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FUTEBOL
Talento não sai de moda
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
O ser humano é um animal
racional, de hábito, de moda
e também desejoso de novidades.
Precisamos da rotina, do imponderável e do mistério.
A moda e o modismo existem
em todos os lugares. Já houve a
moda dos românticos, dos realistas, dos economistas formados em
Harvard, dos jovens executivos,
do politicamente correto, dos manuais de auto-ajuda (não sai de
moda), do "faz parte", "a nível
de" e agora dos sexólogos (para
todas as idades) e das aparências
-o importante é a imagem, parecer e não ser.
No futebol, já teve a moda do
futebol arte, do futebol de resultados, da defesa, do ataque, do contra-ataque, do líbero, do número
um, do ponta, do volante brucutu, do zagueiro zagueiro e outras.
A moda atual no futebol é marcar, não deixar o adversário jogar. Outras qualidades, como driblar, criar, ousar, finalizar, ficaram em segundo plano.
A frase da moda é: "Para jogar,
é preciso recuperar a bola". Nada
mais óbvio.
Porém, as equipes não estão tomando a bola, e sim paralisando
o jogo com faltas. Um número absurdo. Esse é um dos motivos de se
fazer tantos gols de bolas paradas.
É a moda, o estilo atual.
A melhor maneira de marcar
não é chegar junto, desarmar,
derrubar, e sim antecipar, chegar
antes.
Outra forma é se posicionar corretamente e não deixar espaços
para o adversário.
Uma outra palavra da moda,
relacionada à marcação e às vezes erradamente associada ao defensivismo, é contra-atacar, principalmente depois que o Boca Juniors jogando dessa forma ganhou duas vezes do Santos.
Nem sempre contra-atacar é a
mesma coisa que jogar na defesa.
Se a marcação se iniciar mais na
frente, a equipe estará perto do
outro gol no instante em que tomar a bola e, portanto, será bastante ofensiva.
Outras palavras da moda utilizada pelos técnicos na lateral do
campo são pressionar, encurtar e
pegar. Os treinadores falam que
gritam "pega, pega" no sentido de
chegar junto, desarmar e encurtar os espaços. É verdade.
Mas o significado principal de
pegar é agarrar, segurar. Quem
agarra, pode derrubar e agredir.
Na emoção de uma partida, misturam-se os significados na mente
de um jogador tenso, cansado e
pressionado.
O inconsciente não racionaliza,
só associa palavras e imagens.
Daí, numa fração de segundos,
um jogador pode dar um carrinho, pegar as pernas do adversário, ser expulso e prejudicar a
equipe.
Os jogadores são também pressionados pelos gritos de guerra de
parte da torcida. Essa sempre
acha que o seu time perde porque
não teve raça e que as agressões
verbais vão forçar os atletas a
atuarem melhor e com mais garra. Muitos desses, para não serem
chamados de pipoqueiros (palavra da moda), comportam-se como machões e agridem seus adversários.
A violência continua na moda.
A agressividade da sociedade é
transferida para os estádios. Em
vez de ser um local de espetáculo
lúdico, de entretenimento e de
disputa esportiva, o estádio de futebol está se transformando em
um ambiente hostil, numa praça
de guerra.
Vivemos em um país violento,
de muita miséria e injustiça. Isso
estimula a inata agressividade do
ser humano.
No esporte, a única coisa que
não sai de moda é o talento. Independe de época, lugar e estilo. Falar disso também virou moda.
Derrota e vitória
Não entendo da maioria dos esportes, mas no Pan não saí de
frente da televisão. Assisti até
taekwondo e squash. Não entendi
nada. Para gostar e torcer, não é
preciso compreender.
O Brasil bateu recorde de medalhas porque evoluiu, outros países
estavam muito desfalcados ou as
duas coisas? Deixo a resposta para os entendidos.
Sei como é prazeroso e emocionante ganhar um título, uma medalha. Na vitória, há uma indescritível alegria e sentimentos de
dever cumprido e de orgulho. Isso
deve ser mais evidente nos esportes individuais.
Em compensação, a frustração,
a culpa de não ter feito melhor e a
tristeza da derrota são terríveis,
principalmente, quando se esperava vencer, como aconteceu com
o vôlei masculino.
"Perder é uma forma de aprender. E ganhar, uma forma de se
esquecer o que se aprendeu"
(Carlos Drummond de Andrade).
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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