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FUTEBOL
Indefinições
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Em uma de minhas caminhadas, quando converso com os
meus fantasmas e com o meu alter ego, um jovem me perguntou
sobre a diferença entre coordenador técnico, gerente e diretor técnico. Não sei -nem os clubes sabem. Antes de contratarem esses
profissionais, os dirigentes deveriam definir essas funções.
O coordenador deveria comandar a comissão técnica. Para isso,
precisaria ter amplos conhecimentos técnicos e humanos. Já o
gerente e/ou diretor técnico lembram o dirigente remunerado,
substituto do antigo cartola. Na
prática, todos esses nomes e funções se confundem.
Hoje, o técnico comanda quase
tudo. Após conversar com os especialistas da comissão técnica (médicos, preparadores físicos, fisiologistas, fisioterapeutas, nutricionistas etc), o treinador planeja e
executa os treinamentos técnicos
e táticos, define a maneira de jogar, escala a equipe e dirige o time
durante a partida.
Alguns treinadores, como Luxemburgo, Leão e Bonamigo, que
ficam mais tempo nos clubes, planejam as atividades para toda a
temporada, dispensam e indicam
contratações. Exercem as funções
de técnico e de coordenador. Os
outros entram e saem dos clubes
sem fazer qualquer planejamento. Os seus times quase sempre
vão mal. E os dirigentes não
aprendem.
Para resolver os problemas burocráticos, há funcionários especializados. As decisões financeiras
são discutidas pela diretoria. Será
que o novo gerente ou diretor técnico participa ativamente dessas
decisões?
Quem fala à imprensa pelo clube? Alguns dirigentes adoram
comparecer aos programas de televisão. Ex-atletas que exercem
outras funções nos clubes não
conseguem também ficar longe
dos noticiários. Misturam o passado com o presente.
O que fazem então o coordenador, gerente ou diretor técnico?
A maioria não participa das decisões técnicas, não planeja, não
resolve problemas administrativos ou burocráticos, não tem autonomia nem sabe o que fazer.
Muitos ex-jogadores e ídolos são
contratados para serem vitrines e
diminuírem a responsabilidade
dos dirigentes.
Existem ainda os funcionários
especiais. Na Copa de 2002, havia
um somente para acordar os jogadores. A CBF pagou altíssimos
prêmios para esse e outros "especialistas", como mostrou reportagem da Folha. Isso pode não ser
ilegal, mas é absurdo. A CBF é
uma entidade privada, porém de
interesse público.
Nesta indefinição de funções,
há casos especiais, como o do Zagallo, coordenador da seleção e
amigo do Parreira desde 1970. O
treinador tem admiração e respeito pelo companheiro. Zagallo
representa o homem experiente,
consultor e ainda pé-quente. Não
sei se o Zagallo influencia as decisões do Parreira, que é um técnico
estudioso, científico e organizado,
e o Zagallo é mais intuitivo. Os
dois se completam. Isso é bom.
Mas Zagallo não exerce a função
de coordenador da seleção.
Muitos acham que o coordenador deveria ser o chefão, que
acompanharia todo o trabalho
da comissão técnica, opinaria sobre os detalhes técnicos e táticos e
seria o responsável pela contratação de todos os profissionais, técnico e jogadores.
Daria certo ou haveria só troca
de poder? O coordenador teria de
estar acima e ter mais conhecimentos do que o técnico. Se os resultados não forem bons, o técnico tem a ótima desculpa de que
não foi ele quem escolheu os jogadores. Não poderia falar também
que foi o responsável pelo título.
O ideal seria o coordenador e o
técnico trabalharem em conjunto, dividindo funções, e em harmonia. O técnico daria a palavra
final sobre a escalação e a maneira de jogar. Isso é utópico? Na verdade, com raras exceções, os cargos de coordenador técnico, gerente e diretor técnico são hoje
ótimos empregos para quem quer
ganhar bem e não fazer nada ou
quase nada.
O prazer de ler
Acabei de ler dois excepcionais
livros: "As Brasas", do húngaro
Sándor Márai, e "Budapeste", escrito pelo Chico Buarque, supercraque da música e da literatura.
E parabéns à TV Globo pelo incentivo à prática da leitura nos
intervalos das partidas. É melhor
do que assistir às entrevistas com
a primeira professora do jogador
e as particularidades da vida pessoal dos atletas. Mas, como escreveu Ziraldo, ler não é um exercício. Sugere obrigação, dever.
Ler é um imenso prazer.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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