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Entidade se nega a paralisar futebol durante Jogos-2012 e expõe rixa política com o COB
Por 2ª Copa no Brasil, CBF diz não ao sonho olímpico do Rio
FERNANDO MELLO
DO PAINEL FC
Não bastasse ter como rivais algumas das maiores potências do
planeta, no que foi definido pelo
Comitê Olímpico Internacional
como a mais dura disputa da história pelos Jogos, a candidatura
do Rio a 2012 ganhou um inimigo
dentro de casa: a Confederação
Brasileira de Futebol.
A entidade não enviará à Prefeitura do Rio documento considerado essencial pelo COI, expondo
o racha entre Ricardo Teixeira e
Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro.
A disputa política entre os dois
mais influentes cartolas do país
será agravada pela negativa da
CBF em assegurar que, durante o
"período olímpico" -cerca de
sete semanas- não haverá nenhuma partida de futebol por torneios oficiais no Grande Rio.
"Não posso alijar os times do
Rio da disputa do Campeonato
Brasileiro. Também não posso interrompê-lo por quase dois meses. Por isso, não temos como dar
esta garantia", disse Teixeira à Folha, por telefone, de Miami, onde
acompanha a seleção sub-23.
São várias as alegações oficiais
para a CBF não atender ao ofício
de Ruy Cezar, secretário de Esportes do Rio. A primeira é que o
futebol não pode ter prejuízos por
causa da Olimpíada. Pelo raciocínio, os clubes não arrecadarão dinheiro sem jogos, seja via bilheteria, seja pelos contratos firmados
com a TV. Para completar, teriam
que continuar pagando salários a
seus atletas e funcionários normalmente. Poderia haver quebradeira, argumenta a CBF.
O segundo motivo oficial está
no prazo de paralisação. Além dos
16 dias da competição, o COI determina que não podem ser realizados eventos na sede olímpica
nas duas semanas anteriores e nas
duas posteriores aos Jogos.
Antes de tomar a decisão, Teixeira consultou Eduardo Viana, o
Caixa D'Água. O presidente da
Federação do Rio concordou e
disse também não estar disposto a
dar o aval para a paralisação.
Para além dos motivos oficiais,
no entanto, estão em jogo as disputas históricas entre CBF e COB,
Teixeira e Nuzman, CBF e governo federal, Fifa e COI, Copa do
Mundo e Jogos Olímpicos.
Ao criar dificuldades para a candidatura do Rio, Teixeira pensa
em sua maior meta, algo que nem
seu ex-sogro João Havelange conseguiu: realizar uma Copa no Brasil. Na avaliação do dirigente, se o
Rio vencer, diminuiriam consideravelmente as chances de o país
abrigar o Mundial em 2014.
Embora publicamente diga que
não, a CBF trabalha fortemente
com a possibilidade de apresentar
"candidatura-tampão" para ser
sede da Copa em 2010.
Para isso, Teixeira aposta que
nenhum país da África será aprovado pelo Comitê Executivo da
Fifa -do qual faz parte.
"Muita gente fala da candidatura do Rio, mas ninguém fala da
Copa do Mundo no Brasil, um antigo sonho, que está sacramentado pela Fifa. Seria fantástico para
a cidade do Rio receber uma
Olimpíada. Mas uma Copa tem
uma abrangência bem maior.
Afeta o país inteiro. Doze cidades
serão beneficiadas", diz Teixeira.
A negativa também envolve disputas políticas, tanto no exterior
quanto no Brasil. Fora do país, o
gesto pode trazer frutos a Teixeira
na Fifa. A entidade vive às turras
com o COI por ser tratada como
"patinho feio" nos Jogos.
Não beijar a mão do "movimento olímpico", colocando o futebol
acima dos outros, é um ato simpático a Joseph Blatter.
Em casa, a atitude tem dois alvos. O primeiro é Nuzman. Reservadamente, Teixeira diz que o
presidente do COB pouco fez para
ajudar o principal esporte do país
e que nunca deu valor a seu trabalho na CBF. Também acha que
Nuzman trabalhou para que ele
fosse afastado da entidade durante as CPIs que devassaram o futebol. Argumenta ainda que, ao
contrário da CBF, o COB usa dinheiro público, da Lei Piva.
A antipatia é recíproca. O COB
reclama que a CBF sempre cria dificuldades, seus atletas nunca ficam na Vila Olímpica e que Teixeira pouco aparece nas assembléias do comitê.
O outro alvo é Agnelo Queiroz.
Teixeira acha que o ministro é
muito próximo de Nuzman e não
deu apoio à articulação para a vinda da Copa-2014 para o Brasil.
Além disso, é contra vários pontos do Estatuto do Torcedor.
Colaborou João Carlos Assumpção,
da Reportagem Local
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