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FUTEBOL
Apenas quatro clubes da Série A ainda mantêm equipes femininas; técnico da seleção diz que esporte "não existe"
Brasil não é o país do futebol (feminino)
RICARDO WESTIN
DA SUCURSAL DO RIO
Dentro de campo, a atacante
Kátia Cilene e a zagueira Marina
defendem a mesma seleção brasileira feminina de futebol. Fora dele, vivem realidades diferentes.
Kátia, 26, é jogadora do San José
CyberRays, um dos principais times dos EUA. Diante do convite
para ganhar US$ 80 mil por ano,
decidiu deixar o Brasil há dois
anos. Mora com uma família
americana na Califórnia e tem
planos de cursar marketing esportivo. "Por enquanto, não penso em voltar", diz a jogadora.
Marina, 22, é instrutora numa
academia de ginástica em Guarapuava (PR) e só pode treinar aos
sábados, depois de viajar 400 km
até Foz do Iguaçu, onde fica a sede
de sua equipe, o Gresfi. "Recebo
só uma ajuda de custo, mas é melhor eu nem dizer de quanto é."
As histórias revelam a agonia
em que se encontra o futebol feminino no país. As duas equipes
brasileiras que Kátia defendeu
-Vasco e São Paulo- não existem mais e ela só pôde se tornar
profissional atuando no exterior.
Para Marina, o sacrifício de jogar num time que não oferece salário só vale a pena pela possibilidade de ser convocada para a seleção. "O futebol feminino praticamente não existe no Brasil", resume o técnico da seleção brasileira,
Paulo Gonçalves.
No país do futebol pentacampeão, de fato, é difícil encontrar
equipes dispostas a investir nas
mulheres. Apenas quatro dos 24
times que disputam a Série A do
Brasileiro mantêm times femininos -Guarani, Internacional, Juventude e Santos. Os demais não
querem saber do assunto.
Mesmo na seleção existem jogadoras sem time. É o caso da zagueira Juliana, 22, que defendeu o
Brasil em Sydney-2000, mas só
conseguiu apoio de uma equipe
de futebol de salão de São Paulo.
Os clubes cobram da CBF e das
federações estaduais um calendário oficial de competições. A
quarta e última edição do Brasileiro aconteceu em 2001. Os Estaduais de São Paulo e do Rio, por
exemplo, não devem acontecer
neste ano. Sem torneios, não há
como manter uma equipe.
Com o fim do Campeonato
Gaúcho do ano passado, em que o
Grêmio foi vice-campeão, todas
as jogadoras tiveram que ser dispensadas. Há a esperança de que
possam voltar no fim do ano, mas
só se houver uma nova edição do
torneio, o que não está certo.
O círculo vicioso se fecha com a
defesa da CBF e das federações,
que dizem que não podem organizar campeonatos se não houver
equipes para disputá-los.
"Enquanto isso, os talentos continuam escondidos", diz o técnico
da equipe feminina do Santos,
Kleiton Lima, que foi preparador
físico de Diego e Robinho. "No caso das mulheres, não podemos
pensar em categorias de base.
Nem mesmo as equipes principais são oficializadas."
O Internacional é a grande exceção. As jogadoras do atual campeão gaúcho recebem salário, têm
carteira de trabalho assinada e podem se dedicar ao esporte em
tempo integral.
O segredo do sucesso é a escolinha de futebol, que existe há oito
anos e forma as atletas da equipe
principal. Além do treinamento
convencional, as meninas ainda
têm aulas de inglês. Duda, a coordenadora técnica do time gaúcho,
explica: "Se os homens pensam
em jogar lá fora, mesmo com todas as boas oportunidades que
eles têm no Brasil, imagine as mulheres, que não têm opção nenhuma por aqui. Todas pensam em ir
para os Estados Unidos."
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