|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GINÁSTICA
Gaúcha tenta ser primeira "estrangeira" a vencer a prova, disputada desde 1952
Começa hoje o desafio de Daiane contra a "cortina de ferro" no solo
ROBERTO DIAS
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS
Os duplos twists inquietaram a
física, a cor da pele esmagou barreiras da modalidade, a dor no
joelho testou sua superação. A
partir de hoje, o novo desafio de
Daiane dos Santos é a geografia.
Repare no mapa estampado
nesta página. É da área que se estende de Praga (República Tcheca) a Chimkent (Casaquistão) que
surgiram todas as campeãs olímpicas da história do solo.
Jamais alguém do continente
americano, da Europa Ocidental,
do Oriente, da África ou da Oceania triunfou nesta prova, que é
disputada nos Jogos desde 1952.
Tal concentração é peculiar até
na já microcósmica ginástica.
Houve campeãs americanas no
individual geral, na trave e na prova por equipes. Chinesas já levaram as paralelas. Alemãs (orientais, à época) ganharam o salto.
É algo incomum também para
outras modalidades. A prova
mais nobre da Olimpíada, os 100
m rasos do atletismo, já teve campeões dos EUA, da União Soviética, da Grã-Bretanha, de Trinidad
e Tobago, do Canadá e da Alemanha, isso só no período pós-1952.
A separar a Porto Alegre de
Daiane do círculo que ela tentará
romper a partir de hoje estão
10.990 km -a distância entre a
capital gaúcha e Praga.
O domínio do Leste Europeu na
ginástica artística é evidente. No
feminino, os três países que mais
ganharam medalhas são a União
Soviética (ainda líder, 88 pódios),
a Romênia (51) e a Hungria (23).
A supremacia se consolidou a
partir de Helsinque-52, quando a
URSS passou a disputar os Jogos.
"Treinadíssimos desde crianças,
seus atletas logo se transformaram em modelos para os concorrentes", relata o professor Nestor
Soares Publico no livro "Evolução
Histórica da Ginástica Olímpica".
Mas, com o colapso comunista,
a figura vai mudando aos poucos.
Daiane, 21, bate à porta do Leste
Europeu com uma mãozinha de
gente que veio de lá. São três ucranianos: o técnico da seleção, Oleg
Ostapenko, sua mulher, Nadia, e a
assistente Iryna Ilyashenko.
Única jurada brasileira na ginástica feminina destes Jogos, Yumi Sawasato considera a importação fundamental para a ascensão
do time nacional. "Há muitos
anos temos feito intercâmbios. Os
técnicos [do Leste Europeu] estão
pelo mundo todo. O regime fez
com que eles migrassem e levassem o conhecimento", diz.
Com gente de renome no banco
e resultados para mostrar, arma-se uma bola de neve a favor de
Daiane. Os jurados passaram a
ver com outros olhos suas apresentações. "Isso chama atenção. A
estrutura do Brasil conta", afirma
Georgette Vidor, ex-técnica da seleção de ginástica.
Não há grandes dúvidas de que
Daiane, atual campeã mundial, é a
favorita. Ou melhor, ela diz ter lá
as suas. "Pensam que é fácil, mas
vai ser complicado", declara.
O joelho direito, operado há 57
dias, ainda incomoda. É provável
que Daiane, por precaução física,
não exiba hoje seu melhor movimento, o duplo twist esticado (um
mortal com meia-volta e dois giros no ar, com as pernas retas).
A Confederação Brasileira de
Ginástica avalia que ela não precisa dele para ficar entre as oito primeiras e avançar à final do solo,
programada para o dia 23.
A eliminatória de hoje vale para
várias coisas. Define quem disputará as medalhas nos quatro aparelhos (solo, trave, barras assimétricas e salto sobre o cavalo), no
individual geral e também por
equipes.
Pela primeira vez, o Brasil envia
um time completo para uma
Olimpíada. O objetivo é ficar entre os oito finalistas.
A equipe integra o quarto grupo
a se apresentar, a partir das 15h
(de Brasília). Encontrará as seleções da França e da Espanha e
atletas do México, do Uzbequistão, da Bélgica e da Hungria.
A primeira apresentação olímpica de Daiane no solo está prevista para ocorrer entre 15h20 e
15h43, com flashes da TV.
Texto Anterior: Handebol: Brasileiras querem superar Sydney-00 Próximo Texto: Frase Índice
|