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JUDÔ
Eduardo Santos perde por decisão dos juízes e chora
Peso médio é vencido na única luta decidida na bandeira até ontem
Após 3 vitórias por ippon, novato tem problemas com arbitragem e acaba sem medalha; "Peço desculpas a meu pai e minha mãe", diz
LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM
O torneio olímpico de judô
teve, nos cinco primeiros dias
de competição, 377 lutas. Apenas uma foi decidida na bandeira, ontem. E o derrotado foi justamente o peso médio brasileiro Eduardo Santos, 25.
O fato de ele ter sido eliminado somente depois do tempo
regulamentar e da "morte súbita", em decisão dos juízes e por
um rival bem mais tarimbado,
ilustra bem sua trajetória olímpica. Há dois anos, Santos não
era nem sequer a terceira opção
da sua classe.
Em Pequim, ficou a duas vitórias da medalha de bronze,
depois de uma trajetória impressionante para um atleta
que só neste ano tirou passaporte para competir fora do
território brasileiro.
Mesmo assim, ele deixou o
tatame lamentando. "Peço desculpas a meu pai e minha mãe
por não ter sido competente
para jogar os outros", falou,
sem segurar o choro.
"Vim à Olimpíada para ganhar, não para participar. Não
queria nem ser o segundo. Fiz o
meu melhor, mas os adversários foram superiores", completou o novato.
Ele reconheceu que a inexperiência pesou. "Perdi por diferenças mínimas e ainda tenho
muito a evoluir. Estou chegando agora, não sei como funciona [nos eventos de primeira linha]. Mas essa situação de estar
entre os melhores e já ter os favoritos eu não tinha vivenciado. Achei que ia ganhar as duas
[lutas]", afirmou o judoca.
Na primeira derrota, para o
francês Yves Dafreville, Santos
teve um yuko (a pontuação intermediária) desconsiderado
pela arbitragem após intervenção da mesa diretora.
A pontuação o deixaria em
vantagem no combate. Sem ela,
precisou abrir o jogo, favorecendo o contragolpe do adversário, completado com uma
bem-sucedida imobilização.
Depois, a 30 segundos do fim
da prorrogação de sua luta contra o suíço Sergei Aschwanden,
a final da repescagem, Santos
foi punido por entrada falsa.
Após vaias do ginásio, a mesa
voltou a intervir, dessa vez a
seu favor, determinando a retomada da luta. Já ficara claro,
entretanto, que os juízes dariam a vitória para o rival.
"Achei que estava lutando
melhor. Na realidade, não entendi a atitude do juiz. Numa
luta tão equilibrada assim, o
juiz não pode tirar uma falta do
nada para decidir."
Na opinião de Santos, aquilo
influenciou no hantei (decisão
da luta na bandeira).
"Os três juízes concordaram
com a punição, e só os de fora
mandaram tirar, porque viram
que estava errado. Os que estavam lá dentro acharam que eu
não estava bem. Talvez, se estivessem fora, tivesse sido diferente", afirmou.
O judoca brasileiro disse que
será duro voltar para casa sem
medalha e, a despeito de ter sido indagado sobre o que fizera
nos Jogos Olímpicos -três vitórias por ippon-, refutou o
papel de vítima.
Até o final do ano passado,
Santos ainda era faixa marrom,
graduação que tinha havia uma
década. Não fizera o exame para obter a faixa preta porque lhe
faltava o dinheiro para pagar a
taxa obrigatória.
No dia em que essa situação
foi revelada pela Folha, a Federação Paulista de Judô imediatamente isentou o atleta do pagamento da taxa.
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