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Se jogue na balada
Na noite grega, dançarinas com biquínis brancos, a loura de farmácia e o Raul Gil helênico animam a platéia formada por poderosos chefões e campeões de jiu-jitsu e regada a uísque e flores, muitas flores
PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
O primeiro dia de maratona começou um pouco mais tarde porque teve "noite grega" na sexta. O
nome do lugar é Riba's, fica em
uma praia chamada Alianthos
Varkiza, a sudeste de Atenas, e foi
indicado como um dos mais típicos daqui. Para chegar, é preciso
passar por boa parte da orla sul,
que tem calçadões intercalados
por estradas em encostas, onde
motoqueiros fazem curvas praticamente deitados no chão.
Freqüentado pelos "Onassis" da
cidade, o lugar tem dimensões faraônicas, capacidade para 1.200
pessoas, um palco redondo iluminado por luzes feéricas verdes e
uma piscina coberta por uma passarela, na lateral, de onde surgem
os cantores na hora do show.
Na porta, o visitante é recebido
no topo da escadaria de mármore
por uma loura de farmácia muito
bronzeada, toda de branco, com
uma pantalona aberta na lateral
até o limite da calcinha, frente
única e unhas imensas prateadas.
"Kalispera!" ("Boa noite!"), ela
saúda quem chega.
Jornalista e fotógrafo são recebidos com todas as honras da casa e
encaminhados por cinco homens
de terno bege para uma das mesas
que estão dispostas num semicírculo, entre o palco e um cenário
de janelas falsas pintadas de salmão e azul. Os personagens que
assistem ao show parecem saídos de um filme
de máfia: cada mesa tem
o seu poderoso chefão,
que bebe muito, se emociona com os intérpretes, canta junto e paga
160 euros (mais de R$
500) por uma garrafa de
uísque -sem contar os
acompanhamentos.
Quinze moças de minissaia saem o tempo
todo dos bastidores das
tais janelas-cenários, no
lado oposto ao do palco,
carregando bandejas de
isopor quadradas, empilhadas: famintos, jornalista e fotógrafo pensam em algum prato típico grego. Errado.
As bandejas estão
cheias de flores (só o botão, sem o cabo) e custam 15 euros, cada. Poderoso chefão e família compram de pilha, para jogar
nos cantores que se apresentam,
como uma homenagem.
"Amo este lugar", diz o industrial Panagioti Theodoropoulos,
50, enchendo o copo do repórter
de uísque. Ele está na primeira fila
do show, com os dois filhos campeões de jiu-jitsu e já jogou mais
de 20 bandejas de flores no palco
(cerca de 300 euros). A mesa de
Theodoropoulos, que veste uma
calça amarela e uma camisa social
de linho aberta no peito, está
cheia de flores sobre uma tábua
de frios e queijos, tudo misturado.
Quatro cantores muito conhecidos na Grécia se apresentam até
4h. "Conheço Vassilis [Karras] há
30 anos", diz Theodoropoulos sobre o cantor que se apresenta, espécie de Raul Gil de terno branco.
Antes de Vassilis, estiveram no
palco Tóli Voskopoulos, Stelios
Dionysiou e Marina Solonos.
Muito bronzeada, cabeleira farta e
vestido justo terminando em
pontas, Marina grita muito, lança
os cabelos para um lado e para o
outro, requebra e levanta os braços, numa linguagem cênica que
ofuscaria até mesmo uma drag
queen mexicana.
De repente, sete outras dançarinas vestidas com biquínis tipo
duas peças brancos e botinhas entram pela passarela da piscina, em
fila, dançando passos de jazz dos
anos 80.
O povo vibra. E tome
bandeja de flores!
Day after
A lembrança da alegre
noitada grega é o combustível espiritual para
vencer os ingratos três
primeiros quilômetros
de maratona. Ninguém
na calçada, e, como passam poucos carros, é
possível ouvir o calor.
A 2,5 km da largada,
do lado direito, uma pequena estrada leva ao
museu da cidade de Maratona, que não tem a
ver com a corrida, mas
com mapas e estátuas referentes a 5.000 anos da
história da região. Recém-inaugurado, reserva boas surpresas.
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