São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2008

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JUDÔ

Com um golpe só, Derly fracassa

Eliminado por rival de menor expressão, bicampeão mundial se desculpa após derrota

Sem repertório, brasileiro reconhece que lhe faltou agressividade contra judoca cujo maior resultado era um bronze em torneio europeu


LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

"Desculpa aí, pessoal."
Em tom quase confessional, foi assim que o bicampeão mundial dos meio-leves, João Derly, encerrou sua conversa com os jornalistas depois de ter sido eliminado em Pequim.
Era o reconhecimento de que não mostrou nas duas lutas que disputou na Olimpíada um judô compatível com seu currículo e com a expectativa que havia sobre seu desempenho.
Após vencer o sul-coreano Kim Joojin na estréia pela pontuação mínima, graças à inversão de uma desvantagem no placar no minuto final, o gaúcho de 27 anos foi superado.
Caiu ante o português Pedro Dias, que tem cartel discreto, cujo destaque é um bronze no Campeonato Europeu, realizado neste ano em Lisboa.
O corte sofrido na cabeça em sua luta de estréia não impediu Dias de conseguir um wazari sobre o brasileiro. Àquela altura da luta, Derly já estava atrás no placar e insistia -praticamente apenas- na mesma técnica, de catada de perna, quando sofreu o contragolpe.
"Quando firmava pegada, ele entrava golpes, muitas vezes sem a perspectiva de jogar, só para desfazer a pegada. Isso me prejudicou", disse ele, ao ser indagado sobre as causas de ter variado tão pouco seu jogo durante a luta que selou sua eliminação. Depois, Dias foi derrotado, o que impediu o gaúcho de disputar a repescagem.
Derly reconheceu que sentia mais preocupação com o adversário da primeira luta do que com seu algoz. E, apesar de ter dito que sua preparação foi a melhor possível, apontou pecados no segundo combate.
"A gente sempre procura o que errou. Faltou um pouco mais de agressividade com o português", comentou ele, que fez sua primeira participação olímpica na China.
Ele alegou ter sentido que Dias o estudara bastante, marcando suas principais técnicas. Mas descartou que isso fosse uma desculpa pela derrota.
"Eu poderia ter imposto mais meu estilo. Acho que entrar em erro de arbitragem é complicado. Houve alguns erros, mas não posso culpar a arbitragem pela minha derrota."
A menção às decisões dos juízes foi feita também por seu técnico, Antônio Carlos Pereira, o Kiko. "Claro que nessa hora falar de arbitragem parece desculpa, mas o João teve duas entradas de golpe que não valeram pontuação", falou ele.
Antes do início do torneio olímpico, a FIJ (Federação Internacional de Judô) manifestara que seria mais rígida no estrito cumprimento das regras do judô e que a arbitragem tinha a orientação de não pontuar técnicas "importadas" de outras modalidades de combate, como luta olímpica e sambô.
Apesar de prevista no repertório do judô e admitida por suas regras, a estratégia de ataque às pernas, com o corpo arqueado -que Derly exibiu nas lutas- é justamente o tipo de tática que a FIJ deseja coibir. Bem como o judô excessivamente defensivo, que o brasileiro admitiu ter praticado.
"Há dias em que nada funciona. E hoje, infelizmente, não era o meu dia. Não é por ser bicampeão mundial que eu venceria aqui automaticamente."


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