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POLÍTICA
Guerra Fria "revive" em duelos contra EUA e Rússia
Anfitriões encaram carrascos do passado
ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SEUL
Para quem um dia dividiu o
controle do planeta, chegou a hora de conhecer um mundo onde
não são muito bem-vindos.
O lugar em questão é a terra da
Copa, Japão e Coréia do Sul. Aos
dois, o futebol reservou um reencontro bastante especial: ambos
vão ser agora anfitriões de russos
e americanos, as superpotências
que mais dor de cabeça lhes causaram -e ainda causam.
Na manhã de hoje, em Yokohama, o Japão vai ter pela frente a
Rússia. Do outro lado do mar do
Japão (ou mar do Leste, para os
coreanos), vão a campo, na madrugada de amanhã, Coréia do
Sul e EUA. Dois jogos que reúnem
ódios de natureza diversa.
No caso coreano, o furor contra
os EUA vem da população, que
tenta convencer seu governo a negociar a saída das tropas americanas que estão estacionadas no
país desde o final da guerra que
dividiu a península, em 1953.
Para isso, nenhuma chance de
protesto é desperdiçada. Amanhã, por exemplo, além do jogo
da Copa em Daegu, acontecerá o
funeral de um homem que morreu na quinta-feira, um ano após
ter tomado um choque num cabo
de alta tensão estendido pelas tropas norte-americanas.
Nesse período, organizações civis da Coréia processaram com
sucesso o governo. É a forma legal
que têm para atacar os EUA, já
que, em casos assim, o acordo assinado entre os países determina
que cidadãos coreanos têm de ser
recompensados pelo governo local, que só então repassa a conta
às Forças Armadas americanas.
No caso de Japão e Rússia, inimigos já no começo do século,
quando guerrearam na Manchúria, há divergência entre os governos. Até hoje, 47 anos depois do
fim da Segunda Guerra, os países
não assinaram um tratado de paz.
Ainda não houve acordo em relação ao controle de quatro ilhas
ao norte do Japão, ocupadas e não
devolvidas pelos soviéticos após a
guerra, em 1945. Essa disputa foi
apontada como possível causa de
atentados à delegação russa.
No começo do ano, dois fatores
contribuíram para que as tensões
entre os adversários, que vão a
campo hoje, só piorassem.
Na Rússia, o Parlamento aprovou uma resolução sugerindo que
o país deixe a mesa de negociações com os japoneses, de forma a
mostrar que não quer mais discutir a posse das ilhas.
Nos EUA, um sul-coreano foi
desclassificado em uma prova da
Olimpíada de Inverno, em Salt
Lake City, por supostamente ter
cometido uma irregularidade, e
sua medalha de ouro foi transferida para um norte-americano.
Agora, a tensão que cerca os jogos é grande. Em Daegu, se está
prevista a presença de 5.000 americanos na partida, os coreanos levarão, por precaução, o mesmo
número de policiais. Uma tentativa de garantir a ordem num jogo
esperado desde dezembro, quando os deuses da bola aproveitaram o sorteio da Copa para revirar o túmulo da Guerra Fria.
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