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FUTEBOL
A dúvida do Flamengo
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
O Cruzeiro é superior ao
Flamengo, mas a diferença
não é tão grande e em dois jogos
nem sempre vence o melhor. As
atuações das equipes na segunda
partida vão depender da primeira. Não é um jogo de 180 minutos.
São dois jogos distintos de 90.
O Flamengo deve jogar com três
zagueiros. As vantagens de se jogar dessa forma são a de ter sempre um zagueiro na sobra e liberar o habilidoso Athirson para
apoiar o ataque. As desvantagens
são a de deixar muitos espaços
nas costas dos alas e perder um jogador de meio-campo. Isso enfraquece a armação e a marcação
nesse setor.
As melhores atuações do Flamengo aconteceram fora de casa,
quando o time foi pressionado e
utilizou bem o contra-ataque. As
piores ocorreram nos momentos
em que foi à frente para reverter o
placar e se posicionou muito mal
na defesa. A equipe que ataca é a
que mais precisa treinar a defesa.
A grande qualidade do Cruzeiro é jogar bem das duas maneiras,
numa mesma partida. O time sabe pressionar e, principalmente,
contra-atacar, com o avanço rápido dos laterais, a troca de passes
em direção ao gol e a movimentação dos atacantes.
A grande dúvida do Flamengo é
se o time deveria pressionar, empurrado pela sua torcida, ou
atrair o Cruzeiro para contra-atacar. Eis a questão!
Felipe e Alex
Muitos leitores estranharam a
minha opinião de que o Felipe deveria ter sido convocado para a
Copa das Confederações. Disse isso por causa das circunstâncias,
já que vários excelentes jogadores
não puderam ser chamados.
Na função de terceiro armador
pela esquerda, só foi convocado o
Ricardinho. Alex, Adriano (Atlético-PR) e Ronaldinho, assim como Diego, Kaká e Rivaldo são
ofensivos. Não são atletas de
meio-campo. Felipe seria reserva
do Ricardinho. Os dois, e mais o
Zé Roberto, estão no mesmo nível.
Felipe não é o craque que pensávamos que seria, mas é um excelente jogador. Elogiamos excessivamente alguns jovens em início de carreira e depois cobramos
títulos e atuações espetaculares,
acima de suas capacidades. Eles
são também irregulares porque
são muito marcados e dependem
das atuações de suas equipes.
Esses excelentes jogadores não
ganham nem perdem jogos sozinhos. Eles não são Pelé nem Maradona. Alex é o principal jogador do Cruzeiro, faz falta à equipe, mas não é ele que faz o time
jogar bem. Ele brilha e se destaca
porque o time é bom e ele atua do
jeito que sabe. Não existe craque
em time desorganizado.
Laterais, zagueiros e meias
Na final da Copa dos Campeões, ficaram mais evidentes as
diferenças entre o futebol brasileiro e o italiano. Lá, lateral é zagueiro. Eles raramente avançam
e não têm habilidade. No máximo, chegam na intermediária e
cruzam. Os times italianos atacam com poucos jogadores e têm
sempre, no mínimo, seis defensores bem posicionados no seu campo (quatro zagueiros e dois volantes). Raramente são surpreendidos no contra-ataque.
O futebol brasileiro inventou o
volante próximo ou entre os zagueiros, para liberar os dois laterais. O time fica mais ofensivo,
mas deixa muitos espaços na defesa. Não há tempo para o volante
sair do meio e fazer a cobertura
do lateral. Se o volante se posiciona muito para a lateral, deixa o
meio desprotegido.
Os habilidosos laterais brasileiros que vão para a Itália jogam de
alas (Junior e Cafu) ou no meio
(Serginho). Nunca atuam de laterais apoiadores ao lado de dois
zagueiros. Roberto Carlos jogou
na Inter de meia-esquerda. Nada
a ver. O seu técnico deveria ter sido suspenso por incompetência.
Na Itália e em quase toda a Europa, não existe também o meia
de ligação com o ataque. Quase
todos os times jogam com duas linhas de quatro e mais dois atacantes. Por isso, Rivaldo é reserva
do Milan e Alex não deu certo no
Parma. O talentoso meia italiano
Totti atua na seleção como segundo atacante.
O futebol brasileiro precisa continuar ofensivo, incentivar o
avanço dos laterais e a presença
do meia de ligação. A ousadia
tem prioridade, mas a marcação
não pode ser frágil. O italiano deveria continuar forte na defesa,
mas quando recuperar a bola,
atacar com mais jogadores.
Não é fácil conciliar os dois estilos. Os técnicos deveriam tentar
fazer isso. Poucos conseguem. Esses são os mais criativos e os melhores.
E-mail tostao.folha@uol.com.br
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