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FUTEBOL
11 de Setembro na Alemanha
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Eu estava em um salão do
automóvel em Frankfurt.
Depois, fui para Munique. Quando saí do avião, umas 16 horas do
nosso horário, 9 horas de Nova
York, vi as televisões no aeroporto
mostrando o World Trade Center
queimando. Achei que era um filme de ficção. Depois, as pessoas
me disseram que era verdade.
Desde então, é um outro mundo."
Franz Beckenbauer, presidente
do Comitê Organizador da Copa
de 2006, é um filho de 11 de setembro. Marcado agora como tantos
por ter nascido na data que ficou
associada ao terrorismo, mostra
só um medo para ""seu" Mundial.
""Você nunca pode fazer nada
contra o terrorismo, contra algo
como o 11 de Setembro. Não dá
para controlar tudo. A área esportiva não tem nada a ver com
terrorismo, mas você nunca sabe.
Aparece um louco com a idéia de
entrar em um estádio de futebol e
explodir tudo", disse o maior jogador alemão de todos os tempos
em entrevista na terça à Folha.
Presidente do Bayern, o ""Kaizer" não contemporiza a situação. Ao contrário. ""É uma luta
diária contra o terrorismo. Lamento muito, mas é o mundo de
hoje. Está ficando cada vez mais
louco. Não há respeito pela vida.
Todo dia tem uma notícia de
uma explosão. Para mim, é difícil
falar sobre isso em inglês. Há expressões na Alemanha para isso."
De Alemanha ele entende como
poucos. ""O terrorismo começou
em 1972, em Munique. Antes daquela Olimpíada, mal existia policiamento em Jogos ou Copas. No
México, em 1970, havia um policial que ficava sentado de olho fechado. Quatro anos depois, na
Alemanha, teve polícia para todo
lado por causa do terrorismo."
Beckenbauer ""apenas" não dá
garantias de que a próxima Copa
estará livre de ações terroristas.
No resto, uma beleza. ""Os estádios estarão prontos no máximo
até a metade de 2005. O governo
vai investir 2,5 bilhões. Conseguimos o controle sobre os ingressos após acordo com a Fifa. O Comitê Organizador tem 27 gerentes
de projeto. Tenho uma equipe
boa de 50 funcionários que deverá passar a ter talvez uns 300."
Deixando a ameaça de terrorismo de lado, o único homem que
ganhou a Copa como jogador, como técnico e como dirigente espera uma atmosfera bem diferente
daquela de 74, fria, intimidante.
""A Alemanha era um país dividido. Agora, não há bloco do Leste, Tchecoslováquia, não tem muro. Penso que em 2006 será uma
celebração. Esperamos fazer um
grande trabalho para mostrar ao
mundo uma grande Copa."
O plano de Beckenbauer tem
muito de irreal. Algumas de suas
afirmações não são verdadeiras.
""Nós não temos qualquer tipo de
racismo na Alemanha no momento. Não temos a presença de
neonazistas, nem de hooligans.
Temos que ter cuidado porque os
ingleses e os holandeses gostam de
brigar entre eles. Os alemães também gostam se alguém desafiar.
Conhecemos o perigo. Nossos policiais, nosso ministro do Interior,
grande fã de futebol, tenta resolver todos esses problemas."
O ""Kaizer" fechou os olhos para
o neonazismo e o racismo. Está
com eles abertos para o terrorismo, mas diz nada poder fazer.
Copa de 1970
""Não é verdade que entregamos o jogo para a Alemanha Oriental.
Nosso técnico, Helmut Schön, é do Leste e queria vencer. Mas, depois, vimos que tivemos sorte porque caímos no grupo mais fácil."
Copa de 1982
""Foi uma história diferente [Alemanha 1 x 0 Áustria, que classificou
ambos]. Foi triste e afetou nossa reputação. Os jogadores falavam a
mesma língua, fizeram uma negociação e foi um desastre."
Copa de 2006
""Convencemos os asiáticos. Charles Dempsey, da Oceania, se absteve de votar. Mas eu tenho uma promessa dele por escrito de que ele
votaria em nós [se ele votasse na África do Sul essa ganharia]."
E-mail rbueno@folhasp.com.br
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