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JUDÔ
Com um golpe só, Derly fracassa
Eliminado por rival de menor expressão, bicampeão mundial se desculpa após derrota
Sem repertório, brasileiro reconhece que lhe faltou agressividade contra judoca cujo maior resultado era um bronze em torneio europeu
LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM
"Desculpa aí, pessoal."
Em tom quase confessional,
foi assim que o bicampeão
mundial dos meio-leves, João
Derly, encerrou sua conversa
com os jornalistas depois de ter
sido eliminado em Pequim.
Era o reconhecimento de que
não mostrou nas duas lutas que
disputou na Olimpíada um judô compatível com seu currículo e com a expectativa que havia
sobre seu desempenho.
Após vencer o sul-coreano
Kim Joojin na estréia pela pontuação mínima, graças à inversão de uma desvantagem no
placar no minuto final, o gaúcho de 27 anos foi superado.
Caiu ante o português Pedro
Dias, que tem cartel discreto,
cujo destaque é um bronze no
Campeonato Europeu, realizado neste ano em Lisboa.
O corte sofrido na cabeça em
sua luta de estréia não impediu
Dias de conseguir um wazari
sobre o brasileiro. Àquela altura da luta, Derly já estava atrás
no placar e insistia -praticamente apenas- na mesma técnica, de catada de perna, quando sofreu o contragolpe.
"Quando firmava pegada, ele
entrava golpes, muitas vezes
sem a perspectiva de jogar, só
para desfazer a pegada. Isso me
prejudicou", disse ele, ao ser indagado sobre as causas de ter
variado tão pouco seu jogo durante a luta que selou sua eliminação. Depois, Dias foi derrotado, o que impediu o gaúcho de
disputar a repescagem.
Derly reconheceu que sentia
mais preocupação com o adversário da primeira luta do que
com seu algoz. E, apesar de ter
dito que sua preparação foi a
melhor possível, apontou pecados no segundo combate.
"A gente sempre procura o
que errou. Faltou um pouco
mais de agressividade com o
português", comentou ele, que
fez sua primeira participação
olímpica na China.
Ele alegou ter sentido que
Dias o estudara bastante, marcando suas principais técnicas.
Mas descartou que isso fosse
uma desculpa pela derrota.
"Eu poderia ter imposto mais
meu estilo. Acho que entrar em
erro de arbitragem é complicado. Houve alguns erros, mas
não posso culpar a arbitragem
pela minha derrota."
A menção às decisões dos juízes foi feita também por seu
técnico, Antônio Carlos Pereira, o Kiko. "Claro que nessa hora falar de arbitragem parece
desculpa, mas o João teve duas
entradas de golpe que não valeram pontuação", falou ele.
Antes do início do torneio
olímpico, a FIJ (Federação Internacional de Judô) manifestara que seria mais rígida no estrito cumprimento das regras
do judô e que a arbitragem tinha a orientação de não pontuar técnicas "importadas" de
outras modalidades de combate, como luta olímpica e sambô.
Apesar de prevista no repertório do judô e admitida por
suas regras, a estratégia de ataque às pernas, com o corpo arqueado -que Derly exibiu nas
lutas- é justamente o tipo de
tática que a FIJ deseja coibir.
Bem como o judô excessivamente defensivo, que o brasileiro admitiu ter praticado.
"Há dias em que nada funciona. E hoje, infelizmente, não
era o meu dia. Não é por ser bicampeão mundial que eu venceria aqui automaticamente."
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