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MADE IN CHINA
Luxo kitsch
COM MUITO DINHEIRO PARA GASTAR E PARA AGRADAR A NOVOS HÁBITOS DOS CHINESES, BARES E RESTAURANTES LUXUOSOS POVOAM PEQUIM PARA COMPETIR COM ESFUMAÇADOS KARAOKÊS
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Parece um cruzamento de
Versalhes com Disneylândia,
mas é o maior bar e restaurante
de Pequim. Nos 6.000 m2 do
Lan Club, projetado pelo designer francês Philippe Starck,
encontra-se um desvario
kitsch por todo lado. Cabeças
de rinoceronte nas paredes, divãs forrados de veludo, candelabros negros, espelhos gigantes, cristaleiras com imagens
de Buda e faisões empalhados.
Centenas de reproduções baratas de quadros renascentistas ficam pregadas no teto, como se fossem paredes de um
museu abarrotado nas alturas.
Apesar da ironia com o país
da ostentação e da pirataria, o
lugar é um sucesso. Até os anos
80, não havia restaurantes particulares em Pequim. Nos anos
90, era normal que todos fechassem antes das 22h.
Com muito dinheiro no ar e
novos hábitos da população,
muitas opções surgem para
competir com os onipresentes
karaokês enfumaçados, onde
as pessoas cantam, jogam dados e passam a noite mandando mensagens pelo celular em
salinhas privativas.
Os "reservados" também estão presentes no Lan -há 35
salinhas fantasiadas de tendas
mongóis com poltronas prateadas e douradas.
Para fazer a decoração do
Lan, o francês Starck, que também desenhou os hotéis Fasano, do Rio de Janeiro, e Faena,
de Buenos Aires, ganhou US$
1,5 milhão (cerca de R$ 2,56
mi) por três dias na prancheta.
Mas, na semana passada, o
bar-restaurante ganhou um
concorrente igualmente pretensioso, mas com menos espalhafato, o Legation Quarter.
É um conjunto de restaurantes, bares e galeria de arte
instalados na antiga Embaixada dos EUA. Construído em
1903, o complexo servia de residência para convidados estrangeiros do regime comunista a partir de 1951.
Com investimento estimado
de US$ 50 milhões (quase R$
82 milhões), o Legation Quarter fica a um quarteirão da praça da Paz Celestial, o coração
da capital chinesa, área mais
freqüentada por militares e turistas do interior do que pelos
yuppies chineses.
Com 16 mil m2, o conjunto de
cinco prédios neoclássicos, que
ganharam dois anexos -todos
em vidro-, abriga restaurantes
pilotados por chefs estrelados
no Guia Michelin, como o francês Daniel Boulud e o italiano
Claudio Sadler. Até o próximo
mês, serão abertos um restaurante japonês, um bar de jazz e
um restaurante espanhol.
"A idéia é que as pessoas venham beber, jantar e ouvir jazz,
cercados de arte contemporânea", diz a gerente do Legation
Quarter, Sophie Xia. "A cultura
aqui é fundamental."
Bem, como os chineses ricos
não vivem sem fazer compras,
o Legation Quarter também
tem uma filial da joalheria suíça Patek Phillipe. A China já é
responsável por 12% do mercado de alto luxo do mundo, o segundo país na gastança com
grifes caras, depois do Japão.
Os viciados em grifes -originais, não piratas- desfilam em
bares como The Beach, no alto
do complexo de entretenimento chamado Block 8, onde dançarinas russas tomam banho
em chuveiros, cercadas por
guarda-sóis e areia.
Ou na boate Richy, onde telões de alta definição emolduram as go-go girls locais, chinesas que dançam com minissaias exíguas e calcinhas prateadas. A trilha sonora pode
misturar Gipsy Kings, Abba,
Shakira a pop chinês. Tudo é
novidade, até a trilha sonora.
"Esses lugares luxuosos visam os estrangeiros e os chineses mais ricos, mas seu futuro
depende dos locais", diz Jim
Boyce, colunista canadense
que tem um dos blogs mais populares sobre a noite pequinesa, o "BeijingBoyce".
"Os pequineses são práticos,
dão importância aos preços e
têm dificuldades para pagar
por um caríssimo prato em um
restaurante francês quando já
possuem uma cozinha incrível
e a bom preço, a chinesa", afirma o blogueiro.
No luxuoso Lan, uma coca-cola pode custar 50 yuans (R$
12) e, por uma cerveja, paga-se
o equivalente a R$ 15. No restaurante italiano Sadler, um
prato de ravióli vale o equivalente a R$ 35 -os pratos mais
caros podem chegar a R$ 80.
Mas as discotecas pequinesas mais exclusivas cobram, no
máximo, R$ 40 de entrada. Na
badalada Richy, em plena temporada olímpica, a entrada custa o equivalente a R$ 15.
Apesar da inflação de templos luxuosos, a vida noturna
de Pequim ainda é mais barata
do que a de São Paulo.
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