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Sars segura brasileiros na China
RICARDO WESTIN
DA SUCURSAL DO RIO
Não foi registrado nenhum caso
de pneumonia asiática entre os
cerca de 500 brasileiros que moram na China. Mesmo assim, pelo
menos 12 deles estão se vendo
obrigados a viver uma espécie de
quarentena. Eles são jogadores de
futebol e não podem deixar o país,
epicentro da doença.
É o caso do zagueiro Lula, da
equipe Qingdao: "Meu passaporte está em ordem e posso comprar
as passagens de volta para o Brasil
quando quiser. O problema é que
tenho um contrato com o clube, e
eles não querem me liberar para
fugir dessa pneumonia".
Assim que o surto de Sars (síndrome respiratória aguda grave,
na sigla em inglês) alcançou proporções alarmantes, os chineses
passaram a fugir de lugares onde
houvesse pessoas aglomeradas.
Por isso, todos os torneios esportivos que seriam disputados
em território chinês foram suspensos por tempo indeterminado. O país mal pôde sentir o gosto
do campeonato nacional de futebol. Há 40 dias, depois de apenas
três semanas de jogos, as 15 equipes receberam a notícia de que a
competição havia sido interrompida. Comenta-se que as partidas
só voltarão a ser disputadas no segundo semestre, em outubro.
Enquanto esperam alguma posição da Federação Chinesa, os
clubes continuam os treinamentos e fazem de conta que estão em
pré-temporada.
"Não tenho opção. Mas estou
treinando sem ânimo, sem objetivo e com medo do vírus", conta o
meia André Gaspar, companheiro de equipe de Lula.
Os dois tentaram explicar à direção do Qingdao que, enquanto
estivessem no Brasil, treinariam
por conta própria e que, assim
que o campeonato fosse retomado, voltariam imediatamente para a China. Foi tudo em vão.
"É importante que todos treinem juntos, incluindo os estrangeiros", respondeu à Folha o auxiliar técnico do time, Lee Chuman. "Tudo o que podemos fazer
é esperar."
Lula, que por causa da pneumonia asiática proibiu que a família o
visitasse em julho, não se conforma: "Os orientais são frios para lidar com essa situação. É difícil tocar o coração deles".
O medo da doença é tanto que,
na cidade de Chengdu, o meia
Marcelo Marmelo, do Sichuan, só
sai de casa para treinar e ir ao supermercado, mas sempre com
uma máscara protegendo o nariz
e a boca. "Não temos mais condições de ficar aqui. Se pegarmos a
doença, nem mesmo o Brasil vai
querer a gente de volta", diz.
A direção do Beijing Guoan,
equipe da capital, tomou uma atitude drástica. Deixou Pequim,
onde foi registrado o maior número de casos de Sars, e isolou toda a equipe -incluindo quatro
brasileiros- no centro de treinamento de uma cidade do interior.
O volante Marcos diz que no
abrigo se sente mais seguro. "Se
eu tivesse que continuar em Pequim, já teria ido embora há muito tempo", conta.
A Federação Chinesa espera definir a data para a volta do campeonato até o fim do mês. Enquanto a decisão não sai, os jogadores brasileiros não conseguem
esconder a impaciência.
"Todos nós já combinamos. Se
a situação perder o controle e não
tivermos segurança, vamos esquecer tudo e ir embora para casa.
Em primeiro lugar está a nossa vida", diz André Gaspar.
Não se sabe ao certo quantos jogadores de futebol brasileiros
atuam na China. A embaixada
tem conhecimento de 12. A CBF
acredita que o número possa chegar a 20 atletas.
A confederação brasileira tem
registro apenas de jogadores que
se mudam para o exterior. Mas
não é informada quando eles se
transferem para outro país.
Já passaram pelos gramados
chineses jogadores conhecidos,
como Júnior Baiano (titular na
Copa de 1998) e Márcio Santos
(campeão mundial em 1994).
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