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FUTEBOL
Futebol, TV e violência
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Durante oito anos, de 1994
a 2002, acompanhei no estádio a maior parte dos treinos e jogos da seleção, estive nos últimos
três Mundiais e assisti aos principais jogos dos times brasileiros.
Nos últimos anos, mudei de vida, fui sentir o cheiro do verde, escutar os passarinhos e passei a ver
a maioria dos jogos pela televisão.
Agora tenho mais informações e
vejo um número muito maior de
partidas, em todo o mundo. Perco
alguns detalhes técnicos e táticos.
Quando assistimos a uma partida pela TV, não vemos com os
nossos olhos, e sim com os olhos
de quem trabalha atrás da câmera e na edição das imagens. O
operador não vê o jogo. Vê imagens. A imagem é fria, insensível e
não pensa. Imagem não é tudo.
O fato de ter sido um jogador
que tinha a preocupação de observar o conjunto e um comentarista de partidas ao vivo pela TV,
nos estádios, durante muitos
anos, me deu condições para imaginar e deduzir alguns detalhes
técnicos e táticos que a imagem
não mostra. Tento, e muitas vezes
consigo, diferenciar o jogo editado do verdadeiro.
O ideal seria ir bastante aos estádios, ver todos os jogos e os noticiários pela TV e ainda assistir
aos treinos das equipes. Isso não é
possível. O ideal é algo inatingível, com uma distância variável
da realidade, que serve de referência para os nossos sonhos.
Quero ir mais aos estádios, mas
fico desestimulado ao ver agressões verbais e físicas, pontapés e
socos, como ocorreu em vários jogos na última semana. Isso não é
futebol. Agressores e juízes incompetentes precisam ser punidos.
Ao mesmo tempo em que começam a melhorar as condições dos
estádios e as brigas nas arquibancadas por causa do Estatuto do
Torcedor, aumenta a violência
nos gramados. Tudo começou
com excesso de faltas, algumas
violentas, e já virou literalmente
caso de polícia.
Aonde isso vai chegar?
Contradições do futebol
Nem sempre há uma relação direta entre a organização do futebol de um país, a estrutura profissional de um clube, a competência de dirigentes, comissão técnica e treinadores, a preparação e a
qualidade individual e coletiva
de um time e a conquista de títulos. Há outros fatores envolvidos.
Por isso, é perigoso endeusar e criticar alguns profissionais pelo resultado final de um campeonato.
O vice de futebol do Corinthians, Antônio Roque Citadini,
disse que os técnicos argentinos
são muito melhores do que os
brasileiros. Seria um recado para
o Geninho? Mario Sérgio, sem se
referir ao Carlos Bianchi, protestou e disse que na sua carreira de
jogador viu muitos técnicos medianos ganharem importantes títulos. Também vi e continuo vendo. As evidências são que o Bianchi é um excepcional técnico.
O Brasil se preparou muito mal
para as Copas de 1998 e 2002, por
causa, principalmente, do péssimo calendário, mas foi vice e
campeão do mundo. A principal
razão foi a qualidade da comissão técnica e atletas, especialmente de alguns craques, como os dois
Ronaldos, Rivaldo e Roberto Carlos. Só o gaúcho não estava em 98.
Em 2002, o título ficou mais fácil por causa da desclassificação
precoce e surpreendente da Argentina e da França, os graves erros dos árbitros contra a Espanha
e a Itália e as contusões e as ausências de vários grandes jogadores de outras seleções.
O Brasil não teve nada a ver
com o problema dos outros. Ganhou com justiça e méritos. Porém a Copa de 2002 foi fraca e atípica. O Brasil não tinha um excepcional conjunto. Tinha excepcionais jogadores.
O Mundial entre seleções é o
torneio mais importante do mundo, mas nem sempre se pode criar
conceitos de excelência técnica e
de boa administração num campeonato de um mês de duração e
de muitos jogos classificatórios.
Na Europa, as dificuldades para
conquistar a Copa de 2006 serão
bem maiores. Se a seleção não fizer uma preparação muito melhor do que a anterior, será muito
difícil ganhar o hexa.
Não se tem certeza também se
os grandes craques de 2002 estarão em forma. No momento, eles
são imprescindíveis. Kaká, Diego,
o já experiente Alex e outros excelentes atletas são apenas promessas para brilhar no Mundial.
Após o título de 2002, criou-se a
falsa impressão de que a seleção
ganha quando quer, independentemente da qualidade da preparação e da organização do futebol
brasileiro. Isso justificaria todos
os erros, até o continuísmo na
CBF e nas federações.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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