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FUTEBOL
A verdade dos treinadores
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Milan e Boca Juniors decidem nesta manhã o título
do Mundial interclubes. O time
italiano é muito melhor individualmente, mas não costuma impor sua superioridade. Os seus jogos são quase sempre difíceis. O
Milan não arrisca nem encanta.
Como tem muitos craques e uma
excepcional defesa, geralmente
vence. Porém não será surpreendente uma vitória do Boca, uma
equipe também eficiente.
Tentei entender por que o técnico Carlo Ancelotti não escalava o
Rivaldo nem na reserva. Possuo o
defeito (ou virtude) de procurar
compreender a lógica do outro,
mesmo quando ela não me agrada e seja absurda.
No meio-campo e no ataque, o
desenho tático do Milan é igual
ao da seleção brasileira e ao do
Cruzeiro, com uma linha de três
armadores mais defensivos e um
meia na ligação com os dois atacantes.
Imagino que, na visão estreita
do Ancelotti e da maioria dos técnicos europeus, as funções têm de
ser bem definidas e não podem
ser misturadas. Atacante tem de
se movimentar para os lados e em
direção ao gol.
Para o técnico italiano, Rivaldo
não é atacante porque recua para
armar as jogadas. Essa seria a
função do meia de ligação. Daí a
preferência do Ancelotti pelo medíocre centroavante dinamarquês Tomasson ao Rivaldo, para
a reserva de Inzaghi e Schevchenko, dois excelentes atacantes. Se o
Tomasson tiver sido o herói da final do Mundial, nada muda.
O técnico do Milan não percebeu que uma das grandes qualidades de um time é ter jogadores
que trocam de posição durante a
partida. Isso confunde a marcação. O atleta precisa ter uma função definida, de referência, o que
não significa que tenha de atuar
fixo.
Para Ancelotti, Rivaldo não é
também um bom meia de ligação, como Kaká e Rui Costa, porque não marca quando o time
perde a bola e demora muito para
soltá-la. Os técnicos italianos detestam a troca de passes e o futebol cadenciado. Kaká tem procurado passar rápido a bola, mais
do que fazia no São Paulo.
Demorar com a bola é realmente uma deficiência do Rivaldo.
Mas, às vezes, é preciso segurá-la
e esperar o momento certo para
fazer uma jogada mais contundente.
Na partida de quarta-feira pela
Copa dos Campeões da Europa,
Kaká jogou no ataque porque os
titulares já tinham viajado para
enfrentar o Boca Juniors. Ele
marcou um belíssimo gol. Na posição de atacante, Kaká recuava
para armar as jogadas e chegava
à frente, do jeito que o Rivaldo
atua e que o Ancelotti não gosta.
Isso vai confundir a cabeça do
treinador.
Assim como Parreira, o técnico
italiano também não quis retirar
um dos três volantes e escalar o
Rivaldo ao lado do Kaká ou do
Rui Costa e mais dois atacantes.
Kaká e Rui Costa chegaram a jogar juntos em alguns momentos,
atuaram bem, mas o Ancelotti
não gostou. Isso confronta com os
seus dogmas e teorias. Uma teoria
é boa até ser desmentida na prática. Aí arruma-se outra.
A verdade de um técnico ou de
qualquer profissional é no máximo uma das verdades. Há outras,
às vezes muito melhores. Temos
dificuldades em aceitar isso. Somos orgulhosos e prepotentes.
A elite vai ao campo
Márcio Braga, novo presidente
do Flamengo, criticou o diretor-executivo da Globo Esportes,
Marcelo Campos Pinto, que teria
dito num seminário promovido
pela FGV (Fundação Getúlio
Vargas) ser favorável à elitização
do futebol, com ingressos a preço
de teatro.
Se subirem os preços dos ingressos e melhorarem os estádios, provavelmente as classes média e alta irão mais ao campo, e isso poderá aumentar a receita dos clubes. Os pobres terão de assistir às
partidas pela televisão.
O futebol nos estádios é ainda a
única diversão acessível aos pobres. Querem acabar com ela. A
solução não é por aí, e sim melhorar os estádios e cobrar preços variados. Mas todo cidadão, pobre
ou não, tem o direito de ir ao
campo em ônibus confortáveis, de
ter segurança, de poder se sentar
em lugares marcados, de utilizar
banheiros limpos e de comer em
lanchonetes decentes. Tudo isso
está no Estatuto do Torcedor.
Os que quiserem se sentar em
poltronas de veludo, comer em
restaurantes com ar condicionado, assistir aos jogos em camarotes dentro dos estádios e outras
mordomias, que paguem muito
caro por isso.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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