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FUTEBOL
Primeiro Mundo
JOSÉ LUIZ DATENA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os vikings, quando partiam
para a guerra, pediam aos
seus deuses um coração mais duro para suportar as atrocidades
dos campos de batalha. Felipão
deve ter feito o mesmo para
aguentar Ricardo Coração de Cifrão & Cia (eu pediria estômago).
Mas vá lá.
O lábaro que ostentava de estrelas desmotivadas, quase apagadas, um astro ferido, prestes a implodir num buraco negro, dava a
Scolari a tarefa mítica, digna de
Zeus, de recriar o firmamento.
E fez-se a luz.
Quem esperava o Brasil tal como fênix renascido das cinzas nos
adoráveis campos do Senhor?
Erres rápidos como Mercúrio
desmoronando gigantes de papel,
favoritos das bolsas de Londres,
da terra do belo Beckham, Narciso da libra desvalorizada pelo
real ao menos no futebol. Tarefa
desse Hércules gaúcho chamado
Felipe, que nem precisou de 12
trabalhos. Bastaram G-7.
Curiosa final contra o gigante
germânico, outra potência da bola e da economia -sorte que
também econômica no talento
que transborda dos pés de Ronaldo, o Fenômeno.
Fenômeno este Brasil, onde os
homens deste campo são milionários de origem humilde que ganham seu pão numa justa reforma agrária desprovida de sem-terra, mas com arte de sobra.
Gênios de pés calejados em chutes de infância pobre nas bolas de
meia ou capotão dos quase extintos campos de pelada dos jardins
Irene da vida. Peritos em tecnologia de penta. Um Brasil de Primeiro Mundo -pelo menos este
com a taça. Mas ainda sem-teto.
Memória fraca
A conquista parece apagar tudo. Envolvidos em abraços de verde-amarelo das ruas, ao Palácio
da Alvorada, em Brasília, na volta triunfal, poucos devem lembrar da medida provisória que
pune com cadeia quem tira do futebol mais que o orgasmo do gol
ou o delírio das massas.
Ninguém deve comentar que esta CBF, quase um Estado independente, esteve sob ameaça de
intervenção pelos fatos apurados
em duas CPIs no Congresso.
Intervenção que não aconteceu
por quê? Talvez por obra do Espírito Santo.
Vergonha celestial
Quem entra no tradicional estádio das Laranjeiras parece estar
voltando ao Rio de Janeiro antigo
que o poeta definiu como "natureza que virou cidade". Vizinho
ao Palácio do Governo popular
do PT, um campo de linhas aristocráticas, como o passado campeão fluminense. Velhos tempos,
novos dias, quando desmandos
seguidos de péssimas administrações, como na maioria incontestável dos clubes brasileiros, jogaram um time grande numa crise
tamanha que jogadores declararam greve de um dia.
O motivo? Noventa dias sem receber um centavo.
Nosso futebol, glorificado pelo
mundo inteiro, vive a realidade
tupiniquim de cofres quebrados,
escândalos mal apurados, dirigentes ricos e jogadores implorando salários.
Em tempo
O bucólico estádio do Fluminenses tem ao fundo o Corcovado, com o Cristo Redentor de braços abertos, neste estágio, com
grande vontade de erguê-los e cobrir os olhos.
José Luiz Datena é jornalista e
apresentador da Rede Record
Tostão, em férias, volta a escrever
neste espaço em 4 de setembro
Gustavo de Floripa
Quando entrar na quadra de
Sttutgart, Guga lembrará os
primeiros passos no saibro
de sua ilha no Sul. Testará seu
corpo explorado ao limite,
preço de ter estado no topo
do mundo -hoje é o 14º,
num Brasil onde vice é sinônimo de último. Que ele seja
o menino que chama os rivais
de "caras" -Garrincha os
denominava de "João". Pois
foi assim que o Gustavo de
Floripa virou o rei da França.
Ao mestre...
Wanderley é grande técnico.
Mas, a exemplo de seu imponente sobrenome, duque de
Luxemburgo prefere trabalhar com craques. Só que os
tempos forçam a garimpar
talentos no país do futebol a
custo quase zero. Não foi assim que um dito "gasolina"
virou Pelé, um magérrimo
estudante de medicina virou
Sócrates, um humilde garoto
de Paulista, Rivaldo, e um carequinha, o Fenômeno?
E-mail
datena@uol.com.br
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