avanço dos laterais, dos armadores e
dos laterais com o dos armadores.
Pena que Kaká estará ausente.
Ele e Alex seriam as grandes atrações. Os dois ocupam a mesma
posição, mas têm características
diferentes. Alex é mais surpreendente e inventivo. Tem um passe
mais rápido e preciso. É menor,
mas cabeceia melhor.
Kaká é mais forte, alto, vibrante
e veloz. Movimenta-se por todos
os lados e é mais difícil de ser
marcado. Ganha quase todas as
divididas. Tem mais virtudes físicas e técnicas.
Kaká é Alex são disciplinados e
bem comportados. Fazem os que
os "professores" mandam. Isso é
bom e ruim. Às vezes, o craque
precisa discordar do treinador e
ser contestador, mesmo que seja
dócil e educado.
De vez em quando, por curiosidade e aprendizado, releio o que
escrevi em outra época. Espanto-me com algumas coisas, tanto pela forma quanto pelo conteúdo.
Mudei também alguns conceitos.
Ainda bem. Viver é aprender e
desaprender.
Em 1999, a seleção brasileira
disputava a Copa América no Paraguai, vencida pelo Brasil. O
treinador era Luxemburgo. Os
quatro titulares que jogavam
mais adiantados eram Zé Roberto, Rivaldo, Amoroso e Ronaldo.
Todos continuam na seleção e somente Amoroso não é titular.
Alex e Ronaldinho eram reservas. Alex já era bem conhecido, e
Ronaldinho uma novidade. Lembram do gol de placa contra a Venezuela? Escrevi nesta ocasião:
"Alex e Ronaldinho não são titulares, mas já está escrito que os
dois, Rivaldo e Ronaldo formarão
o quarteto ofensivo da seleção".
Só Alex não brilhou no Mundial.
Não disse isso porque o Ronaldinho tinha feito um gol de craque contra a Venezuela e sim porque ele tinha dado um show de
bola e sido escolhido o melhor jogador do Mundial sub-17. Ele já
era craque. Apenas ficou mais
forte e com os cabelos compridos.
No ano seguinte, escrevi: "Ronaldinho e Alex não são ainda titulares, mas dos dois, Rivaldo e
Ronaldo, o único que corre risco
de não ir ao Mundial-2002 é o
Ronaldo, por causa dos seus problemas físicos".
Ronaldinho e Alex brilharam
no Pré-Olímpico e jogaram mal
na Olimpíada. Alex perdeu prestígio e contrariou as insistentes
previsões do comentarista. Ronaldinho se recuperou e foi destaque
na Copa do Mundo.
Por causa de sua pouca mobilidade e atuar numa faixa estreita
que vai do meio-campo à área,
Alex era facilmente marcado. Vivia de belíssimas jogadas isoladas. Quando o seu time perdia,
diziam que ele estava sonolento.
No Cruzeiro, Alex emagreceu e
diminuiu a percentagem de gordura corporal. Está mais leve com
mais mobilidade e velocidade.
Porém os principais motivos de
suas ótimas atuações são o de recuperar o prestígio e voltar à seleção. Não será fácil. Sempre que jogar mal, vão dizer que o Alex dormiu em campo. Depois de carimbado, é difícil apagar a marca.
O franzino Kaká
Em 2001, o São Paulo lançou
dois jovens com estilos diferentes,
Renatinho e Kaká, muito elogiados. Na época era Cacá. Escrevi:
"Renatinho é baixinho e veloz.
Cacá é alto, franzino e técnico. A
razão e o bom senso me avisam
que devo ficar calado sobre os
dois. Posso me enganar. Mas a intuição me diz que Cacá será um
jogador excepcional".
O franzino Cacá se tornou excepcional e muito mais forte, graças ao trabalho dos fisioterapeutas, fisiologistas e preparadores físicos do São Paulo. A mudança física foi fundamental na evolução
técnica do jogador.
Volantes e brucutus
Nos últimos anos, um dos conceitos que mudei foi o de insistir
que um time, mesmo com dois zagueiros, deveria ter apenas um
volante. Com o tempo, percebi
que o problema não era o número
e sim a qualidade dos volantes.
Um volante brucutu, que apenas desarma e ou faz faltas e que
não sabe dar um passe de 20 metros nem tem a mínima habilidade, é desnecessário; dois é péssimo; três é trágico.
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tostao.folha@uol.com.br
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