|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
A Copa não é tudo
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
A Copa do Mundo é o grande
acontecimento do futebol. Isso não se discute. Porém não se
pode analisar virtudes e deficiências de um jogador somente pelas
suas atuações num Mundial.
Pelé, Maradona, Cruyff, Beckembauer, Garrincha, Didi, Platini, Zico, Gerson, Rivellino, Nilton
Santos, Romário, Zidane, Ronaldo, Roberto Carlos e outros que vi
atuar são ou foram fenômenos
pelo que fizeram nas suas carreiras, e não somente porque brilharam na Copa e/ou foram campeões do mundo.
Di Stefano não participou de
Mundial. Meu pai e muitos outros disseram que ele só não foi
melhor do que Pelé. Outros craques indiscutíveis, como Ademir
da Guia, Dirceu Lopes, Zé Carlos
(do Cruzeiro), Coutinho, Reinaldo (do Atlético-MG), Alex e Dida,
não jogaram e/ou tiveram discretas participações em Mundiais.
Muitos jogadores do passado e
do presente, como Belletti, Edmilson, Roque Júnior, Lúcio, Júnior,
Juninho Paulista, Kleberson, Gilberto Silva, atuaram bem na Copa, foram campeões do mundo,
mas não são craques para serem
tão valorizados nas convocações e
na escalação da seleção atual. Incluiria nesse grupo o Juan, Emerson e Zé Roberto, que não estiveram no Mundial de 2002.
Não acho que todos esses atletas
precisam ser substituídos ou barrados do time titular e nem que o
Parreira comete graves erros. As
mudanças têm de serem feitas aos
poucos, sem pressa, por critérios
técnicos, e não pela idade. Além
disso, poucos que atuaram no
Pré-Olímpico têm condições de
jogarem no time principal.
Mas discordo das repetidas justificativas do Parreira, de que
muitos dos atletas são convocados por serem experientes e campeões do mundo. Eles têm de ser
chamados pelo que fizeram nas
suas carreiras, nos clubes, na seleção, incluindo o Mundial, e, principalmente, pelo momento atual.
Alguns desses atletas merecem
ser convocados. O tão criticado
Emerson não jogou a Copa, mas
sempre foi destaque nos times em
que atuou e continua em forma.
Ele nunca foi brilhante na seleção, mas não há opções melhores.
Parreira, apoiado pela maioria
da imprensa, sente-se fortalecido
porque disse antes do Pré-Olímpico que os jovens estavam ainda
imaturos para atuarem na seleção principal. Mesmo se não houvesse jogos pela Libertadores, os
atletas de Santos e Cruzeiro que
estiveram no Chile não seriam
chamados para esse amistoso.
Se alguns desses jovens fossem
convocados para a seleção principal (poucos merecem), eles não
participariam de um time de garotos, sob o comando de um técnico inexperiente e confuso, e sim
ao lado de jogadores consagrados, tarimbados e de um técnico
experiente. Seria bem diferente.
Luisão já atuou bem na seleção
principal. Foi melhor do que os
quatro zagueiros convocados. Se
estivesse no Pré-Olímpico, diriam
que ele é imaturo. O mesmo ocorreria com Júlio Baptista. Fábio
Rochemback, que não tem talento para jogar na seleção principal,
foi chamado para o lugar do
Emerson porque não há outro.
Parreira e Zagallo, numa atitude corporativista, pouparam Ricardo Gomes e criticaram os atletas, ao dizerem que houve muita
brincadeira e pouca seriedade.
Todo atleta já participou de um
time apático. Não é garra e disciplina que fazem uma equipe ser
vibrante, organizada e unida. É o
time desorganizado, como o do
Pré-Olímpico, que faz os jogadores serem apáticos e jogarem mal.
Após o Pré-Olímpico, faria o raciocínio inverso. Como não existe
mais a seleção olímpica e não há
etapas para serem queimadas, como falava o Parreira, não há motivos para se adiar a presença de
alguns desses jogadores no elenco
da seleção principal.
Como o Parreira diz sempre que
é necessário experiência para disputar as eliminatórias e esse torneio vai terminar perto do Mundial de 2006, o elenco e o time já
estão praticamente definidos para a próxima Copa. Será o mesmo
desse amistoso e mais o Rivaldo,
Emerson e talvez o Renato.
Parece até que a seleção está
muito bem nas eliminatórias. Na
anterior, havia motivos para o time jogar mal já que estava em
formação e não estavam presentes os dois Ronaldinhos. A seleção
atual é quase a mesma da Copa e
já está entrosada. Ela tem a obrigação de jogar muito melhor.
O Brasil tem todas as condições
para formar uma equipe superior
ao time de 2002. Mas, se o Parreira continuar fascinado pela experiência e pelo título de campeão
do mundo de alguns atletas, vai
ser muito pior do que o anterior.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Santos quer acertar defesa no ABC Próximo Texto: Futebol - Rodrigo Bueno: Parabéns a você, a você e a você Índice
|