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FUTEBOL
O poeta da derrota
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Hoje, os narradores e os comentaristas terão de trabalhar com uma calculadora.
Para conseguir a classificação,
oito equipes disputarão três vagas. Além do Gama, três entre seis
times serão rebaixados. Dos 13 jogos, apenas o entre Flamengo e
Guarani não vale nada. Nos outros, há pelo menos um time lutando para se classificar, para
não ser rebaixado ou para tentar
ficar entre os quatro primeiros.
Como não tenho nenhuma novidade para escrever sobre a rodada emocionante e decisiva de
hoje -a imprensa esportiva já
disse e repetiu tudo 1 milhão de
vezes-, transcrevo parte de um
poema maravilhoso, escrito pelo
poeta maior Carlos Drummond
de Andrade, após a eliminação
do Brasil na Copa do Mundo da
Inglaterra, em 1966.
Espero que essas palavras sirvam de consolo e incentivo para
os atletas e os clubes que vão cair.
Acho que desta vez não haverá virada de mesa.
"...eu, poeta da derrota, me
[levanto sem revolta e sem pranto
para saldar os atletas vencidos.
... depois da hora radiosa a hora
°[dura do esporte,
sem a qual não há prêmio
°°[que conforte,
pois perder é tocar alguma coisa
mais além da vitória,
[é encontrar-se
naquele ponto
°°°°[onde começa tudo
a nascer do perdido,
[lentamente."
Reunião de amigos
Após ser eleito, Luiz Inácio Lula
da Silva afirmou na abertura do
conselho consultivo do novo governo: "Esta não é uma reunião
de amigos".
A reunião de dirigentes que comandam o futebol brasileiro não
pode ser também uma reunião de
amigos. Esse é o problema básico
do esporte e do país.
Os "amigos" se reúnem, trocam
favores de acordo com interesses
pessoais, locais, financeiros e políticos e decidem o destino do futebol, da sociedade e o regulamento
da pelada de domingo.
Lentamente, isso está mudando. As pessoas estão mais conscientes dos seus direitos e deveres
e estão sendo eleitos governantes
e dirigentes de clubes com novas
idéias e atitudes, como Bebeto de
Freitas, no Botafogo.
Os dirigentes dos clubes, das federações e da CBF, em vez de tramarem nova virada de mesa, terão de agir para que a segunda
divisão seja um campeonato organizado, valorizado e rentável.
Se isso acontecer, os torcedores
das equipes rebaixadas ficarão
ainda mais apaixonados pelos
seus clubes.
Alguém já disse que a única
paixão (não confundir com
amor) que não acaba é a pelo time do coração.
A dupla da seleção
Está praticamente certo que
Carlos Alberto Parreira será o
coordenador da seleção brasileira, e Oswaldo de Oliveira, o treinador. O técnico atual do Corinthians vai coordenar todas as divisões de futebol da Confederação
Brasileira de Futebol. Não sei se a
equipe olímpica deverá ter outro
treinador.
Muitos poderiam argumentar
que o Parreira não seria o mais
indicado para técnico da seleção,
mas poucos vão discordar de sua
escolha para coordenador.
Além da experiência e do conhecimento técnico de futebol e
de áreas afins, Parreira é o mais
equilibrado e preparado emocionalmente para a função. É respeitado por todos, sem ser conivente
e fazedor de média.
Parreira teria indicado Oswaldo de Oliveira. Os dois são afinados e se admiram. Oliveira começou a carreira por causa do incentivo do professor. Não é uma escolha apenas por amizade, mas
também por competência.
Parreira não vai desejar o cargo
de técnico nem Oswaldo vai querer ter mais poderes. As funções
do treinador são as de escalar,
substituir e comandar o time nos
treinos e jogos. Não é de dirigir o
departamento de futebol. Isso é
função do coordenador.
Se não fosse a presença do Parreira, haveria muitas dúvidas sobre quem seria o treinador mais
indicado.
Como estrategista, prefiro o
Mário Sérgio ou Wanderley Luxemburgo. Porém um técnico,
principalmente o da seleção brasileira, não deve ser escolhido
apenas pelos seus conhecimentos
técnicos e táticos.
Oswaldo de Oliveira, além de
ser um bom treinador de campo, é
educado, equilibrado e respeitado
pelos jogadores e pela imprensa.
Ele não será também um super-héroi, como o Felipão.
Isso é bom para o futuro do futebol brasileiro.
E-mail: tostao.folha@uol.com.br
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