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NATAÇÃO
Tratado como celebridade, César Cielo se surpreende
Atleta teve que despistar fãs e foi assediado por crianças no Pinheiros
Primeiro nadador brasileiro
a ganhar medalha de ouro
em Olimpíada afirma que
já sabe que terá de se
preocupar com imagem
GIULLIANA BIANCONI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ao aterrissar no aeroporto de
Guarulhos, ontem, o medalhista olímpico César Cielo foi avisado pela mãe, Flávia Maria,
que não poderia sair pelo portão principal do desembarque.
Era ordem da segurança do
aeroporto, que temia por tumulto, já que o nadador teria
que cruzar o saguão para chegar ao restaurante onde concederia entrevista coletiva. "Ele
pediu para eu parar de brincadeira e disse que eu devia estar
exagerando. Eu apenas o alertei: "Filho, você não tem noção
do que você aprontou"."
Quando Cielo, cercado por
seguranças, surgiu na entrada
do restaurante, uma multidão
de repórteres e fãs correu em
sua direção, mas a estratégia
para que o nadador pudesse almoçar já estava traçada. Escoltado, foi levado para a cozinha.
Entrou pelos fundos. Minutos
mais tarde, ele confirmaria:
"Foi a primeira vez que tive que
fugir para fazer uma refeição,
mas, sem dúvida, tudo isso tem
um sabor especial".
O gosto da vitória, inclusive,
ele afirma que ainda está sentindo: "Às vezes paro e fico lembrando de tudo o que aconteceu. Do antes da prova, quando
eu estava com as mãos dormentes, de tão ansioso, e do depois,
quando vi meu nome em primeiro. Posso dizer que ser campeão olímpico é a melhor sensação do mundo".
Após a recepção no aeroporto, o dono do primeiro ouro da
natação brasileira seguiu, em
carro dos bombeiros, pelas ruas
de São Paulo com destino ao
Clube Pinheiros, onde treinou
dos 16 aos 18 anos.
Na chegada ao clube, Cielo,
que no aeroporto já havia experimentado um pouco da vida de
celebridade, pôde constatar
que os dias pacatos com os
quais estava acostumado na cidade americana de Auburn, definitivamente, tinham ficado
para trás. Ao lado do ex-nadador Fernando Scherer, agora
seu empresário, o medalhista
foi recebido com muita gritaria
por cerca de 200 crianças.
Algumas abandonaram a aula de natação e, ainda de maiô
molhado, correram para pedir
autógrafos. Não foram repreendidas, pois os professores
fizeram o mesmo. "É ótimo eles
verem um campeão de perto",
dizia o professor Johan Percis.
Passar pela garotada não foi
fácil. Sob gritos de "é, campeão", teve a camisa puxada diversas vezes até chegar à sala
reservada para mais uma entrevista. Após recuperar o fôlego, disse que estava surpreso
com tamanha recepção.
Indagado sobre a possibilidade da sua conquista gerar uma
"cielomania", com um "boom"
de crianças nas escolinhas de
natação, ele disse que ficaria
muito feliz se isso acontecesse.
E, acrescentou que, se junto a
esse "fenômeno" viesse também mais atenção para a natação, a modalidade poderia, futuramente, ter muitos outros
campeões.
"Eu tive pessoas em quem
me espelhar, que foram o Gustavo [Borges], o Scherer [Fernando Scherer], e sei como isso
é importante. Espero que eu
possa ser isso para essas crianças. Sei que, se já era importante eu me preocupar com minha
imagem, agora é mais ainda. Sei
que ganhar uma medalha olímpica envolve muita coisa."
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