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FUTEBOL
Atrás da linha da bola
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Sempre que a seleção enfrenta
uma boa defesa e joga mal,
Parreira justifica que o rival tinha
oito ou nove jogadores atrás da linha da bola. É realmente difícil
ultrapassar essa marcação, mesmo com tantos craques.
A dificuldade ainda é maior se
o time que ataca coloca sete atrás
da linha da bola, como faz o Brasil, até contra um time que só defende. Eram três armadores muito recuados para proteger quatro
defensores contra um único atacante colombiano.
Quando o Brasil perdia a bola
no ataque ou finalizava mal, os
três armadores recuavam, ficavam próximos dos zagueiros e assistiam aos colombianos tocarem
a bola para os lados. Aí, eles entregavam a bola e esperavam o time brasileiro perto da área. O
Brasil perdia a bola no ataque, e a
chatice recomeçava. Uma das formas de vencer essa retranca é tomar a bola mais à frente, pelo menos no meio. Os armadores brasileiros marcaram de longe, e os zagueiros ficaram muito recuados,
encostados à grande área. A
"blitz" brasileira, anunciada antes do jogo, durou um minuto.
No segundo tempo, seria uma
boa chance para entrar mais um
atacante hábil e veloz pela ponta
(não há esse jogador no elenco)
ou pôr os dois Ronaldinhos,
Adriano e mais o Alex, e sair um
armador. Mas isso é impossível
para o Parreira porque ficariam
menos de sete jogadores atrás da
linha da bola. Esse é um dos dogmas do técnico.
Juninho Pernambucano e Kaká
fizeram falta, mas a principal dificuldade do Brasil foi coletiva. O
jogo contra a Venezuela não serve de referência. O Brasil goleou
também os fraquíssimos Bolívia e
Haiti sem o Kaká, e com ele e Juninho jogou mal várias partidas.
São cinco empates em dez jogos
pelas eliminatórias. Mesmo com
muito mais craques, o Brasil tem
hoje os mesmos 20 pontos que tinha nesse momento nas eliminatórias anteriores. A Argentina tinha 25 pontos e hoje tem 19.
Como o Brasil foi mal nas eliminatórias anteriores e foi campeão
na Copa, foi reforçada a enganosa idéia de que o time joga bem e
ganha quando quiser, de qualquer adversário. Bastaria treinar
15 dias. Não é sempre assim. É
preciso formar um bom conjunto.
Sempre que o Brasil joga mal,
falam também que os jogadores
estão desmotivados para atuar
em amistosos e ou contra seleções
inferiores nas eliminatórias. Não
é por aí. Os atletas sul-americanos são os que têm mais orgulho
de jogar e que mais se dedicam às
seleções de seus países.
Marcar e criar
Uma equipe em que o meio-campo marca pouco e de longe e
deixa o adversário tocar a bola e
pensar no que vai fazer só terá
grandes chances de vencer se tiver
muito mais craques do que os outros, como acontece com o Brasil.
Isso é uma coisa. Outra é supervalorizar a marcação em detrimento da criatividade e da ousadia, como fazem muitos técnicos
brasileiros. Outra razão dessa
preferência é a falta de talentos
individuais. Sem craques, só dá
para marcar e correr.
Todos os armadores de um
grande time precisam marcar e
criar. Não é uma coisa ou outra.
As equipes em que há uma rígida
divisão dessas funções se tornam
previsíveis, pouco criativas e fáceis de serem anuladas.
Baixinhos e altinhos
O técnico Marco Aurélio, do
Cruzeiro, disse que pretende aumentar a média de altura da
equipe, que é hoje de 1,80 m, para
o próximo ano. Os atletas de hoje
são muito maiores do que os do
passado. As jogadas pelo alto, que
não eram comuns nos anos 60,
tornaram-se as mais freqüentes,
às vezes as únicas.
A maioria dos grandes armadores e atacantes do passado tinha
menos de 1,75 m, como Pelé, Maradona, Romário, Gerson, Zico,
Rivellino, Dirceu Lopes e Reinaldo. Os melhores do futebol atual,
Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Ronaldo, Zidane, Thierry Henry,
Shevchenko, Adriano, Totti e Nistelrooy, medem mais de 1,80 m.
Quando fui convocado pela primeira vez para a seleção, alguns
disseram que eu não poderia ser
titular porque era baixinho. O
apelido Tostão (menor moeda da
época) e as minhas pernas curtas
e grossas davam a impressão de
que eu era menor do que era.
Antes do primeiro treino, foram
medidas as alturas dos jogadores
sob os olhares dos repórteres. Fiz
questão de ficar ao lado do Pelé.
Medi 1,71 m, e o Pelé, 1,72 m. Mostrei aos jornalistas, e ninguém
nunca mais disse que eu era baixinho para jogar na seleção.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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