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Futebol boliviano reproduz caos do país
Jogadores ameaçam entrar em greve se o presidente Evo Morales não retirar taxação de 15,5% nos salários dos atletas
Ex-aliado do governo exige
que acordo seja cumprido e
não descarta paralisação de
boleiros, que não pagaram
imposto nos últimos 30 anos
DO ENVIADO AO RIO
DA SUCURSAL DO RIO
O futebol da Bolívia vive uma
crise com muitos dos ingredientes que mergulharam o
país como um todo no caos.
Greves, desobediência fiscal
e atritos com o presidente Evo
Morales, um cenário comum
em quase toda a Bolívia atualmente, também estão na pauta
dos jogadores do país andino.
Na semana anterior ao jogo
de hoje contra o Brasil, os jogadores convocados pelo técnico
Erwin Sanchez ameaçavam
nem entrar em campo. Cobravam do governo e dos cartolas o
cumprimento de vários acordos anteriores, como respeito a
decisões judiciais e o pagamento de um plano de saúde.
A insurgência mais grave
aconteceu no primeiro semestre, quando os jogadores convocaram uma greve geral.
O motivo: o mesmo que paralisou recentemente outros setores da economia boliviana,
como o de transportes.
Os atletas não admitiam pagar uma taxa de 15,5% de seus
salários, o que seria o equivalente ao Imposto de Renda da
maioria das nações -em mais
de 30 anos de liga profissional
boliviana, os jogadores de futebol não pagavam imposto.
Só que no caso dos jogadores
o governo Molares não teve a
mesma dureza que tem contra
o governo das Províncias mais
ricas que formam o país e de
empresários de vários setores.
Cinco dias depois da greve
decretada, um acordo entre
clubes e jogadores foi avalizado
pelo governo boliviano, e a paralisação foi suspensa.
O principal "piqueteiro" do
futebol boliviano é justamente
um antigo colaborador do governo de Morales.
Presidente do sindicato dos
jogadores da Bolívia, Milton
Melgar, que foi um atleta da seleção local, era até há pouco
tempo vice-ministro de Esportes de Morales e teve papel essencial na resistência ao veto
da Fifa a jogos na altitude, causa transformada em prioridade
no governo boliviano. Isso também porque Morales é fanático
por futebol -já foi até jogador
de clubes profissionais.
Melgar saiu atirando. Afirmou que apresentou 12 projetos ao presidente e não obteve
resposta para nenhum deles.
"Saio decepcionado", afirmou Melgar na ocasião.
Agora, ele promete endurecer se os novos acordos com os
cartolas e governo não forem
cumpridos, citando até a possibilidade de mais uma greve.
Com um cenário desses, a
Bolívia faz sua pior campanha
nas eliminatórias com a atual
fórmula e mesma ordem de jogos, o que acontece pela terceira vez. São apenas quatro pontos ganhos, o que faz do time o
lanterna do qualificatório para
o Mundial de 2010.
Desempenho que coloca o time em último lugar. Ainda assim, Dunga pede respeito máximo ao adversário na partida de
hoje à noite, no Engenhão.
"A primeira coisa que vou falar para os meus jogadores é para não utilizarem a palavra lanterna. Sabemos que eles estão
em situação ruim, mas também
têm pontos positivos", falou o
treinador do Brasil, sobre seu
rival de hoje no Rio de Janeiro.
(PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)
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