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Brasileiro vê in loco drama de Liu Xiang
DO ENVIADO A PEQUIM
Um brasileiro viu de perto
o maior drama dos Jogos.
Médico da Confederação
Brasileira de Atletismo,
Cristiano Laurino estava ao
lado da equipe chinesa que
atendeu Liu Xiang instantes
antes de o atleta deixar a
Olimpíada e levar a China às
lágrimas, anteontem.
A área reservada ao Brasil
na pista de aquecimento do
Ninho de Pássaro é vizinha à
da China. E foi lá, longe das
câmeras, conta Laurino, que
os lances mais comoventes
ocorreram. A começar pela
chegada do atleta.
"O Liu Xiang já chegou
mancando, com dor muito
intensa. Já era nítido o semblante de preocupação e
dor", diz Laurino, especialista em ortopedia esportiva.
"Ele já foi logo abordado pelo
fisioterapeuta, foi atendido
pelos médicos, mas não havia muito o que fazer."
Segundo Laurino, Liu mal
permanecia em pé. "Quando
ficava em pé, ele reclamava
de muita dor. Quando foi fazer o aquecimento, ele mal
conseguia caminhar."
Entre uma cena e outra,
tentativas desesperadas da
equipe médica chinesa de
aliviar os efeitos da inflamação no tendão-de-aquiles.
"Eu vi fazerem uma massagem, uma fricção no ponto
doloroso... Tentaram também colocar uma bandagem
no local, para dar mais segurança nas pisadas", conta.
Mesmo sem condições,
Liu tentou. Laurino não esquece a cena seguinte. "Eu vi
vários chineses chorando."
Inflamações no tendão-de-aquiles são comuns em
atletas de velocidade, diz o
médico. "A dor está presente
na vida do atleta. Um profissional convive com isso por
anos. Mas há intensidades e
localizações mais preocupantes, e deve ser o caso."
Ontem, Liu, 25, medalha
de ouro em Atenas-04, apareceu na TV pedindo desculpas ao povo chinês. A entrevista foi gravada na segunda,
e só alguns trechos foram
exibidos pela CCTV, principal canal da emissora estatal.
"Há tantas pessoas preocupadas comigo e que me
ajudaram... Peço desculpas.
Mas não havia nada que eu
pudesse fazer. Sabia que
meu pé falharia. Estava
doendo só de trotar pela pista, uma dor insuportável."
Ele disse que não quis arriscar uma ruptura no tendão, o que tornaria sua volta
às pistas mais demorada e
complicada. E falou estar
confiante quanto à recuperação. "Sei que tenho capacidade para voltar ao nível de
antes assim que meu pé estiver recuperado. Agora, o
mais importante é curar este
problema, não ficar procurando culpados ou erros. Eu
posso garantir que não vou
desistir fácil."
(FÁBIO SEIXAS)
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