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JUDÔ
"Volta às origens" prejudica Derly
Federação planeja na Olimpíada coibir estilo muito defensivo, adotado pelo brasileiro
BRASIL
Meio-leve entra no tatame. Horário: eliminatórias, 1h, e final, 7h de amanhã
DO ENVIADO A PEQUIM
Em Pequim, o judô voltará às
origens. E o brasileiro mais prejudicado com isso é o bicampeão mundial dos meio-leves,
João Derly, que estréia nos Jogos na madrugada de amanhã.
Apesar de saber aplicar técnicas clássicas, o gaúcho tem
como característica o estilo de
luta praticado no Leste Europeu, freqüentemente definido
no meio do judô como "briga de
gatos". Ele se notabiliza por
uma defesa forte, com o corpo
encolhido para baixar o centro
de gravidade, cabeça abaixada,
esquivas e ataques nas pernas.
É justamente isso que a FIJ
(Federação Internacional de
Judô) quer coibir nos Jogos.
"Não temos nada contra outras modalidades, como a luta
olímpica. Mas queremos preservar o espírito do judô. Não
houve mudança nas regras, ainda. Mas aplicaremos a regra
mais estritamente a tudo que
concerne ao judô negativo", diz
o espanhol Juan Barcos, diretor de arbitragem da FIJ.
Depois de Pequim, a entidade deverá alterar formalmente
as regras nesse sentido. Golpes
aplicados sem prévia troca de
pegadas na parte superior do
quimono não valerão pontos e
há a possibilidade da extinção
do koka, de menor pontuação,
consignado quando um judoca
faz o rival cair sentado.
Barcos define o judô negativo
como: judoca excessivamente
defensivo, com posição muito
baixa, fugindo do kumikata
(troca de pegadas) e sempre
agarrando as calças do quimono de seu oponente.
Indagado sobre o porquê da
nova orientação, ele cita a competição em que o Brasil obteve
seu melhor resultado (três ouros e um bronze).
"Talvez, pouco a pouco, tenham sido permitidas coisas
demais. É só lembrar o Mundial do Rio, que teve combates
que não eram reais confrontos
de judô, que eram combates de
luta. Isso não é nosso esporte. E
nossa obrigação é manter a pureza desse esporte", diz ele, enfatizando que a técnica do judô
deve se sobrepor à defesa.
Para Barcos, a orientação não
irá comprometer a crescente
internacionalização do judô.
"Isso não é bom para os japoneses, mas para os bons judocas. E
há bons judocas no mundo inteiro. O Brasil é um exemplo:
não tem judocas que vencem
somente pela força."
Na equipe brasileira, a orientação aos juízes gerou dúvidas.
Luis Shinohara, treinador do time masculino, acredita que só
com as primeiras lutas, que começariam na madrugada de
hoje, as equipes terão uma noção mais precisa de quão rigorosa será a arbitragem.
"O que interfere na verdade é
essa regra", diz ele, apontando
um documento ilustrado com
fotos e distribuído pela FIJ aos
árbitros e às equipes.
"Ela pune quem bloquear o
ataque rival segurando na calça. E também não pode pegar a
calça para fazer o ataque, o que
todo mundo fez até esta competição", afirma Shinohara,
que lembra que, além de Derly,
o meio-pesado e também campeão mundial Luciano Corrêa
usa essa tática.
(LUÍS FERRARI)
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