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Brasil aposta na lentidão por pódio na maratona
Atletas do país contam com tradição de marcas mais lentas na prova olímpica
Recorde dos Jogos para a distância, estabelecido em 1984, não está entre os 146 melhores tempos da lista da federação internacional
ADALBERTO LEISTER FILHO
LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um brasileiro, Vanderlei
Cordeiro de Lima, espantou o
mundo na maratona olímpica
de Atenas, há quatro anos, e
quase conquistou o ouro. A
mesma surpresa, de um azarão
na liderança, pode ser reeditada na competição de 42,195 km
em Pequim, no mês que vem.
"Será uma prova lenta, o que
pode favorecer os brasileiros,
que não são tão rápidos, e prejudicar os quenianos, que têm
tempos fortes. Vai depender do
desgaste de cada um", analisa
Adauto Domingues, técnico de
Marilson dos Santos, vencedor
da Maratona de Nova York-06
e um dos brasileiros na prova.
Para José Telles, 37, outro
atleta do país que participará
da maratona, as más condições
ambientais e de clima e temperatura na China irão prejudicar
os azarões menos do que os
atletas favoritos ao ouro.
Um deles, o etíope Haile
Gebrselassie, recordista mundial da maratona, já desistiu
dos Jogos, preocupado com a
poluição da capital chinesa.
"Ele fala que tomou a decisão
por sofrer de asma. Mas acho
que não é só isso. O Haile e os
quenianos só entram em provas rápidas. Eles preferem maratonas em que é possível fazer
marcas expressivas", diz Teles.
Historicamente, as maratonas olímpicas não preenchem
essa expectativa. O recorde
olímpico é o do português Carlos Lopes, obtido em Los Angeles-84 (2h09min21s), cidade
que também não oferece boas
condições aos maratonistas.
A marca não aparece nem entre as 146 melhores da história,
em listagem oficial da Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo).
Pequim não deve fugir à tradição olímpica. O ritmo da corrida deve ser bem mais lento do
que o conseguido pelo etíope
quando bateu seu recorde, em
Berlim, no ano passado.
Para cumprir 42,195 km em
2h04min26s, Gebrselassie fez
cada quilômetro em 2min57s,
em média. Já o vencedor da
Maratona de Pequim deste ano,
o mongol Serod Batochir fez
3min11s por quilômetro. A diferença parece pequena. Não é.
"É enorme. Não dá para comparar", diz Henrique Viana,
técnico de Franck Caldeira, ouro no Pan-07 e terceiro maratonista brasileiro em Pequim.
"Mas são atletas diferentes.
O Haile é recordista. E a Mongólia não tem tradição nenhuma na maratona", pondera.
Ele afirma que é difícil prever
uma marca para a corrida, mas
crê que o vencedor cumprirá o
percurso em até 2h12min.
"A altimetria da prova é boa,
não há muitas subidas. O que
preocupa é a temperatura, em
torno de 34C, e a umidade do
ar de 75%. E, acima disso, há os
poluentes, como ozônio, monóxido de carbono e partícula
de poeira", enumera o técnico.
E, para os brasileiros, com essa marca, a prova fica sem favoritos. "Acima de 2h12min, qualquer um pode vencer. E o fato
de não existir um favorito destacado é bom para os brasileiros", conta Teles, que completou 13 maratonas na carreira.
"A prova está mais aberta do
que nunca. Vai depender de como cada um vai estar no dia da
corrida e como o corpo irá reagir ao ambiente, já que não dá
para fazer uma adaptação à poluição", comenta Marilson.
Além do argumento técnico,
Teles aposta numa peculiaridade olímpica. "Ninguém lá vai
correr atrás de tempo [marcas],
mas atrás das medalhas."
1896
O grego Spiridon Louis, um
dos três atletas que completaram a prova de 40 km, bebeu vinho ao menos duas vezes ao
longo do percurso. Com sede
no final da prova, ele pediu
água, mas recebeu conhaque,
que cuspiu no ato. Cravou
2h58min50s e entrou para a
história como vencedor da primeira maratona olímpica.
1900
Favorito local, o francês
George Daunis parou para se
refrescar no 12º km da prova,
disputada sob 39C em Paris.
Após algumas cervejas num café, desistiu da corrida, vencida
por Michel Théato. "Estou feliz, como corredor e como francês", disse o campeão, nascido
em Luxemburgo e cidadão daquele país pelo resto da vida.
1904
A prova de Saint Louis foi
disputada sob 32C e teve só
um ponto de hidratação. Fred
Lorz, dos EUA, cruzou a linha
de chegada na frente. Mas foi
desqualificado por ter percorrido 17 km de carro. O campeão
foi o norte-americano Thomas
Hicks, que tomou duas doses de
sulfato de estricnina antes de
concluir a prova de 40 km.
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