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FUTEBOL
A vida não é só química
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Quando os jogadores de uma
equipe estão bastante entrosados, como os do Cruzeiro e os
do Santos, muitos treinadores dizem que houve um encaixe das
peças. Adoram falar em reposição
de peças. Parece oficina mecânica. Outros técnicos dizem que o time jogou por música. É mais poético, mas se tornou um clichê.
Só acredito na empatia, no
amor em todas as suas formas e
no entrosamento no futebol,
quando ocorre à primeira vista,
no primeiro olhar ou no primeiro
jogo. Independentemente de tempo e de treinos. As características
físicas e técnicas de uns atletas se
combinam com as de outros.
A convivência e os treinamentos são muito importantes para
melhorar e prolongar o entrosamento. Mas, se não houver afinidade no primeiro encontro, os jogadores podem treinar 500 anos
que não vão se entender.
Alguns cientistas falam que o
entrosamento só acontece, nas situações pessoais e de trabalho,
quando a química de um combina com a do outro. A vida não é
só isso. Há também afinidade de
desejos, de sonhos e de ideologias.
Chega de filosofias de botequim. Discordo do conceito de
que os técnicos têm sempre de escalar os melhores. Dois excelentes
jogadores, com as mesmas características e jogando em posições e
funções idênticas, não dão certo.
Um atrapalha o outro. Alex não
brilhou no Flamengo, principalmente, porque o time era muito
desorganizado e ele e Petkovic
ocupavam o mesmo lugar.
Kléber, Ricardinho e Gil se completam, no ataque e na defesa. Ricardinho e Gil ajudam na marcação, e os três aparecem juntos na
frente. Tudo sincronizado. Na
partida contra a Nigéria, houve
também um bom entrosamento
do lado direito, com Belletti, Kleberson e Ronaldinho, que já se conheciam.
Aconteceu também uma importante mudança tática na seleção.
Em vez do Ronaldinho ser o quarto jogador de meio-campo pela
direita, atacar e, depois, marcar
no campo do Brasil, como nos
dois amistosos anteriores, ele jogou mais avançado, na ligação
entre o meio e o ataque, mais pela
direita. Aí é o seu lugar.
Gil e Ricardinho voltavam para
marcar até o meio-campo. Mais
atrás havia uma linha de três armadores (Kleberson, Emerson e
Ricardinho) protegendo os quatro defensores. Os nigerianos tiveram pouco espaço na defesa do
Brasil. Quando o time recuperava
a bola, todos avançavam, com exceção dos dois zagueiros e do
Emerson. A equipe se entrosou no
primeiro encontro. Sem treino.
Como o Parreira vai escalar o
Alex? O jogador do Cruzeiro é um
meia de ligação, como Ronaldinho, o craque da atual seleção. A
posição do Alex é bem diferente
da do Ricardinho. Para o Ronaldinho e o Alex jogarem juntos, teria de sair o Gil. Não sei se haverá
encaixe ou se a química dos jogadores vai combinar.
O time perderia também o melhor trio pela esquerda do mundo,
segundo o Parreira. Começo a
desconfiar que o técnico não exagerou.
Não se pode também analisar
os jogadores e a equipe por apenas um amistoso, contra um time
que andou em campo, não marcou e que joga como nos anos 50.
A Nigéria foi uma revelação na
Copa de 94, ganhou a Olimpíada
de 96 e parou no tempo.
Se os novos jogadores e a seleção
brilharem nos próximos jogos,
muitos vão ganhar um lugar no
grupo que disputará as eliminatórias. Com o tempo, substituirão
alguns craques do penta. Ninguém sabe quando isso vai acontecer. Ainda é cedo.
Altíssimos salários
A diretoria do São Paulo efetivou o Rojas e disse que só falará
em técnico após 31 de dezembro.
É perigoso dizer isso. De interino,
Rojas passaria a ser o treinador
com mais segurança no futebol
brasileiro.
Se sempre critiquei a excessiva
importância que se dá aos treinadores, na vitória e na derrota, tenho de aplaudir a decisão do São
Paulo de se negar a pagar altíssimos salários por alguns treinadores, além da exigência de contratação de outros profissionais.
Os técnicos são importantes,
mas o futebol brasileiro vive outra realidade. Além disso, atuam
em clubes brasileiros somente
dois técnicos diferenciados, Luxemburgo e Leão. Outros, como
Rojas, estão mais ou menos no
mesmo nível.
Isso é um fato. Outro foi a lentidão do São Paulo em contratar
um treinador e a maneira deselegante como fritou e dispensou o
Oswaldo de Oliveira.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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