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Tordesilhas reescrito
Nas eliminatórias, eles riram dos fiascos do
Brasil. Agora, é vez de o país se divertir com a
desgraça dos vizinhos. Com exceção do virtualmente classificado time de Luiz Felipe Scolari, posição adquirida depois da fácil vitória de ontem sobre
a China (4 a 0), a América do Sul agoniza na Copa. Se a
primeira fase fosse encerrada ontem, só o Brasil, entre
as cinco equipes da região, estaria nas oitavas. Todas
as outras partes do planeta representadas em campos
coreanos e japoneses têm mais motivos para comemorar, incluindo eternos sacos de pancadas, como as
Américas do Norte e Central e a própria Ásia. Na França-98, quando também teve cinco inscritos, a América
do Sul classificou quatro equipes para as oitavas.
PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL
Com a segunda rodada da fase
inicial da Copa do Mundo perto
do fim, a situação da América do
Sul que fala espanhol é dramática.
Uma das maiores favoritas ao título antes de a bola rolar, a Argentina precisa vencer na última jornada a Suécia, líder da chave mais
equilibrada do torneio, para não
depender de uma improvável
combinação de resultados.
O maior rival brasileiro, que nas
eliminatórias sul-americanas teve
média de quase 2,5 gols por partida, só conseguiu balançar as redes
uma vez em dois jogos.
O Paraguai não depende mais
de suas próprias forças. Além de
golear a Eslovênia em seu último
jogo, necessita de uma vitória da
Espanha sobre a África do Sul.
"Não existe diferença desse time
para o de 1998", afirma o falastrão
goleiro Chilavert, sem parecer
lembrar que, na Copa francesa,
sua equipe passou da primeira fase até com certa folga.
Para ir às oitavas-de-final, o
Uruguai precisa vencer o Senegal
por dois gols de diferença. Desde
1970 que os bicampeões mundiais
não vencem um confronto por
vantagem superior a um gol.
O estreante Equador, que perdeu na estréia para a Itália, já poderia estar virtualmente eliminado do Mundial nesta madrugada
em caso de derrota para o México.
As quatro equipes sul-americanas que correm agora, com desespero, em busca da classificação às
oitavas venceram o Brasil nas eliminatórias, sendo que, para todas, isso foi a primeira vez na história que aconteceu.
Com tantos times à beira da eliminação, a América do Sul, caso
só o Brasil se classifique, terá sua
menor participação no bolo dos
qualificados em uma primeira fase das 15 Copas que tiveram um
sistema de grupos, e não o de partidas eliminatórias, como aconteceu em 1934 e 1938.
Uma equipe entre 16 significa
um participação de apenas 6,2%.
Até hoje, a região, que em 1978
chegou a ter 37% dos classificados
da primeira fase, nunca ficou
abaixo dos 12,5% dos qualificados
no arranque inicial de uma Copa.
Feita uma comparação com o
que aconteceu apenas quatro
anos atrás, na França, vê-se de
forma cristalina o mergulho na
mediocridade da América no Sul.
Nos nove jogos iniciais das
equipes da região até agora na Coréia e no Japão, aconteceram quatro derrotas. Em campos franceses, em toda a primeira fase, o que
significou um total de 15 partidas,
a América do Sul só conheceu três
derrotas, sendo que duas delas
com a Colômbia, sua única representante que foi eliminada na fase
de abertura da competição.
Negando fogo
Individualmente, as maiores
apostas dos vizinhos brasileiros
decepcionam na Ásia.
Chilavert, bem acima do peso,
falhou de forma clamorosa no jogo contra a Espanha. O uruguaio
Recoba, um dos jogadores mais
bem pagos do planeta, não passa a
bola para os companheiros e finaliza mal. O argentino Verón não é,
até agora, nem sombra do atleta
da Copa-98, que realizava todos
os fundamentos com eficiência.
"Estou carregando comigo uma
pequena lesão na perna direita",
se justifica Verón, substituído nas
duas partidas realizadas pela Argentina até o momento.
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