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Fora de grandes torneios há 90 dias, times apelam para escambo e papagaio
Parados, clubes voltam no tempo
FÁBIO SOARES
DA REPORTAGEM LOCAL
Criado há pouco mais de um
ano sob os rótulos de moralizador
e moderno, o calendário quadrienal do futebol brasileiro até agora
só ajudou a levar clubes tradicionais do país de volta ao passado.
Os efeitos da inovação, aliados à
Copa do Mundo, originaram a
maior lacuna da história recente
de times como Santos, Botafogo-RJ, Lusa, Guarani e Ponte Preta,
que completam hoje três meses
longe de competições relevantes.
Os cinco entraram em campo
pela última vez no dia 14 de abril,
na rodada final da fase classificatória do Torneio Rio-SP, e só devem voltar a atuar em 10 de agosto, no início do Nacional-2002.
O tricampeão brasileiro Internacional-RS vive situação semelhante, atenuada apenas pela rápida participação no Supercampeonato Gaúcho, encerrado dia 2 de
junho, mas que, segundo a própria direção do clube, "não mudou em nada a situação". O time
gaúcho não conseguiu na Sul-Minas vaga na Copa dos Campeões.
A longa inatividade trouxe de
volta ao cotidiano desses clubes
medidas que remontam um futebol antigo, ou seja, pobre. Na contramão de um esporte que movimenta cada vez mais dinheiro
mundo afora, voltaram à moda
entre os cartolas termos como escambo (troca de mercadorias) e
papagaio (empréstimo).
"O Inter vem se virando na base
do escambo. É jogador por jogador e muita negociação com os
fornecedores", lamentou Newton
Drummond, gerente de futebol
da equipe gaúcha. O clube apelou
também aos tradicionais sorteios,
que devem começar a partir da
primeira quinzena de agosto.
O Inter também atribui ao hiato
do calendário o aumento da inadimplência dos sócios. "Se não
tem jogo, eles somem e param de
pagar", ressaltou Drummond.
O Guarani está trocando espaço
em placas publicitárias por galões
de água e alimentos. "Temos uma
série de compromissos atrasados.
Estamos recorrendo a papagaios
e fazendo de tudo para vender jogadores", admitiu o vice-presidente, Antonio Carlos Cecacci.
O clube campineiro e o porto-alegrense se ajudam com amistosos. O Guarani recebeu o Inter
ontem no estádio Brinco de Ouro,
perdeu por 3 a 0, e o jogo de volta
acontece no Beira-Rio. Cada um
fica com a renda em seu campo e
banca a hospedagem do visitante.
No Santos, a receita geral encolheu de R$ 14,6 milhões no primeiro semestre de 2000 para R$
8,2 milhões neste ano. No mesmo
período, a folha de pagamento
mensal despencou de R$ 3 milhões para R$ 280 mil, segundo o
presidente Marcelo Teixeira.
O orçamento do Botafogo com
o elenco, antes de R$ 1,4 milhão,
foi reduzido a R$ 600 mil pelo presidente Mauro Ney Palmeiro.
"Só em 1955 o Botafogo passou
tanto tempo sem jogar porque ficamos fora do terceiro turno do
Carioca", recordou Palmeiro, sem
considerar as partidas do Estadual passado realizadas no decorrer da Copa na Ásia.
Por falta de recursos para as
passagens aéreas, o Botafogo desistiu de excursionar pela Europa,
onde enfrentaria, entre outros,
Paris Saint-Germain e Sporting.
Mesmo os clubes do Rio em atividade na Copa dos Campeões
enfrentam momentos periclitantes. O Flamengo depôs seu presidente na terça passada, os atletas
do Fluminense fizeram greve por
atraso de salários anteontem, e o
Vasco pena na tentativa de fechar
um contrato de fornecimento de
material esportivo com a Umbro.
Outra lembrança que é resultado das férias ditadas pelo calendário são as camisas sem patrocínio.
Santos, Guarani e Lusa ainda esperam boas ofertas pelo espaço
nos uniformes, algo cada vez mais
difícil devido à falta de exposição.
As glórias de outrora, por outro
lado, ajudaram o Santos a acertar
quatro amistosos no exterior, o
mais importante deles contra o
Glasgow Rangers, em Nova York.
Os clubes culpam os mentores
do calendário, elaborado claramente para atender interesses de
emissora de TV e cartolas. Mas
nesse ponto, o presidente do Santos faz o mea culpa. "Se eles mandam, é também por incompetência dos dirigentes dos clubes."
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