São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2008

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GUERRA FRIA

Obsessiva, China já passa ouros de Atenas

Dos pódios chineses, 57% são de vitórias, em um total de 35

Pressão por ouros leva atletas a chorar e pedir desculpas por pratas, mas gera boa vantagem sobre os EUA no quadro


PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A PEQUIM

Para a China, o ouro é o que importa. E, com pouco mais da metade das provas da Olimpíada disputada, o anfitrião já superou, com folga, o número de primeiros lugares dos Jogos de Atenas-2004.
Ao fim das competições de ontem, a China já tinha 35 ouros, ou três a mais do que conseguiu na Grécia. Com mais uma medalha desse metal, iguala-se às 36 que os EUA conseguiram há quatro anos.
Em casa, os chineses vão goleando os norte-americanos. Eram 16 ouros a mais após as competições de ontem.
Os anfitriões já foram ao lugar mais alto do pódio em 15 modalidades, contra 14 de toda Olimpíada de Atenas. Em vários esportes, o salto de qualidade foi considerável.
Foram, por exemplo, três ouros no judô, contra só um em Atenas. Também foram cinco vitórias até ontem na ginástica artística, contra apenas uma nos Jogos anteriores.
Os chineses estão na frente no número de ouros tanto entre os homens quanto entre as mulheres. Há quatro anos, bateram os americanos apenas nas competições femininas.
A China tem portfólio de pódios bem diferente de outras potências. Nada menos do que 57% das medalhas obtidas pelo país até ontem foram de ouro. No caso dos EUA, esse número é de 29%. No da Austrália, o percentual é ainda mais baixo (28%).
Não sem razão. Submetidos a uma pressão pouco vista na história das Olimpíadas, atletas chineses que não conseguem o primeiro lugar, mesmo que tenham conquistado prata ou bronze, são colocados em segundo plano. Muitos deles sentem o golpe.
Após levar a prata na prova da carabina de 10 m no tiro, Zhu Qinan foi às lágrimas. "Coloquei todo o meu esforço para obter esse ouro, mas falhei. Eu sinto muito. Eu sinto pelo povo chinês, por meu país", disse o atirador.
Também no tiro, Du Li teve a chance de ganhar a primeira medalha de ouro, no primeiro dia de provas. Era a favorita, mas acabou em quinto lugar. Ela cogitou abandonar os Jogos, mas recuou e acabou ganhando o ouro em outro evento. "Foi uma vergonha terrível. Não porque eu não venci, mas porque eu deixei tanta gente decepcionada", afirmou a atleta, depois de falhar na primeira prova.
A imprensa chinesa, inclusive a oficial, é impiedosa com quem fracassa.
Um colunista pediu até que o governo parasse de gastar dinheiro com o time masculino de futebol depois que este foi eliminado ainda na primeira fase da Olimpíada. Houve protestos de torcedores, reprimidos pela polícia.
Após ganhar a prata no levantamento de peso, Li Hongli, que tinha status de favorito, foi questionado se não sentia vergonha por seu desempenho na competição.
A pressão pela medalha de ouro vem até das federações das diferentes modalidades. Várias delas decoraram seus centros de treinamento com frases incentivando a busca pelo lugar mais alto do pódio.
Na de tiro, por exemplo, a frase era "a mãe pátria está acima de tudo, busque o ouro na Olimpíada".


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