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ATLETISMO
Valmir Nunes, recordista em prova de 100 km em pista de 400 m, vence evento na China e vira herói na Baixada
Santista de 39 anos é rei na corrida maluca
RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA
Correr 24 horas sem parar nem
para fazer xixi, dando volta após
volta em uma pista de 400 m até
totalizar quilometragens que
muitos considerariam fantásticas
ou malucas: esse é o sinônimo de
esporte para Valmir Nunes, brasileiro que domina o terreno das ultramaratonas nas Américas e já
colocou o nome no ranking dos
melhores corredores do mundo.
Esse santista de 39 anos acaba
de voltar de Taipei, na China, onde venceu a Soochow University
Endurance Race e quebrou os recordes brasileiro, sul-americano e
das Américas, que já eram seus.
Rodou 685 vezes na pista para totalizar 273.823 m. No ano passado, ele havia corrido 270.200 m
em uma prova em Campinas, onde derrubou a melhor marca continental, que era do norte-americano Mark Godale.
Ele perdeu três quilos durante a
corrida, em que enfrentou vento
e, especialmente, frio. "De madrugada, o corpo já está debilitado pelo esforço, a musculatura toda está doendo, está dura, está
presa, o corpo está pedindo para
parar", afirma Nunes.
Mesmo assim, os corredores seguem, e ninguém está garantido
na frente. Em Taipei, o grande
opositor de Nunes foi o japonês
Ryoichi Sekyia, recordista asiático
da modalidade, que já havia sido
derrotado pelo atleta brasileiro
em outra "corrida maluca" -a
Spartathlon, uma travessia de 246
km entre Atenas e Esparta, na
Grécia, que Nunes percorreu em
23h18min05 em 2001.
"A gente fica pensando em tudo. Só não posso me preocupar
com os adversários. Tudo bem, eu
ficava de olho no japonês, via
quantas voltas eu estava à frente
dele, ia calculando... Nisso o tempo vai passando e a gente vai tentando levar, porque é torturante,
mas é gratificante."
Em dinheiro, a gratificação é pequena, quando comparada com
prêmios de outros esportes. Na
China, por exemplo, Nunes ganhou US$ 3.000 pela vitória e, como luvas, mais um valor que ele
não revela.
Seu maior prêmio na carreira de
mais de dez anos e que inclui o bicampeonato mundial em provas
de 100 km -com 6h18min, Nunes tem o melhor tempo da história em Campeonatos Mundiais-
foi de US$ 30 mil.
"Se eu fosse falar pela parte financeira, por uma ultramaratona, o sujeito deveria ganhar um
edifício inteiro, porque o esforço é
muito grande, com treinamento
de manhã e à tarde, de segunda a
domingo. Se for pensar na parte
financeira... O Romário ganha R$
54 mil por dia. Não que ele não
mereça, mas, se a pessoa for pensar nisso, ninguém trabalha, eu
não treino. Não dá para pensar só
na parte financeira."
Mas claro que é importante:
"Tudo o que eu tenho hoje foi graças ao atletismo. Minha mulher se
forma este ano em direito, eu pago os estudos de minha filha, tenho a minha casa, tenho as minhas coisas. Se eu fosse trabalhar,
ia ser complicado".
Com o salário de vistoriador de
contêineres no porto de Santos,
uma das profissões que teve antes
de virar atleta profissional, não
conseguiria em um ano o que ganha em uma corrida: "Acho que
não teria nem condições de pagar
a faculdade de minha mulher".
Outra compensação importante é o reconhecimento público. Na
quinta-feira passada, quando voltou a Santos, Nunes foi recebido
com festa na cidade e desfilou em
um carro do Corpo de Bombeiros
ao lado da mulher, Kelly, e da filha, Natasha, 14.
Agora ele pretende descansar,
tirar umas férias curtas e se preparar, depois, para novos desafios
-que diz não saber ainda quais
são. "Por mim, faria mais umas
três provas neste ano. Com esse
resultado, vão surgir bons convites. E eu pretendo agora melhorar
essa marca."
Isso não parece impossível: afinal, a prova da China foi apenas
sua segunda experiência em corridas de 24 horas. E em ambas
quebrou recordes.
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