São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2008

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MADE IN CHINA

Luxo kitsch

COM MUITO DINHEIRO PARA GASTAR E PARA AGRADAR A NOVOS HÁBITOS DOS CHINESES, BARES E RESTAURANTES LUXUOSOS POVOAM PEQUIM PARA COMPETIR COM ESFUMAÇADOS KARAOKÊS

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

Parece um cruzamento de Versalhes com Disneylândia, mas é o maior bar e restaurante de Pequim. Nos 6.000 m2 do Lan Club, projetado pelo designer francês Philippe Starck, encontra-se um desvario kitsch por todo lado. Cabeças de rinoceronte nas paredes, divãs forrados de veludo, candelabros negros, espelhos gigantes, cristaleiras com imagens de Buda e faisões empalhados.
Centenas de reproduções baratas de quadros renascentistas ficam pregadas no teto, como se fossem paredes de um museu abarrotado nas alturas.
Apesar da ironia com o país da ostentação e da pirataria, o lugar é um sucesso. Até os anos 80, não havia restaurantes particulares em Pequim. Nos anos 90, era normal que todos fechassem antes das 22h.
Com muito dinheiro no ar e novos hábitos da população, muitas opções surgem para competir com os onipresentes karaokês enfumaçados, onde as pessoas cantam, jogam dados e passam a noite mandando mensagens pelo celular em salinhas privativas.
Os "reservados" também estão presentes no Lan -há 35 salinhas fantasiadas de tendas mongóis com poltronas prateadas e douradas.
Para fazer a decoração do Lan, o francês Starck, que também desenhou os hotéis Fasano, do Rio de Janeiro, e Faena, de Buenos Aires, ganhou US$ 1,5 milhão (cerca de R$ 2,56 mi) por três dias na prancheta.
Mas, na semana passada, o bar-restaurante ganhou um concorrente igualmente pretensioso, mas com menos espalhafato, o Legation Quarter.
É um conjunto de restaurantes, bares e galeria de arte instalados na antiga Embaixada dos EUA. Construído em 1903, o complexo servia de residência para convidados estrangeiros do regime comunista a partir de 1951.
Com investimento estimado de US$ 50 milhões (quase R$ 82 milhões), o Legation Quarter fica a um quarteirão da praça da Paz Celestial, o coração da capital chinesa, área mais freqüentada por militares e turistas do interior do que pelos yuppies chineses.
Com 16 mil m2, o conjunto de cinco prédios neoclássicos, que ganharam dois anexos -todos em vidro-, abriga restaurantes pilotados por chefs estrelados no Guia Michelin, como o francês Daniel Boulud e o italiano Claudio Sadler. Até o próximo mês, serão abertos um restaurante japonês, um bar de jazz e um restaurante espanhol.
"A idéia é que as pessoas venham beber, jantar e ouvir jazz, cercados de arte contemporânea", diz a gerente do Legation Quarter, Sophie Xia. "A cultura aqui é fundamental."
Bem, como os chineses ricos não vivem sem fazer compras, o Legation Quarter também tem uma filial da joalheria suíça Patek Phillipe. A China já é responsável por 12% do mercado de alto luxo do mundo, o segundo país na gastança com grifes caras, depois do Japão.
Os viciados em grifes -originais, não piratas- desfilam em bares como The Beach, no alto do complexo de entretenimento chamado Block 8, onde dançarinas russas tomam banho em chuveiros, cercadas por guarda-sóis e areia.
Ou na boate Richy, onde telões de alta definição emolduram as go-go girls locais, chinesas que dançam com minissaias exíguas e calcinhas prateadas. A trilha sonora pode misturar Gipsy Kings, Abba, Shakira a pop chinês. Tudo é novidade, até a trilha sonora.
"Esses lugares luxuosos visam os estrangeiros e os chineses mais ricos, mas seu futuro depende dos locais", diz Jim Boyce, colunista canadense que tem um dos blogs mais populares sobre a noite pequinesa, o "BeijingBoyce".
"Os pequineses são práticos, dão importância aos preços e têm dificuldades para pagar por um caríssimo prato em um restaurante francês quando já possuem uma cozinha incrível e a bom preço, a chinesa", afirma o blogueiro.
No luxuoso Lan, uma coca-cola pode custar 50 yuans (R$ 12) e, por uma cerveja, paga-se o equivalente a R$ 15. No restaurante italiano Sadler, um prato de ravióli vale o equivalente a R$ 35 -os pratos mais caros podem chegar a R$ 80.
Mas as discotecas pequinesas mais exclusivas cobram, no máximo, R$ 40 de entrada. Na badalada Richy, em plena temporada olímpica, a entrada custa o equivalente a R$ 15.
Apesar da inflação de templos luxuosos, a vida noturna de Pequim ainda é mais barata do que a de São Paulo.


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