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FUTEBOL
Há controvérsias
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Nesta semana, Zico completou 50 anos. Continua jovem. Só eu envelheço. O Galinho
foi um craque inquestionável.
Craque e ídolo. Nem todo craque
é ídolo. Zico é o grande ídolo dos
atletas atuais que o viram jogar
na infância.
Zico era mestre e inventor, como escreveu José Geraldo Couto.
Dominava a técnica, tinha muita
habilidade e fantasiava, encantava. Além do brilhantismo técnico,
era guerreiro e sábio, ambicioso e
solidário, disciplinado e ousado.
Numa coluna anterior, citei algumas características psicológicas dos atletas, baseado muito
mais na minha experiência de ex-jogador, de pretenso observador
da alma humana do que em conhecimentos teóricos. Não descrevi nenhuma regra moral para ser
craque. Não tenho este hábito. A
eficiência de um atleta ou de um
profissional não tem relações com
suas qualidades morais.
Volto ao Zico. Ele não tinha a
habilidade e fantasia do Maradona, nem a perfeição técnica do Pelé, mas foi um dos melhores jogadores do futebol mundial. Maradona foi mais artista do que Pelé,
mas o Rei foi melhor, porque era
completo. Os apaixonados argentinos não aceitam isso.
Zico era criativo, mas foi mais
técnico, mestre do que inventor.
Driblava, passava e finalizava
com enorme eficiência. Há jogadores que dominam tanto a técnica da posição, que se tornam craques, mesmo não sendo grandes
criadores, como Roberto Carlos e
Beckham. Outros, como Ronaldinho Gaúcho, são mais artistas,
fantasistas do que técnicos. Ele joga brincando, rindo. Só precisa se
transferir do PSG para um dos
principais times da Europa para
ser reconhecido definitivamente
como um craque.
Há também vários inventores
que não são craques. Não basta
imaginar e antever a jogada. É
preciso executá-la bem. José Geraldo Couto citou alguns inventores incompletos, que por isso não
são craques, como Alex, Denílson,
Felipe, Rivaldo e Ortega. Só discordo do Rivaldo. Na verdade, Rivaldo é indefinível. Mas é um jogador decisivo. Ao contrário do
Ronaldinho Gaúcho, joga sempre
com a cara fechada. Ele não parece craque, mas é. Muitos parecem
e não são.
Como se vê, não sou tão rigoroso na definição de craque. Só no
time pentacampeão havia quatro
(os quatro erres). Acrescentaria o
Marcos, um goleiro brilhante decisivo há vários anos no Palmeiras e na seleção. Há mais uns
quatro ou cinco no restante do
mundo. Se fosse tão rigoroso, só
citaria o Ronaldo e o Zidane.
Romário seria um craque do
passado ou do presente?
Há controvérsias.
Camisa 10
Na terminologia antiga, Zico
era um ponta-de-lança, atacante
que recuava até o meio-campo
para receber a bola, driblava, tabelava, colocava o companheiro
na frente do goleiro e fazia gols espetaculares, de todos os tipos. Era
o camisa 10. O Rei Pelé e os super-craques Maradona, Di Stefano,
Cruyff e Platini também atuavam
nesta posição.
O ponta-de-lança parecia com o
atual armador ou meia ofensivo,
o número um, que faz a ligação
entre o meio-campo e ataque, como Kaká, Alex, Zidane e outros.
O ponta-de-lança era mais atacante do que armador. O meia
atual é mais armador do que atacante. Rivaldo e Kaká têm mais
características de ponta-de-lança,
atacante. Zidane, Alex e Ronaldinho Gaúcho são mais organizadores, armadores.
Como a maioria das principais
equipes do mundo joga com dois
volantes e um armador de cada
lado, com funções defensivas e
ofensivas, não existe o meia livre
próximo dos dois atacantes. Por
isso, os técnicos estrangeiros têm
dificuldades em escalar alguns
excelentes jogadores, como Riquelme, reserva do Barcelona.
No Real Madrid, Zidane joga
pela esquerda, atacando e defendendo. Na seleção francesa, atua
mais livre, sem obrigação de marcar no seu campo. Ele brilha das
duas maneiras. Por causa dessa
capacidade de se adaptar, é ainda
mais craque.
O Valência joga com quatro no
meio-campo e mais o habilidoso
armador Pablo Aimar, adiantado, como um segundo atacante.
Seria como se Oswaldo de Oliveira escalasse dois volantes, um
meia de cada lado e o Kaká próximo do Luis Fabiano. Sobraria o
Reinaldo.
Os técnicos estrangeiros valorizam muito mais a tática e a técnica do que a criatividade dos craques. Por esse e outros motivos, o
Brasil é pentacampeão.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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