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NATAÇÃO
Mais vitorioso nadador do Brasil faz sua última prova e já tem planos de torcedor
Borges lembra de Barcelona, do calor seco e de como é difícil parar de nadar
DO ENVIADO A ATENAS
A cidade é quente como a da
primeira Olimpíada. Os adversários são fortes como os que lhe tomaram a primeira medalha de
ouro. A responsabilidade está sob
seus ombros, como em quase todos os torneios da carreira.
A cabeça de Gustavo Borges
mergulhou em um caleidoscópio
no dia de encerrar sua trajetória
esportiva. Conclusão do exame da
memória: parar de nadar não é
uma tarefa das mais simples.
"Claro que estou um pouco ansioso. É normal. Eu nunca parei
antes. Essa é a primeira vez", diz o
atleta de 31 anos.
E será a única. Isso se seu planejamento for seguido à risca. Borges arquitetou o fim de sua história nas piscinas em 2003.
Após o Pan-Americano de Santo Domingo, anunciou que Atenas marcaria o passo final de seu
caminho. Depois, pediu para ser
porta-bandeira na cerimônia de
abertura. Perdeu para o velejador
Torben Grael, mas conquistou o
direito de carregar o símbolo no
encerramento dos Jogos.
"Já estou montando a lista dos
esportes a que vou assistir na semana que vem, quando não estarei mais competindo", afirma.
Ele integra hoje o revezamento
4 x 100 m livre, que tem eliminatórias marcadas para às 6h, mesma
prova na qual conquistou sua derradeira medalha olímpica
-bronze em Sydney-2000.
A coleção começou oito anos
antes. Em Barcelona-1992, a prata
nos 100 m livre só veio após muito
sofrimento. O placar eletrônico
errou, colocou Borges em oitavo e
só depois de um protesto por escrito o resultado foi corrigido.
"É curioso lembrar de Barcelona agora. Era uma cidade com um
clima muito parecido com esse
calor seco aqui de Atenas."
Por causa desse sol, seus últimos dias na Vila Olímpica têm sido cumpridos na sacada do apartamento. É lá que os brasileiros jogam baralho no fim da tarde. É lá,
também, que Borges demonstra
um pouco da ansiedade.
"Ele vive feito um relógio, dizendo "faltam dois dias, um dia,
para eu pendurar a sunga'" relata
Eduardo Fischer.
Não é bem a sunga. Hoje ele nada com os trajes ditos modernos,
que diminuem o atrito com a
água. O material é bem diferente
do usado aos nove anos, quando
conquistou a primeira medalha.
O torneio era uma gincana escolar em Ituverava (São Paulo), cidade onde nasceu. Borges ficou
atrás de Fernando Fagione e Renê
Bertelli nos 50 m livre.
"Agora eles batem na minha
cintura, mas ainda tiram sarro
por terem me vencido naquele
dia", recorda o atleta, que tem
2,03 m de altura e pesa 98 kg.
Formado em economia pela
Universidade de Michigan, nos
EUA, já tem outras preocupações
longe do esporte. É dono de uma
academia em São Paulo e cuida
dos filhos Gustavo e Gabriela, frutos do casamento com a ex-nadadora espanhola Barbara Franco.
Mesmo assim, não descuida da
imagem de exemplo para a nova
geração. "Dou uns toques, mando
dormir cedo. Vou parar, mas esse
povo aqui continua. Preciso caprichar para que eles guardem
boas lembranças de mim", afirma.
(GUILHERME ROSEGUINI)
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