|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Criança", Fofão se despede da seleção
Mais vitoriosa jogadora do país dá adeus após subir ao pódio olímpico com garotas que a ensinaram a ser menos séria
Levantadora diz que jeito reservado é trunfo para ganhar a confiança das companheiras, mas que aprendeu também a brincar
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando o técnico José Roberto Guimarães a chamou de
volta para a seleção, Fofão teve
medo. A lista de convocadas
abrigava atletas que nem haviam nascido quando ela já jogava vôlei. Uma nova geração.
A levantadora, no entanto,
aceitou o desafio. Teria quase
quatro anos para ajudar a
transformar aquela juventude
em um equipe vitoriosa.
No alto do pódio em Pequim,
com a inédita medalha dourada
no peito, Fofão cumpriu a missão. Mas, após um ciclo olímpico ao lado das companheiras,
viu que não era apenas o time
que estava diferente, ela também havia se transformado.
"Elas tinham outra cabeça,
outro jeito de ser, eram brincalhonas, achei que não iria me
adaptar. Acabei me vendo no
meio da bagunça delas. Abri um
pouco do meu lado sério no dia-a-dia. Com elas, voltei a ser
criança", afirma a levantadora.
Hoje, aos 38 anos, no Final
Four, em Fortaleza, Fofão dá
adeus à camisa que vestiu por
quase duas décadas -o Brasil,
que ontem venceu a Argentina
(3 a 0), pega a República Dominicana na decisão.
A levantadora que se despede
é diferente da que estreou 18
anos atrás. Mais aberta, menos
séria, e vitoriosa como nunca.
Além de ter conquistado o
inédito ouro em Pequim, a levantadora é a brasileira com
maior sucesso em Olimpíadas
(tem mais dois bronzes). Detém também o recorde de participações nos Jogos-cinco.
"Ela foi fundamental, foi a alma do time. Cada jogadora tinha suas razões para buscar o
ouro, e todas queriam também
ganhar por ela. Ela é especial,
do bem, e batalhou durante
muito tempo por um lugar ao
sol", diz a psicóloga da seleção,
Sâmia Hallage, que acompanhou a equipe na China.
Zé Roberto sabe o quanto a
liderança e o talento da veterana jogadora farão falta e já tenta
sabotar sua aposentadoria.
"Por mim, ela não pára. Vou
tentar convencê-la ainda", diz.
Fofão (apelido dado por um
técnico que achava suas bochechas parecidas com as do personagem) chegou à seleção em
1991 e foi reserva até 1999. A titular era Fernanda Venturini.
Na equipe de Zé Roberto,
além de comandar as jogadas,
Fofão também virou capitã.
"Nos primeiros treinos eu tive um frio na barriga, ia treinar
com meus ídolos. Mas ela faz
questão de mostrar que não é
mais do que ninguém, ajuda todo mundo, independentemente de quem for", afirma a central Thaisa, 21 anos, nascida
quando Fofão já estava na quadra, mas ainda era atacante.
A admiração das novatas surpreendeu Fofão. Algumas escreveram cartas durante a
Olimpíada para contar o que
pensavam sobre ela.
"Quando a gente ganhava
elas diziam que eu merecia. Nas
derrotas, falavam queriam ter
me dado a medalha, me retribuir por eu ter me entregado
tanto a esse grupo."
Texto Anterior: No Brasil: CBF define amanhã se vai realizar a Copa do Brasil neste ano Próximo Texto: Atleta encerra carreira no time que a projetou Índice
|