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Natação abriga ex-preso político
LUCAS FERRAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM
A jornada dos nadadores
brasileiros em Pequim contou com o trabalho de um ex-preso político do regime militar. Rômulo Noronha, 62,
foi o chefe da delegação de
natação na China.
Noronha foi militante da
ALN (Ação Libertadora Nacional) do dissidente Carlos
Marighella, engajou-se na
luta armada, foi preso, torturado e agora espera reparação do governo pelo que sofreu em um dos períodos
mais sombrios do Brasil.
Segundo documentos do
extinto SNI (Serviço Nacional de Informação) a que a
Folha teve acesso, Noronha
integrou o Grupo de Fogo,
ala violenta da ALN, que defendia a guerrilha urbana.
Aos 24 anos, Noronha, filho de militar, era professor
de natação das categorias de
base do Flamengo e havia sido pára-quedista do Exército. Tinha a missão de ensinar
membros da ALN a atirar.
Em 1970, envolvido em
ação do grupo, foi preso. Saiu
do presídio de Ilha Grande
apenas quase nove anos depois. Sua mulher estava grávida. Ele conheceu Tânia, a
primeira filha, somente
quando ela tinha oito anos.
Além de ter sido afastado
da família, Noronha alega ter
sofrido torturas físicas e psicológicas, com choques elétricos. "Eu me orgulho de
não ter entregado ninguém."
Ele pleiteia indenização
correspondente ao cargo de
gerente de esportes do Flamengo, onde trabalhava
-atualizado em R$ 7.979,85.
Sua mulher foi também
torturada e presa depois de a
filha nascer. "Foi uma tristeza ter ficado longe da minha
filha. Os militares disseram
que minha mulher só sobreviveu por causa do bebê",
afirma, emocionado.
Noronha também pleiteia
reparação retroativa baseada na eventual indenização
mensal, por um período de
oito anos e 11 meses (tempo
que passou preso), o que lhe
renderia mais de R$ 850 mil.
O pedido foi protocolado
na Comissão de Anistia, do
Ministério da Justiça, em julho de 2005. Ainda não há
um prazo para ser julgado.
De acordo com registros
do SNI, Noronha, ou "Augusto", codinome que usava
na época, foi acusado de participar de ações armadas, como assaltos a bancos no Rio
e tentativa de roubar armas
na Fábrica do Andaraí.
O reencontro com a família ocorreu somente em fevereiro de 1979, quando ele
deixou a prisão no dia 6.
De volta ao esporte, tornou-se presidente da associação de treinadores de natação e liderou movimento
para estabelecer critérios
técnicos na escolha de atletas para competições.
Deixou Pequim com o ouro e o bronze de César Cielo.
"Nesta Olimpíada, vimos resultados de mudanças que
ajudamos a fazer na natação", afirma Noronha.
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