São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2008

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análise

Cara de Diego revelou tudo, menos o futuro

CRISTIANO CIPRIANO POMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Parecia filme repetido. Como Daiane dos Santos em 2004, Diego Hypólito era favoritíssimo ontem. Tinha os elementos mais difíceis, a vantagem da nota mais alta no classificatório e, o que é muito importante, o status perante os jurados.
Diego, porém, não arriscou. Pelo menos não naquele movimento que lhe tirou o título de campeão olímpico.
Era uma acrobacia fácil, daquelas que ele repete à exaustão e nunca erra. Difícil acreditar no que aconteceu, pois aquela aterrissagem o faria campeão olímpico.
Como Diego afirmara, o trabalho de oito anos foi definido em 1min10s. Nos últimos 5s, a casa caiu. A expressão no rosto de Diego, que ficará marcada para sempre, dizia tudo: cometera a falha imperdoável na ginástica.
A expressão evidenciou outro fator: o de que a ginástica do país ficou aquém do que disse ser capaz de fazer.
E o de que o solo, aparelho que mais alegrias permitiu ao país -3 títulos em Mundiais e 19 ouros na Copa do Mundo-, é o que mais castigou o sonho dos brasileiros.
A lucidez veio do técnico Oleg Ostapenko, que, antes dos Jogos, disse que o Brasil não ganharia nada. De novo, ele acertou, pois Jade Barbosa, sem estar 100% para fazer tudo o que sabia, e Daiane, com saídas do solo, não alcançaram o pódio histórico.
O Brasil pode até festejar seu recorde de finais -as três de ontem e as da seleção feminina e do individual geral-, mas o melhor resultado em Olimpíadas ainda é o quinto lugar no solo de Daiane em Atenas, quando ela mostrou que o país sabia perder. Só que, após tanta evolução, o esporte perdeu de novo. Como reagirá agora?
O drama brasileiro só é parecido ao de Cheng Fei, favorita para vencer dois aparelhos ontem e que caiu duas vezes. Chorou. Porém ela levou um bronze e, mais que tudo, já tinha um ouro (por equipes). E, na China, a ginástica está consolidada.
Já aqui o futuro da modalidade parece sombrio. Até o governo está alerta, já que não há mais seleção permanente. E, pelo que tudo indica, o novo presidente da CBG, a ser eleito no final do ano, assumirá só o cargo, pois o QG de Curitiba será incorporado a um clube que vem sendo montado no local.
Isso sem contar que é preciso, para 2012, lutar para segurar Ostapenko, dar estrutura a clubes e ginastas e tirar o peso das costas de Diego Hypólito, que até pediu desculpas, quando, mais importante, é saber em que momento ele se perdoará.


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