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FUTEBOL
Futebol de clichês
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Há anos, fiz uma análise crítica e irônica sobre os clichês
existentes no futebol. Faço agora
uma revisão e acrescento mais algumas frases.
- Faltou atitude.
É a frase da moda entre os técnicos e os jogadores. Substituiu a
pegada. A falta de atitude explica
todas as derrotas.
- O time teve boa dinâmica.
Os treinadores adoram essa palavra. A outra é equilibrado.
Qualquer dia vão dizer que a
equipe teve uma dinâmica equilibrada. Aí vira moda.
- O time acusou o golpe.
Futebol não é boxe nem luta
corporal.
- A melhor defesa é o ataque.
O time que ataca muito e não
defende bem geralmente perde.
- A bola procura o artilheiro.
A bola não enxerga. É o artilheiro que sabe, antes dos outros,
aonde a bola vai chegar.
- No passado, palavra era documento.
Parece até que no passado só
havia pessoas honestas. Quem
afirma isso não conhece nem um
pouco a alma humana.
- Ganha-se e perde-se todos.
A união é importante, mas alguns jogadores são mais decisivos
na vitória, e outros, na derrota.
- O time só perde para ele
mesmo.
É uma demonstração de menosprezo à equipe adversária.
- Pênalti é tão sério que só deveria ser batido pelo presidente.
Os presidentes estão tão sem
moral que é melhor mesmo bater
o jogador.
- Se ninguém falhar, a partida
terminará empatada.
Os acertos são muito mais importantes do que os erros.
- Vencer ou vencer.
Quem fala isso são os que têm
mais medo de perder.
- Treino é treino, jogo é jogo.
Nem sempre quem treina muito
joga bem, mas quem não treina
geralmente joga mal, com exceção de gênios como Didi.
- Não se ganha na véspera.
Nem depois do jogo.
- Dois a zero é um resultado
perigoso.
É mais perigoso que 3 a 0 e menos que 1 a 0.
- Pênalti é loteria.
Um pênalti depende muito do
estado emocional de quem o cobra, da competência do batedor,
dos treinos, do tamanho e da eficiência do goleiro adversário e
também da sorte.
- Quem não faz leva.
O time que joga melhor e perde
muitos gols na maioria das vezes
abre o placar da partida.
- Empatar fora de casa é um
bom resultado.
Num campeonato em que a vitória vale três pontos, empatar é
sempre ruim para quem deseja
disputar o título.
- Perdeu na hora certa.
O melhor, acredito, é não perder
em hora nenhuma.
- Se Deus quiser, vamos
vencer.
Deus está muito ocupado e
preocupado com coisas mais importantes. Vamos poupá-lo.
- O grupo está fechado.
O grupo tem de estar aberto, senão vira ditadura, panelinha.
- Será uma partida de seis
pontos.
Geralmente o clube de quem
afirma isso se encontra muito mal
na classificação do campeonato.
É a ilusão dos desesperados.
- O zagueiro tem de marcar o
adversário, e não a bola.
O defensor tem de ter um olho
na bola e outro no adversário.
- O time com dez jogadores joga melhor do que com 11.
Raramente acontece. Com freqüência, o time que tem um a menos leva goleada.
- O futebol é uma caixinha de
surpresas.
Essa é a melhor desculpa para
as derrotas.
- O treinador tem o time nas
mãos.
Ele é que pensa.
- Vamos correr atrás do prejuízo.
O time que perde tem de correr
atrás do lucro.
- Não existe mais time bobo.
Não tem time bobo, mas tem
muito time horrível.
- Calou a boca dos críticos.
Os próprios repórteres esportivos adoram falar isso. Se um jogador estava sendo corretamente
criticado e passa a jogar bem, não
foi o crítico que errou, e sim o jogador que melhorou.
- O importante é competir.
O importante é vencer, respeitando o adversário. O barão de
Coubertin, idealizador da Olimpíada da Era Moderna, nunca
disputou uma final de campeonato ou perdeu todas as decisões.
Estarei de férias nesta semana.
A coluna volta no dia 22. Até lá.
>E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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