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FUTEBOL
Complicar é mais fácil
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Durante as minhas vidas
(atividades), percebi que os
grandes talentos são os que conhecem profundamente o básico,
enxergam o óbvio e fazem muito
bem as coisas simples e essenciais.
Além da técnica de cada profissão, eles possuem conhecimentos
mais amplos, de outras áreas, e
uma maior capacidade de observar, sintetizar, decidir e criar, no
momento certo. A maior parte
dessas qualidades não se aprende
nas escolas.
Quando era professor de medicina, havia os alunos que só se interessavam pelas exceções e pelo
que não era importante e os que
aprendiam bem todos os detalhes
básicos -estes últimos iriam se
tornar excelentes profissionais.
Mesmo os gênios, que fogem à
rotina e ao raciocínio lógico, são
os que tornam simples as coisas
complexas. Não se pode banalizar
também a palavra e chamar todos os craques de gênio. Esses são
raríssimos.
Na adolescência, assisti a uma
partida do Santos. Pelé e Coutinho trocavam passes até sem um
olhar para o outro. Após uma tabela, Pelé jogou a bola entre as
pernas de um zagueiro, encobriu
o goleiro e fez o gol.
Escutou-se um "ooohh" de espanto na arquibancada. Diante
dos movimentos do zagueiro e do
posicionamento do goleiro, Pelé
fez com muita técnica, simplesmente, o que se deveria fazer e
poucos fazem. Depois que fez, parecia fácil. Nisso estava a sua genialidade.
Os grandes treinadores são
também os que fazem as coisas
simples e essenciais. Alguns seguem também a intuição e inovam e arriscam, no momento certo -estes são os mais criativos e
os melhores.
Há muitos treinadores confusos
ou inexperientes, que gostam de
complicar. É mais fácil.
Na derrota do Cruzeiro para o
Santos Laguna, no México, o
inexperiente técnico Paulo César
Gusmão, que era auxiliar do Luxemburgo, em vez de fazer somente o básico, para ganhar confiança, quis inventar e fez tudo
que o Luxemburgo não faria.
No primeiro tempo, o Cruzeiro
jogava mal, mas a equipe estava
bem posicionada e o jogo, empatado. No segundo, Paulo César
trocou um atacante (Jussiê) por
um volante (Martinez), colocou o
Alex muito na frente, mudou as
posições do armador Wendell e
do lateral Leandro e, para completar a lambança, pôs o zagueiro
Bruno Quadros, que há muito
tempo não jogava no meio-campo, no lugar do Augusto Recife.
Não foram as substituições que
derrotaram o Cruzeiro, mas, se
não fosse o goleiro Gomes, o time
levaria uma goleada.
Ao contrário do Paulo César, o
santista Leão e o são-paulino Cuca não complicaram nas difíceis
vitórias sobre os times do Equador. No segundo tempo, as partidas estavam empatadas, e os dois
técnicos fizeram as substituições
lógicas e corretas. Não colocaram
jogadores fora de posição.
Mas não foram também as trocas de jogadores que decidiram
essas duas partidas, e sim os belos
gols do Luis Fabiano e do Robinho, que aprendeu a cabecear.
Três timaços
Entre os oito classificados na
Copa dos Campeões da Europa
estão os três melhores times: Real
Madrid, Milan e Arsenal. Não era
o mais esperado, mas não houve
surpresas nas eliminações da Juventus e do Manchester United,
que vivem maus momentos.
Se jogarem todos os titulares,
Real Madrid, Arsenal e Milan estão mais ou menos no mesmo nível. O Real tem mais craques do
meio-campo para a frente, porém
possui um sistema defensivo frágil e não há razoáveis reservas para o Ronaldo e o Roberto Carlos.
Isso é incompreensível, já que o
clube gastou uma fortuna em
contratações. O Milan é o mais
equilibrado dos três. Tem um ótimo ataque e uma defesa melhor
que as do Real e do Arsenal. O time inglês tem um excepcional
conjunto e dois craques na frente
(Henry e Bergkamp), além do excelente armador ofensivo Pires.
Os três times jogam com quatro
defensores. Arsenal e Real Madrid atuam com dois volantes e
um armador de cada lado. O Milan, em vez de quatro, tem três no
meio-campo e mais o Kaká livre e
próximo dos dois atacantes.
A maior parte dos grandes craques mundiais joga nessas três
equipes. Por isso são as melhores,
e não pelos esquemas táticos.
Faltam na Copa dos Campeões
deste ano poucos grandes craques, como Totti, da Roma, e Ronaldinho, do Barcelona. Se Real
Madrid, Arsenal ou Milan não
conquistarem o título, será uma
surpresa.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
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