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FUTEBOL
Misteriosa África
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
Onde será a Copa de 2010?
Essa pergunta norteou toda
a disputa da Copa da África deste
ano, que terminou ontem com a
primeira final árabe da história.
Faltam poucas semanas para a
Fifa anunciar o país-sede do primeiro Mundial africano. Na reta
final, a África do Sul vê o seu
tranqüilo favoritismo ser reduzido. E o resultado do torneio continental de seleções foi importante
para o início de uma real disputa
para abrigar a Copa do Mundo.
Tunísia e Marrocos, os merecidos finalistas da Copa da África,
jogaram boa parte de suas fichas
no torneio. Os tunisianos foram
testados e aprovados como anfitriões para os não muito rígidos
padrões do continente. Ao contrário do que aconteceu em recentes
disputas na chamada África Subsaariana, não houve registros de
grandes problemas na competição. Houve sim grande envolvimento do público, até pela campanha da equipe do treinador
francês Roger Lemerre, um cabo
eleitoral tunisiano em potencial.
Marrocos tem como trunfo sua
tradição futebolística, bem maior
que a da concorrente África do
Sul. A campanha marroquina
destaca a participação pioneira
de sua seleção na Copa de 70, o
fato de ser o país ser o primeiro de
seu continente a passar da primeira fase de uma Copa (1986), o
primeiro da região a se candidatar a sede do Mundial (tentou em
1994, 1998 e 2006) e até o primeiro
a estar na final do nobre torneio
(com o árbitro Said Belqola na
decisão de 1998: França x Brasil).
Se a rotatividade de continentes
na organização das Copas garantiu à África o torneio de 2010, essa
também só permitirá ao derrotado na votação do dia 15 de maio
em Zurique sonhar com a organização de um Mundial em 2030,
pelo menos (e o Uruguai já pede,
por razões centenárias, esse ano).
Marrocos é de fato a maior
ameaça à África do Sul. Saad Kettani, homem que foi incumbido
de tocar a candidatura marroquina, fechou com um time de
consultores liderados por Alan
Rothenberg, mentor da Copa dos
EUA em 1994. O rei Mohammed
não está esperando uma vitória
para investir. Já liberou US$ 180
milhões para Kettani e autorizou
a construção de três estádios, um
em Marrakech, onde seria uma
hipotética partida de abertura.
Nos últimos dias, a briga política se intensificou. A Conmebol recebeu Joseph Blatter, presidente
da Fifa, e também representantes
de África do Sul, Egito e Marrocos. O camaronês Issa Hayatou
foi reeleito na presidência da
Confederação Africana no mês
passado, o que garante em tese
uma neutralidade da entidade na
escolha do país-sede de 2010.
Os marroquinos apostam na
proximidade com a Europa e nos
contatos mais freqüentes com dirigentes do velho continente para
obter a maioria dos votos do Comitê Executivo da Fifa. Além disso, esperam tirar proveito de uma
certa acomodação da África do
Sul, que desde outubro não ousa
em sua campanha (na ocasião
Nelson Mandela fez meio uma visita surpresa à sede da Fifa).
Na Copa da África, os sul-africanos chegaram com nome e ficaram ainda na primeira fase, eliminados por Marrocos. Será?
Misterioso Brasil
Muitos brasileiros parecem não acreditar mesmo que o Brasil é a sede da Copa de 2014, o que poderia até ser comparado com um certo
complexo de inferioridade que, dizem, imperava no país antes da
Copa de 1950. O presidente da Fifa, Joseph Blatter, apenas reafirmou
nos últimos dias que o Brasil receberá o evento, coisa que boa parte
da imprensa nacional não entendeu direito e destacou como se fosse
mais um passo na ""luta" do Brasil para ser a sede. Há muito tempo
não há mistério nenhum. No dia 7 de março passado (quase um
ano), a Fifa anunciou que a Copa de 2014 será na América do Sul. No
dia 17 de março, a Conmebol aclamou por unanimidade a candidatura única do país (um dia antes, Julio Grondona, presidente da AFA,
já havia falado à coluna que o Brasil não teria adversários, nem mesmo a Argentina). Não há e nunca houve ""luta". É real, chegou a vez!
E-mail: rbueno@folhasp.com.br
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