São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2008

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PAULO VINICIUS COELHO

A solução de Kaká



Para o atleta, Brasil de Dunga treina tanto quanto o de Parreira e o de Felipão, e o que faz falta é um embaixador


O JOGO de hoje, contra o Chile, é o sétimo da seleção principal em 2008. Sabe quantas dessas partidas Kaká disputou? Nenhuma. Desde que foi eleito o melhor do mundo pela Fifa, em dezembro, Kaká foi convocado três vezes e cortado em todas as três, por lesão. O período coincide com a maior crise da era Dunga, uma das maiores desde a Copa do Mundo de 1994. Há algumas hipóteses a considerar. As vitórias rarearam por causa da presença de Dunga? Ou pela ausência de Kaká? A primeira idéia, convenhamos, é muito mais forte. Mas não é definitiva. Sabe aquilo que se diz nas semanas de treino da seleção em Teresópolis? Que o time treina pouco e desperdiça tempo? Kaká discorda: "Nunca terminei uma semana na seleção achando o trabalho insuficiente. Com Dunga, não treinamos nem mais nem menos do que fazíamos com Felipão e Parreira". E a tese de que Dunga não tem diálogo e mina a relação com o elenco? Kaká discorda: "Sempre que precisei resolver algo com ele, resolvi. Se ele não tem diálogo com a imprensa, é outro problema. Com os jogadores, tem". Dunga não ligou para Kaká para saber se ele poderia jogar contra o Chile. Jorginho, seu auxiliar, telefonou. Perguntou como estava a recuperação e ouviu de Kaká que não estaria pronto em setembro. Respondeu, então, que não seria convocado. "Achei justo", diz Kaká. Dunga não é o técnico dos sonhos e é quase certo que deixe o cargo se perder hoje. Mas há muitos outros pontos em que a seleção está na pré-história. Um deles fica evidente no telefonema de Jorginho. Não há alguém que faça o meio-de-campo entre a CBF e os clubes europeus. O resultado é o desgaste do jogador, espremido entre seus dois patrões. "Isso, sim, atrapalha", diz Kaká. É como se a CBF tirasse do jogador brasileiro a vontade que ele ainda tem -acredite, tem!- de jogar na seleção brasileira. Melhor seria ter um diretor de seleções, uma espécie de embaixador, para impedir que a bomba estoure no colo do craque, como no episódio da cirurgia de Kaká, em maio. A CBF divulgou carta do Milan para justificar o corte, e o Milan só enviou a carta para dar satisfação à CBF. Alguém falou com Kaká? Pois é dele próprio a idéia do embaixador. Há décadas, as análises sobre a seleção são bipolares. Variam da depressão à euforia em questão de horas. Em dezembro de 2005, não havia como o Brasil perder a Copa da Alemanha. Em 2008, o país nunca produziu tão poucos craques. Era esse também o diagnóstico em 2001, quando a seleção de Luiz Felipe Scolari perdeu para Honduras, um ano antes de ser campeã do mundo na Copa da Coréia do Sul e do Japão. Hoje, o maior problema é a entressafra. Houve momentos semelhantes com Falcão, com Carlos Alberto Silva, com Lazaroni, com Luxemburgo. A cada derrota, um diagnóstico apocalíptico. Tão perigoso quanto isso será a euforia, em caso de vitória em Santiago. É possível que Dunga se vá, e os problemas, não. Kaká quer um embaixador. Para passar com tranqüilidade pelo árduo período de renovação, a seleção precisa apenas de organização.
paulovinicius.coelho@uol.com.br


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