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FUTEBOL
Clubes de São Paulo compram material oficial da Penalty vendido pela FPF sem a emissão de nota fiscal ou recibo
Federação cria comércio irregular de bola
CESAR AUGUSTO
DA FOLHA RIBEIRÃO
A FPF (Federação Paulista de
Futebol) está vendendo irregularmente bolas oficiais a equipes do
interior e da capital.
Dirigentes de pelo menos 11 clubes paulistas afirmaram que a entidade negocia as bolas por quase
a metade do preço de mercado,
mas a FPF só aceita pagamento
em cheque ou dinheiro e não emite nota fiscal nem recibo. No total,
15 equipes foram ouvidas pela Folha nas últimas duas semanas.
A Penalty doa bolas à FPF em
troca de espaço publicitário durante as partidas.
Segundo a Receita Federal, a
não emissão de nota caracteriza
crime de sonegação fiscal.
Os clubes compraram, somente
neste ano, no mínimo 30 bolas cada. O Botafogo de Ribeirão Preto
é o recordista: 280. Fazendo o cálculo mínimo entre os 11 times que
confirmaram terem feito a compra, são pelo menos 580 bolas
vendidas, o que teria rendido R$
31.900 (R$ 55 cada uma) à FPF, dinheiro que, em tese, não consta
das contas da entidade.
A Penalty, por meio de uma nota oficial, informou que fornece
bolas a federações de futebol. Mas
desconhece, porém, o que a FPF
faz com o material.
Em nota enviada via fax, a federação garantiu que não vende bolas (leia texto nesta página).
Após ser contatada pela primeira vez, na sexta retrasada, a entidade inseriu em seu site a seguinte
frase: "a Federação Paulista de Futebol doou aos clubes, em 2002,
2.680 bolas da Penalty".
Em parte, é verdade. Segundo
os dirigentes ouvidos, uma primeira remessa de bolas -cerca
de 30- é doada. Depois, os times
alegam que vão comprando o
material na federação no decorrer
do campeonato, pois essa quantidade não é suficiente. A FPF exige
que o mandante dos jogos mantenha bolas novas, pelo menos sete,
dependendo da série disputada.
Os clubes alegam que, juntando
partidas oficiais, treinos táticos e
coletivos, 30 bolas não dão nem
para duas rodadas.
"Já fui várias vezes à federação
comprar as bolas", afirmou Cléber Maldaner, diretor de futebol
do Ituano, atual campeão da A-1.
O esquema funciona geralmente assim: os clubes enviam uma
pessoa com ofício da equipe endereçado a Farah, solicitando a
compra de bolas. Na federação, o
documento é entregue a um funcionário, que realiza a negociação.
Lá, as bolas -modelo Penalty
Star- saem por R$ 55. No mercado, custam, no mínimo, R$ 92.
Confirmaram esse procedimento
Mogi Mirim, União Barbarense,
Juventus, Ituano (todos da Série
A-1), Comercial, Olímpia (ambos
da segunda divisão), Sertãozinho,
Barretos (da Série A-3), Santarritense e Monte Azul (da B-1). Outros clubes confirmam a negociação sem nota fiscal, mas relatam
uma versão diferente.
É o caso do Botafogo. O vice-presidente de esportes da equipe,
Gilberto Pinhata, informa que,
quando precisa de bolas novas,
um funcionário da FPF traz o material de São Paulo para Ribeirão.
O dinheiro é dado com um recibo,
expedido pelo próprio Botafogo.
"Eles não nos dão nada, nem nota
fiscal nem recibo, nada", diz. "Já
compramos por volta de 280 bolas neste ano, que, depois, ficam
com nossos times amadores."
Há, entre os dirigentes ouvidos,
casos como o de Santino Soares
da Silva Júnior, presidente do Comercial, outro clube de Ribeirão.
Ele confirma a negociação, mas
diz que já passou cheque. Nota,
no entanto, nunca foi dada.
O diretor de marketing do Sertãozinho, Pedro Luiz Lopes, lembra que já ocorreu de a federação
mudar o modelo da bola a ser usada nos jogos no meio do campeonato, tornando obsoletas e inúteis
as que os times já haviam comprado. O clube informou que ainda na quinta-feira passada adquiriu mais um lote.
Em outro clube do interior, há
controvérsias. O ex-presidente da
Ferroviária, de Araraquara, Milton Cardoso, que renunciou ao
cargo há menos de um mês, garante já ter comprado bolas na federação durante sua gestão -o
que é desmentido pela atual diretoria. "Eles [a federação" vendem
as bolas sem nota e não aceitam
cheque", afirma Cardoso.
O atual diretor de futebol do
clube, Evandro Malara, diz, no
entanto, que está comprando todo o seu material esportivo no comércio de Araraquara.
Os únicos clubes que não quiseram falar sobre o assunto foram
Taquaritinga, União São João e
Francana. Coincidentemente, as
duas últimas equipes lutavam pelo título em suas séries até a semana retrasada.
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