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FUTEBOL
Grato Redondo
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
Talvez ele seja o mais talentoso dos jogadores argentinos
que apareceram depois de Maradona. Só por isso o futebol seria
grato a ele. Mas a história é maior
e mais bonita do que parece e, pena, está mofando na ""gaveta".
Quando se fala em Redondo
vem logo na cabeça a imagem de
um baita jogador, de um cara de
técnica apurada, elegante em
campo, símbolo de que o futebol
contemporâneo tem craque e coisa e tal. Porém poucos tiveram o
privilégio de vê-lo regularmente.
Isso muito devido aos percalços
na carreira de Redondo. Para a
Copa de 94 a Argentina levou o
que seria seu time mais forte desde os anos 40, bastante pelo meio-campo com Maradona e ele -o
doping do primeiro derrubou tudo. Para 1998 o segundo estava
mais preparado, mas cabelos
compridos não agradavam o técnico Daniel Passarella. Para 2002,
bom, nem se falou em Redondo.
Há mais de dois anos o planeta
não vê ele atuar. Há um ano mal
se tem notícias dele. Parou de jogar? Está aonde? Ainda está no
Milan? Por que não joga? Perguntas assim vêm de vez em quando.
A última imagem forte de Redondo é um drible da vaca de calcanhar de costas (acho que é assim que se pode descrever aquilo
de forma simples) quando ele cruzou com o Manchester United na
Copa dos Campeões de 2000.
Depois, ele aceitou o desafio de
jogar no duro futebol italiano. Estourou um joelho e ficou meses
inativo. Passou por três cirurgias,
conviveu com médicos na Argentina, na Espanha, na Bélgica, na
França e na Itália. Nada. Nada.
Desde agosto do ano passado,
não tem o amparo oficial do Milan. Em um gesto raro, abriu mão
de receber o que teria direito
-tem contrato com o time até junho de 2003- enquanto não estivesse plenamente em forma, no
campo, defendendo a equipe.
Seu gesto, tão firme como quando ele abriu mão de defender seu
amado país por não concordar
com a posição tirana e tola de
Passarella, o fez ser ídolo no Milan e na Itália mesmo sem jogar.
Em abril deste ano, bancando
sua própria recuperação, soube
que poderia ir para a sala de operação pela quarta vez e encerrar
sua carreira de forma triste. Alarme falso, assim como foram falsas
as notícias de que voltaria em dezembro de 2001 (faz tempo, né?).
No meio do ano, enquanto as
atenções do mundo estavam voltadas para os dois joelhos de Ronaldo, o médico francês Gerard
Saillant deu uma olhada no joelho direito do argentino, cujos ligamentos foram danificados.
Nos últimos meses, a imprensa
italiana destacou Ronaldo e sua
""ingratidão" com a Inter e simplesmente esqueceu Redondo e
sua ""gratidão" ao Milan. Duas
histórias com suas semelhanças
(a genialidade é a maior) e diferenças (a discrição que pautou a
carreira do argentino é a maior).
Ronaldo estreou com show e
pompa em Madri, que já aplaudiu e venerou Redondo. Enquanto isso na Croácia o argentino
voltava a bater bola em despedida e festa de Boban. Pouca gente
de olho no evento, mas muita alegria para o volante (no melhor
sentido da palavra e da posição).
Em breve Redondo pode voltar
a atuar. Mas sua cabeça, mais
que seu joelho, não está 100% (o
verdadeiro drama de Pedrinho
veio à tona por aqui só agora).
""Não tenho mais ilusões. Não
quero iludir a mim mesmo", diz.
Mas Redondo já encheu de ilusões os amantes do futebol. Grato!
Grato Van Basten
Pena a sua lesão. Mas, neste ano, termina seu curso para técnico.
Grato Baresi
Deixou uma roubada na Inglaterra. É técnico do juvenil do Milan.
Grato Maldini
Doeu no coração, mas confirmou estar fora da seleção nacional.
Grato Leonardo
Foi à festa de Boban, viu amigos do Milan e por isso quis voltar.
Grato Weah
Um dos amigos no jogo de Boban, diz que o Milan é a sua família.
Grato Milan
Silvio Berlusconi, após um ano, voltou ao clube em que fez fama.
E-mail rbueno@folhasp.com.br
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