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DOPING
Dick Pound, presidente da Agência Mundial Antidoping, afirma que entidade identificou mais uma droga "secreta"
Wada já antevê novo escândalo mundial
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Na presidência da Wada (Agência Mundial Antidoping), o canadense Dick Pound viu sua entidade crescer em prestígio no ano
passado após a divulgação de diversos escândalos de doping. O
maior deles aconteceu com a descoberta do THG, um novo esteróide anabólico.
Neste ano, a agência pode flagrar novas estrelas. Entre as apostas da Wada está a descoberta de
outro esteróide, droga que aumenta a força muscular. "Um de
nossos laboratórios identificou a
droga e estuda um método de detecção. Em breve, alguns atletas
terão uma surpresa", disse
Pound, que pela primeira vez discutiu isso com a imprensa.
Em entrevista à Folha, o dirigente também falou do desafio de
criar um teste confiável para o
hGH (hormônio de crescimento
humano), que é usado na medicina para tratar crianças com problemas de crescimento e tem efeito anabólico. Caso o exame não fique pronto para os Jogos de Atenas, Pound diz que as amostras
olímpicas passarão por "recall".
Folha - Atualmente o doping é o
maior problema do esporte?
Dick Pound - Não é o maior, mas
é um problema importante.
Folha - Quais as estratégias da
Wada para combatê-lo?
Pound - O Código Mundial Antidoping é um passo importante.
Nossa prioridade, neste ano, é que
sua implementação seja feita com
consistência.
Folha - Há outros desafios?
Pound - As outras prioridades
são a pesquisa e a conscientização
sobre os perigos do doping. Naturalmente, os escândalos chamam
mais atenção. Mas trabalhamos
para que a próxima geração tenha
mais consciência do problema. A
educação é essencial nessa luta.
Folha - Os testes para o hGH são
um dos principais objetivos dos
controles. Haverá teste para essa
substância em Atenas?
Pound - Drogas que não eram
detectadas serão flagradas neste
ano. O hGH é uma delas. Não sei
quando o teste ficará pronto, mas
você só vai saber quando anunciarmos o primeiro caso positivo.
Se não conseguirmos flagrar o
hGH a tempo dos Jogos, as amostras da Olimpíada serão guardadas e haverá "recall" logo que
houver um método viável.
Folha - Seis meses depois do THG,
qual é a sua avaliação sobre esse
escândalo de doping?
Pound - Isso aumentou a consciência sobre o problema nos
EUA. Foi também um sinal claro
de que aqueles que procuram
meios ilícitos serão reprimidos.
Folha - Alguma coisa mudou nos
controles depois disso?
Pound - Sim. Até então, as drogas que auxiliavam o desempenho haviam sido desenvolvidas
para fins terapêuticos. Quando
um cientista redesenha a molécula de um esteróide, sua única finalidade é melhorar a performance
ilegalmente. É diferente do que
ocorria no passado, quando se estudavam novas drogas para melhorar a saúde das pessoas.
Folha - Não é difícil controlar esse
tipo de fraude no mundo?
Pound - Os casos serão descobertos. Um de nossos laboratórios credenciados identificou a
presença de um novo esteróide, e
nós estamos financiando a investigação sobre isso. Os atletas que
usarem essa substância poderão
ter alguma surpresa quando desenvolvermos um método capaz
de detectar a nova droga.
Folha - Qual esporte estaria na
mira desse novo teste?
Pound - Por enquanto não podemos dar mais detalhes.
Folha - Uma polêmica recente
aconteceu com a descoberta do doping de Jerome Young, em 1999.
Mesmo assim, ele competiu nos Jogos de Sydney-00 e levou o ouro no
revezamento 4 x 400 m. O que o senhor acha do caso?
Pound - É uma pena que a Federação de Atletismo dos EUA tenha escondido por tanto tempo a
documentação sobre isso. Foi
preciso o Comitê Olímpico dos
EUA e o COI terem feito ameaças
para que liberassem a papelada.
Folha - O que pode acontecer?
Pound - A Iaaf [entidade que comanda o atletismo] enviou o caso
à Corte de Arbitragem do Esporte. Tenho certeza de que ele será
punido. Isso mostrará que ninguém está livre de castigo.
Folha - Qual é a sua opinião sobre
os EUA na luta contra as drogas? No
passado, por causa de polêmicas
como a de Young, o senhor criticou
os americanos...
Pound - Os EUA assumiram
uma posição de liderança. O presidente George W. Bush já mostrou preocupação com o uso de
esteróides. Essa atitude é um sinal
do reconhecimento de que o doping é um problema social, com
conseqüências na saúde pública.
Folha - Porém as ligas americanas
ainda são permissivas...
Pound - Mas o Congresso está
pressionando a MLB [liga de beisebol] para que adote regras mais
consistentes contra o doping. As
ligas devem entender que elas
não são exceção nessa luta. Suas
regras são uma piada.
Folha - Por outro lado, há quem
ache pesadas as punições. Qual é a
sua opinião?
Pound - É preciso que haja suspensão rigorosa. A punição não é
só repressiva. Ela dá garantia de
tratamento igual a todos. Modalidades como natação e remo tinham punições mais severas, mas
alteraram as regras para se adaptarem ao novo código.
Folha - Mas alguns esportes, como o ciclismo, ainda mostram resistência à política da Wada. O senhor parece ter problemas com a
União Ciclística Internacional...
Pound - Também critico outros
esportes, mas não levarei o ciclismo a sério enquanto ele esconder
seus pecados. A UCI é a única federação olímpica que não disse
quando adotará o código.
Folha - Muitos dizem que os controles sempre estarão um passo
atrás da indústria farmacêutica. O
senhor concorda?
Pound - Os escândalos recentes
mostraram que a repressão aumentou. Acho que a criação a
Wada, em 1999, foi importante.
Isso aumentou os controles e promoveu a coordenação efetiva na
luta contra o doping. Quero ter
certeza de que quem tentar alguma fraude será descoberto.
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