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FUTEBOL
Melhor do que ele pensava
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Após ser suspenso, merecidamente, e passar a assistir
aos jogos do Cruzeiro lá em cima,
de onde se vê muito melhor os detalhes, Luxemburgo conheceu
mais de perto o time e deve ter ficado surpreso. A equipe é melhor
do que ele pensava.
Isso não significa que o time do
Cruzeiro é uma maravilha. É excelente. Maravilhoso é o futebol
do Alex. Ele não pára de nos encantar. Contra o Vasco, deu até
chapéu com a cabeça. Alex não
vive apenas uma ótima fase. Ele
não está craque. Ele é craque.
Sempre foi. Surpresa foi ele ter
caído de produção durante algum tempo e não ter brilhado no
Mundial de 2002. Na época, não
mereceu a convocação.
O Cruzeiro é forte no ataque e
na defesa. Isso não é comum. O time atua com três atacantes (Alex
joga livre, próximo do Deivid e
Aristizábal), os laterais avançam
bastante e, mesmo assim, a defesa
não fica desprotegida.
Quando o time perde a bola, os
três do meio-campo recuam e formam uma linha à frente dos quatro defensores. Os três do ataque
se posicionam também em linha,
na faixa central do campo. Ao recuperar a bola, os laterais e os
atacantes chegam rápido ao ataque. No contragolpe, acontecem
os melhores momentos da equipe.
A maioria dos times do mundo
faz uma linha de quatro no meio-campo, na frente de quatro defensores. Isso fortalece a defesa, mas
a equipe perde o meia de ligação
com os dois atacantes. O Boca Juniors utilizou quatro volantes
contra o Santos. O São Paulo
atual joga com dois volantes e um
armador de cada lado, que defendem e atacam.
Os três armadores do Cruzeiro
se posicionam defensivamente como volantes. Nenhum é brucutu.
Eles desarmam e iniciam as jogadas e, às vezes, chegam ao ataque.
Os volantes são necessários. Brucutus é que não são.
Os times que atuam com três no
meio-campo, como o Cruzeiro,
geralmente são fracos na defesa,
como acontecia com o São Paulo,
antes do Rojas. A equipe dirigida
pelo Oswaldo de Oliveira tinha o
mesmo desenho tático do Cruzeiro (na prancheta), mas o único
volante (Maldonado) recuava e
era quase um terceiro zagueiro.
Sobravam só dois armadores, que
também avançavam. Havia um
enorme espaço no meio-campo.
A fragilidade defensiva do São
Paulo era mais de marcação coletiva do que de deficiência individual, como na época já dizia a Soninha. Rojas corrigiu o problema.
Quando o time tiver todos os titulares, poderá evoluir bastante.
Outra qualidade do Cruzeiro é
não ter um centroavante fixo, um
único artilheiro. Os três da frente
fazem gols. Isso é uma grande
vantagem em relação aos rivais.
Deivid é o único dos principais artilheiros do Brasileiro que não joga apenas pelo meio, perto do gol.
Deivid não fica na área. Aparece
na área, no momento certo.
Deivid é um atacante que faz
gols, dá ótimos passes, cruza bem
e nunca é considerado um jogador excepcional. Isso ocorre porque ele raramente dribla e pouco
conduz a bola. Ele é mais técnico
do que habilidoso e de poucas e
decisivas jogadas. Deivid não parece um excepcional atacante; é.
Ruim e caro
A oposição no Palmeiras mostrou num estudo detalhado que o
absurdo número de contratações
feitas pela atual diretoria nos últimos anos, de jogadores considerados bons e baratos, custou caro.
A receita do futebol diminuiu
muito mais do que as despesas. O
bom e barato era ruim e caro.
Isso não acontece só no Palmeiras. É uma característica da
maioria dos clubes europeus e
brasileiros, especialmente os do
Rio. Se houvesse um Brasileiro de
veteranos em decadência, as
equipes cariocas ganhariam fácil.
A solução é investir bem nas categorias de base, contratar profissionais competentes para ajudar
os garotos e buscar talentos desconhecidos em pequenas equipes do
interior de todo o Brasil, como
tem feito o Cruzeiro.
Muitos dirigentes ainda não
perceberam as mudanças que estão ocorrendo no futebol. Com o
término do passe e a esperada
aprovação do Estatuto do Desporto, os clubes terão as mesmas
responsabilidades de uma empresa comercial. Acabou a mamata.
Há uma crise técnica e financeira no futebol brasileiro que deve
se agravar nos próximos anos. A
saída de tantos jogadores para
equipes fora dos principais centros da Europa mostra isso. Os
grandes clubes que não tiverem
administrações competentes e
profissionais vão se tornar pequenos. Dentro e fora de campo.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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