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FUTEBOL
Obsessão pela marcação
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Nos últimos anos, melhorou
bastante o comportamento
dos técnicos brasileiros durante
as partidas e nas entrevistas.
Hoje, a maioria trata bem os repórteres (é uma obrigação profissional) e explica as suas condutas.
O torcedor tem o direito de saber.
Antes, muitos treinadores não diziam nada ou sofismavam e ainda tratavam os jornalistas com
prepotência.
Alguns treinadores ainda não
perderam o hábito de enganar, de
dizer uma coisa aos repórteres e
outra para os jogadores. Muitos
desses agem assim porque pensam que os torcedores e a imprensa esportiva não entendem nada
de futebol.
Há muitos técnicos transparentes, como Tite, que tentam explicar tudo com teorias táticas, mas
é difícil entender os seus discursos
rebuscados e formais.
Durante as partidas, houve
também uma evolução no comportamento dos técnicos. Antes,
era comum eles pressionarem e
ofenderem árbitros e auxiliares.
Hoje, isso é raro. Alguns ainda reclamam demais, como Leão, Luxemburgo e Levir Culpi.
Vários técnicos adoram "cantar
o jogo" e gritar na lateral do campo. Falam que jogam com os atletas. Isso agrada a um grande número de torcedores, que prefere os
treinadores teatrais e menos competentes aos silenciosos que enxergam bem o jogo e dão instruções no momento certo, quando
pára a partida.
Os técnicos não precisam ser tão
insensíveis e posudos como os europeus (é também um teatro)
nem tão agitados e ansiosos como
os brasileiros. Nenhum treinador
vai mudar a história do jogo com
gritos e palavrões. Atrapalha
mais do que ajuda.
Na partida entre Cruzeiro e Coritiba, Antonio Lopes e Marco
Aurélio gritaram o tempo todo
"aperta, aperta". Evidentemente
que era para apertar na marcação. Interessante é que o Marco
Aurélio e o Antonio Lopes nunca
gritavam ao mesmo tempo. Será
que combinaram?
Antes, a ordem era "pega, pega". Faz pouca diferença. Será
que o Geninho, famoso por gritar
durante uma partida, berra hoje
"pega" ou "aperta"?
Os times brasileiros são os que
mais marcam e fazem faltas no
mundo. Os técnicos se tornaram
obsessivos pela marcação. Só pensam nisso. Virou uma epidemia,
uma neurose coletiva.
Quem é o melhor?
No ano passado, antes de o Cruzeiro disparar, discutia-se muito
qual era o melhor time brasileiro.
Agora, a dúvida é entre Santos e
Atlético-PR.
As duas equipes se destacam pela velocidade, habilidade e ofensividade. Mas há importantes diferenças. O Santos não tem um centroavante fixo, artilheiro absoluto
e que atue de pivô, como Washington. Todos os atacantes do
Santos se movimentam bastante
e fazem gols.
Em casa, o Santos pressiona,
marca a saída de bola, cria muitas chances de gol, mas deixa
muitos espaços na defesa.
Fora, o time muda a maneira
de jogar. O Atlético-PR, dentro e
fora de casa, prefere recuar um
pouco, atrair o adversário e tomar a bola no meio-campo para
contra-atacar, a sua principal
qualidade.
Os desenhos táticos são diferentes. O Atlético-PR joga com três
autênticos zagueiros e é bastante
ofensivo. Os dois alas avançam
como meias e fazem gols.
Outras equipes já começam a
fazer a mesma coisa. Com três zagueiros, não é necessário também
ter dois volantes somente marcadores.
O Santos joga com dois zagueiros e dois laterais, que avançam
bastante. O time corre muitos riscos na defesa, o que não acontecia
com o Cruzeiro no ano passado,
quando era dirigido pelo Luxemburgo e jogava da mesma forma.
Falta ao Santos um volante eficiente como Maldonado. Ricardinho também tem dificuldades para defender e atacar.
Individualmente, Santos e Atlético-PR estão no mesmo nível do
meio para a frente. O Santos tem
melhor lateral-esquerdo, porém o
goleiro e os dois zagueiros do
Atlético-PR são superiores. Marinho voltou a jogar bem, sem inventar e fazer firulas, como acontecia na época do Grêmio.
No balanço das virtudes e deficiências, acho o Atlético-PR um
pouco melhor. Isso e mais a diferença de três pontos dá ao time
paranaense razoável vantagem
para conquistar o título. Porém
muita coisa pode acontecer. Levir
Culpi, mesmo com vários títulos
na carreira, costuma se perder
diante do sucesso.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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