|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ATLETISMO
Brasileiro seria ouro nos 200 m e bronze nos 100 m em Seul-88, se atletas pegos no doping não tivessem competido
Caetano, 15 anos depois, festeja "triunfos"
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Róbson Caetano poderia ter sido o primeiro brasileiro a subir ao
pódio olímpico nos 100 m, a prova mais nobre do atletismo. Mais:
poderia ter conquistado o primeiro ouro do país em competições
de velocidade -no caso, os 200
m- nos Jogos de Seul, em 1988.
Nada disso ocorreu. Mas poderia ter acontecido, caso o Usoc, o
Comitê Olímpico dos EUA, tivesse vetado a participação de seus
competidores que foram pegos
no antidoping algumas semanas
antes do início da Olimpíada.
A denúncia foi feita por Wade
Exum, diretor de controle de drogas do Usoc entre 1991 a 2000, à
revista "Sports Illustrated", que
chega às bancas amanhã.
"Pode ser que essa polêmica que
está sendo levantada me dê as medalhas que tenho direito. Senão,
nada disso vai ter valido a pena.
Espero que isso sirva para que, no
futuro, essas histórias não se repitam", afirma Róbson Caetano, 38,
que disputaria também os Jogos
de Barcelona-92 e Atlanta-96.
Segundo Exum, Lewis foi pego
três vezes no antidoping para
pseudoefedrina, efedrina e fenilpropanolamina, estimulantes banidos que são encontrados em
medicamentos contra a gripe.
Após alegar desconhecer que a
droga era considerada doping, o
velocista foi liberado para representar os EUA em Seul.
Procurado pela "Sports Illustrated", o atleta não foi encontrado.
Seu advogado negou o doping,
mas admitiu que seu cliente tomava, na época, um suplemento
alimentar à base de ervas.
Maior nome da história do atletismo americano, Lewis ganhou
nove ouros e uma prata em Jogos.
"É o tipo de coisa que a gente
não comenta muito [suspeita de
doping]. A legislação sempre protegeu os atletas americanos. Talvez eles conseguissem burlar a lei
por causa dos grandes interesses
em jogo", acredita o brasileiro.
Outro campeão olímpico, Joseph DeLoach foi pego para as
mesmas substâncias de Lewis.
Perdoado, bateu seu compatriota na final dos 200 m. Caetano
ficou com o bronze. Sem os dois
concorrentes na disputa, o brasileiro ficaria em primeiro lugar.
"Não estou com a medalha de
campeão olímpico aqui em casa",
lamenta o velocista. "Mas meu
bronze brilha como ouro."
Na principal prova de velocidade, ele também poderia ascender
ao pódio. Mas isso não ocorreu
na final dos 100 m, a mais escandalosa da história dos Jogos.
Ben Johnson, que havia conquistado o ouro e batido o recorde mundial com o tempo de 9s79,
acabou eliminado por ter sido pego no antidoping. "O Ben Johnson foi um bode expiatório porque o Canadá não é uma grande
potência esportiva. Por que os
EUA nunca tiveram um atleta de
renome pego no doping em
Olimpíadas?", pergunta Caetano.
Lewis herdou o ouro, e Linford
Christie ficou com a prata. Ao
britânico foi dado o que o COI
chama de "benefício da dúvida"
quando foi encontrada pseudoefedrina na análise de seu exame.
Christie alegou que a droga estaria presente em um suplemento
de ginseng que havia tomado.
Posteriormente, o atleta, ouro
nos 100 m nos Jogos de Barcelona, admitiria o uso de doping.
"Em 1989, perguntei a um dirigente [da federação britânica] se
ele sabia que eu usava drogas. Ele
disse que sim", contou Christie.
Positivo para norandrosterona
-metabolização da nandrolona,
um esteróide anabólico, no organismo-, o velocista recebeu dois
anos de suspensão em 2000.
Se Lewis e Christie não tivessem
competido, Caetano, que foi sexto
nos 100 m, iria para o quarto lugar. Seria bronze com a punição
de Johnson. Assim, Calvin Smith
(EUA) herdaria o ouro e seu compatriota, Dennis Mitchell, a prata.
"Acho que foi a melhor geração
de velocistas da história. E aquela
prova foi marcante para mim por
eu ter sido o primeiro brasileiro a
chegar na final dos 100 m em uma
Olimpíada", recorda-se Caetano.
Texto Anterior: Ponte Preta faz mudanças Próximo Texto: Hipismo: Pessoa se classifica em 2º para a final da Copa Índice
|