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FUTEBOL
Técnico que liderou título inédito no rúgbi sonha em assumir a seleção
"Bernardinho inglês" quer a bola redonda, e não a oval
CAIO MAIA
DA REPORTAGEM LOCAL
O mundo do futebol inglês entrou em polvorosa na última semana, depois que sir Clive Woodward, técnico da equipe de rúgbi
do país, campeã da Copa do Mundo, anunciou a renúncia ao cargo.
Horas mais tarde, a imprensa
local divulgou que ele poderia assumir um posto na comissão técnica do Southampton, 12º colocado no último Campeonato Inglês
de futebol, de cujo "chairman",
Rupert Lowe, é amigo.
A história poderia ser só uma
das fofocas que alimentam os tablóides britânicos, não fosse o fato
de que não são poucas as pessoas
que levam a sério a possibilidade
de Woodward, que foi declarado
"sir" depois da conquista da Copa
do Mundo de rúgbi, chegar a assumir o "English Team".
Woodward é uma espécie de
Bernardinho da Inglaterra. O ex-técnico da seleção de rúgbi é tido
por todos como o homem que revolucionou a modalidade do país,
levando-o ao título de 2003.
A conquista, inédita para a nação que inventou o esporte, quebrou a hegemonia do hemisfério
Sul na Copa do Mundo. E o título
veio de forma dramática, na prorrogação, contra a Austrália em
Sydney, pela diferença mínima de
três pontos (20 a 17), conquistada
a 26 segundos do fim do período.
Mais que um estrategista do
rúgbi, Woodward é louvado por
sua habilidade organizacional e
motivacional. Tal qual Bernardinho, é tido como o "pai" dos atletas. Mas há uma diferença fundamental entre os dois.
"Amo futebol. Nunca tive essa
paixão pelo rúgbi. Fui forçado a
jogar rúgbi porque era o único jogo que minha escola praticava. E
eu detestava. Fugi várias vezes pelo futebol", declarou Woodward.
Mas, se ninguém duvida de que
a perda para o rúgbi será tremenda, há quem ache que a mudança
de esporte pode ser um desafio
grande demais, mesmo para um
mestre em relacionamento.
A seleção inglesa é treinada desde 2001 pelo sueco Sven Goran
Eriksson, o primeiro estrangeiro a
dirigi-la, que viu seu cargo ameaçado há algumas semanas, quando os tablóides ingleses revelaram
que ele tivera um caso com uma
secretária da FA, a federação inglesa de futebol.
Safou-se do escândalo porque a
cláusula de rescisão de seu contrato é altíssima, e não haveria base
legal para dispensá-lo por questões particulares. Até 2007, portanto, o cargo é dele, a não ser que
ele mesmo decida abrir mão.
Woodward já deixou claro mais
de uma vez que é esse o cargo que
cobiça, e que em 2007 espera estar
preparado para ocupá-lo.
Apesar das semelhanças que o
caso de Woodward possa ter com
o de Bernardinho, o futebol inglês
tem uma grande diferença em relação ao brasileiro: tem só uma
Copa, conquistada há 38 anos.
Não é difícil imaginar o que
aconteceria se, em pleno 2004 da
consagração do técnico da seleção
de vôlei, o Brasil estivesse há 38
anos sem ganhar a Copa do Mundo. Em 2000, antes de Luiz Felipe
Scolari assumir a seleção e quando o país esteve ameaçado de não
ir a uma Copa pela primeira vez,
houve quem se lembrasse, ainda
que em conversas de boteco, do
nome do então técnico do vôlei
feminino.
Antes de 2007, há uma Copa do
Mundo disputada na Alemanha, e
o desempenho do time inglês na
competição vai fazer toda a diferença na manutenção ou não de
Eriksson no cargo.
O fato é que o torcedor inglês dificilmente engolirá outro fracasso
em 2006. E, se em 2007, depois de
uma eventual saída precoce da Inglaterra da Copa de 2006, Woodward já tiver tido tempo de provar
seu valor nos campos de futebol,
há chances de que a pressão popular o leve ao cargo que deseja.
Se chegar lá, Woodward vai
romper, como tem lembrado a
mídia inglesa, uma linha estabelecida no século 19, quando foi fundada a federação inglesa de rúgbi
por clubes que não queriam mais
jogar o futebol só com os pés.
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