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FUTEBOL
Diploma não é essencial
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Q uando terminam suas carreiras, os jogadores, craques
ou não, em sua maior parte, sonham com uma atividade afim,
de técnico, comentarista, dirigente, empresário. Ter sido um jogador profissional ajuda bastante,
mas não é suficiente para ser um
bom técnico.
Muitos ex-jogadores não se preparam nem têm outras qualidades para a nova função, como capacidade de comando e preparo
teórico. Isso não significa que é
necessário ter diploma de técnico.
Conseguir um é fácil. Há muitas
escolinhas espalhadas por aí. Diploma não é essencial. Nem para
ser presidente da República.
Muitos excepcionais jogadores
não tiveram durante suas carreiras preocupações com o conjunto
e com os detalhes táticos. Não foram bons observadores. Outros,
ao contrário, prestaram atenção
em tudo. Há ainda os que sabiam
que não iam jogar. Luxemburgo
era o eterno reserva do Júnior no
Flamengo e aproveitava o tempo
ocioso no banco para ver melhor
a partida.
Há também o conceito e o preconceito, que excelentes jogadores
não serão bons técnicos. Não é
verdade. Beckenbauer, Cruyff e
Zagallo foram ótimos. Além do
mais, para brilhar na profissão, é
preciso que exista uma sequência.
Muitos ex-atletas não sabem o
que querem. Bicam de treinador,
comentarista, dirigente, empresário e não param em lugar nenhum. Por outro lado, comentar,
principalmente em rádio e em televisão, é um bom treinamento
para ser técnico. Aprende-se a enxergar o conjunto e a tirar conclusões rápidas.
Existem ainda os ex-craques,
como Pelé, que não são técnicos,
comentaristas nem acompanham
diariamente o futebol, mas adoram dar palpites. Obviamente, as
opiniões equivocadas do Rei não
são pelo fato de ele não entender
do assunto. Pelé está sempre viajando, posando de garoto-propaganda e só assiste ao futebol no
intervalo de uma foto e outra.
Para fazer bem qualquer coisa
na vida, até para ser famoso sem
talento (tá na moda), é preciso se
identificar com a profissão, assumi-la integralmente e conhecer os
detalhes técnicos e as referências
da atividade.
Ao assumir o comando do Fluminense, Renato Gaúcho disse,
com prepotência, que sua experiência de jogador era suficiente
para dar um nó tático nos treinadores. Será? Há na verdade uma
desconfiança sobre a capacidade
de Renato e de outros ex-atletas
de se transformarem em bons técnico. Talvez seja preconceito contra o eterno garotão da praia.
Quem sabe, Renato Gaúcho será
um excelente treinador? Tomara!
Para isso, Renato precisa decidir se quer ser um técnico para
valer ou apenas um bicão. Independentemente de sua passagem
pelo Fluminense, um técnico ou
qualquer profissional deveria ser
avaliado após anos de atividade.
Se resolver ser treinador, Renato Gaúcho, antes de tudo, deveria
abandonar o discurso de "boleiro", malandro, que fala a mesma
língua do jogador e que vai resolver tudo na conversa. Esse papo
está furado.
Brincar é preciso
Foi absurda a decisão do árbitro
gaúcho Leonardo Gaciba de punir o jogador Jabá do Coritiba
porque ele passou o pé por cima
da bola antes de tentar driblar o
jogador do Santos. Os árbitros
precisam ter o mínimo de sensibilidade e conhecimento para diferenciar uma descontraída e inofensiva demonstração de habilidade do deboche, como fez Edílson contra o Palmeiras.
A tentativa de humilhar o adversário não justifica também a
reação violenta dos que se sentiram ofendidos. Se os humanos
não controlarem seus instintos
agressivos, nos tornaremos todos
animais irracionais e violentos.
Em vez de punir o drible, a firula, o árbitro deveria ser mais rigorosos com a violência e o excesso
de faltas. A seleção foi campeã do
mundo com uma das menores
médias de faltas do Mundial (15
por jogo). A média nos últimos
Brasileiros está em torno de 25.
O futebol não pode perder o
sentido lúdico e se transformar
num esporte mal-humorado,
quadrado, violento e de falta de
imaginação.
Garrincha, o Charles Chaplin
de chuteiras, bailava para cá, para lá, com a única intenção de se
divertir e brincar. Em seguida,
dava um belíssimo passe ou fazia
o gol. Ele repetia nos gramados o
que fazia na infância, nos campos
de pelada.
Diante de tanta violência no
mundo e da finitude da existência, só restam amar e brincar
(sem humilhar) para a vida ficar
mais prazerosa.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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