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ATENAS 2004
Norte do Estado distribui bolsas, cria pólos esportivos e faz parcerias para catapultar legião de olímpicos
Paraná festeja bolsão de excelência
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A LONDRINA
Solange ainda estava com o filho
no colo quando soube que ele tinha leucemia. Gilberto, aos seis
meses, precisou de um ano de tratamento para ficar curado.
Quando a vida parecia seguir o
rumo natural, ela voltou a ser surpreendida. Aos 10 anos, o menino
sofreu acidente que lhe rendeu
150 pontos no braço esquerdo.
"Se não morássemos em uma
cidade como Londrina, acho que
ele não teria se recuperado."
Gilberto hoje usa o braço machucado para buscar o ouro. É Giba, atacante da seleção de vôlei e
fruto de uma estrutura que fez do
norte do Paraná um símbolo de
excelência esportiva no país.
Oito cidades da região, enriquecidas pelos agronegócios, terão
juntas 17 atletas em Atenas. O Estado será o terceiro mais bem representado, com 25 nomes.
A maior parte nasceu em Londrina (sete) e Maringá (quatro) e
se espalha por cinco modalidades.
Como Giba, a oposto Elisângela
começou a jogar vôlei em clubes
sociais -Londrina possui mais
de 20 quadras cobertas, incluindo
um ginásio municipal.
O mesmo caminho fizeram Rogério Romero e Diogo Yabe, que
deram as primeiras braçadas por
incentivo dos pais, nadadores.
O norte do Paraná também
mostra em Atenas o fruto do trabalho em um esporte sem tradição no país: a ginástica rítmica.
Três atletas são de Londrina,
QG da equipe nacional e da confederação. A seleção é bancada pela
Universidade do Norte do Paraná, que mantém professores lecionando em bairros carentes. Os
talentos são encaminhados à escolinha, também gratuita.
Os tentáculos paranaenses em
Atenas não são formados só pela
classe média dos grandes centros.
A lista ainda tem nomes como Renata Costa, do futebol, e Vanderlei Cordeiro de Lima, Jadel Gregório e Edson Luciano, do atletismo.
A tentativa de explicar o fenômeno já produziu até teses de
doutorado. José Luiz Vieira e sua
mulher, Lenamar, encontraram a
explicação na política pública.
"De 1987 a 1992, foi criada uma
cadeia que lapidava o talento e assegurava que ele pudesse seguir
no esporte", conta Vieira, professor da Universidade de Maringá.
Projetos do governo do Estado
garantiam bolsas a quem se destacasse nos pólos esportivos. Lima,
Luciano e Giba foram alguns dos
contemplados.
Hoje, não há projeto estadual
que dê ajuda financeira aos atletas. Esportes que, diferentemente
da GRD, não têm patrocínio forte
contam mais com iniciativas municipais e privadas para, ao menos, manter uma base ativa.
É o que tenta Vieira. Jogador da
seleção de handebol em Barcelona-92, ele toca com outros ex-atletas a associação da modalidade. Como outras 25 entidades de
Maringá, recebe ajuda mensal da
prefeitura e o apoio de profissionais da universidade.
O município encampou três jogadores na seleção olímpica, além
do auxiliar Valmir Fassina.
"Só não dá para competir com
altas propostas", diz Marcelo Junqueira, presidente da associação.
Foi a falta de equipes profissionais fortes que tirou do Paraná
Renata Costa. A volante, que jogou no último ano no Santos, despontou na pequena Assaí. Apesar
de ter um IDH baixo, o município
incentiva a prática esportiva e
reúne 1.700 adultos ou 10% da população nos Jogos Municipais.
A estrutura é precária, num castigado ginásio, mas engloba aulas
de handebol, vôlei e caratê, influência dos japoneses, cujos descendentes formam 30% da população. O carro-chefe é o futsal, e é
Renata quem aparece nos sonhos
dos meninos. "Ela já me deu uma
ombrada e me jogou no chão", diz
Vinícius Honorato da Silva, 12.
Antes de se juntar à seleção, a
atleta esteve em Assaí e mostrou o
que, para as crianças da cidade,
significa mais que um ouro olímpico: venceu os Jogos Municipais
e disputou peladas no campinho
como fazia quando criança.
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